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Terras Estranhas

Lá vai a garota, com venda em seus olhos, ouvindo outra vez o que ela já cansou de brigar. Já pensou por meses, está decidida. Esta semana, o mar ela ainda vai cruzar. Há um destino distante que ela precisa experimentar, pois aqui ela já gastou tudo, não tem mais seu espaço, precisa aprender a voar. 

Lá vai ela, com suas inseguranças, tentar correr contra o tempo que perdera, para ganhar em menos tempo o que ela não ganhou porque precisava conquistar certa experiência. Ela tem sede, ela tem desejos, ela tem esperanças num futuro incerto. Ela vai para um lugar que desconhece, mesmo com seus medos. Eu só acho que lhe faltou um tapa-ouvidos, para lhe acalmar os nervos. 

Lá em cima, uma aventura. Seus sentimentos em conflito, não a deixam dormir. Tenta se distrair com as nuvens, mas elas passam monótonas por sua janela. Enquanto tenta ver um filme, a moça de uniforme lhe pergunta o que do cardápio ela vai querer. Ela escolhe, mesmo sem fome. A única fome que ela tem é a resposta para sua pergunta: “como vai ser?”. 

Terras estranhas, pessoas desconhecidas. Arrumar um lugar para ficar numa cidade em que ousou pisar pela primeira vez. Seu corpo ali está, mas seu coração ficou lá, a milhares de quilômetros. Há quem lhe quer ver crescer, mas que tem tantas inseguranças quanto ela – e talvez isso eles não consigam fazer transparecer. Precisa de um emprego, precisa de sustento, precisa encontrar sossego. Ela é a estranha de um país que escolheu viver. 

E depois de um tempo, ela refaz a rotina. Acorda cedo, coloca sua melhor roupa, penteia seus cabelos. Chega bem no serviço, arruma as mesas, lava o banheiro. Coloca a comida para assar, prepara tudo para a freguesia. Os clientes chegam e ela serve a mesa, equilibrando tudo na bandeja. Recebe uns trocados e volta para conferir a conta. Só tem tempo para sair com as amigas no fim de semana, mas para a família de longe, manda mensagens todos os dias. Não é o ideal esperado, mas já é o melhor que se previa. 

Tão tarde ela chega, ainda tem que fazer seu jantar. A casa está uma zona, mas ela está cansada demais. Toma seu banho, seca os cabelos, se olha no espelho, fecha seus olhos e escuta tudo o que já lhe disseram. Sua insegurança bate, seu estômago ronca e ela pensa mais uma vez em desistir. Mas, ela se lembra de seu filho dormindo e isso a determina a seguir. Seu filho dorme tranquilo, em outro país e ela não pode pensar em desistir. 

Ei, psiu, fique bem. Tem uma turma entre nós de todo lugar que vai te apoiar. Erguemos nossos braços, firmes, pra você sentir o amor que temos pra te dar. Você está no caminho certo, não nego, mesmo que por espinhos sua pele se arranhe. É árduo, mas continue a percorrê-lo. Não é qualquer um que faria o mesmo. 

E se me permite terminar dizer, há uma criança bem linda com orgulho em ter você. É para o bem dela que você tem feito tudo isso acontecer. Há um espaço aí a ser preenchido, logo irá acontecer. Num dia, quando menos se espera, vocês irão se ver.

Esta eu não sei dançar

Corro pela cidade, passando por cada lar. Cada qual em sua própria bolha, fechados, não posso entrar. Há um mistério que nos ronda quando o brasão da confiança surge no ar. Quais dos meus milhões de segredos eu escolho pra poder contar? 

Ao longe, vejo um grupo de pessoas se posicionando sob a luz do luar. Sob as estrelas, o céu escuro observa que uma pequena roda começa a se formar. Há uma praça, levemente iluminada, por alguns postes pichados, circundando uma fonte d’água que, há anos, não deixa nenhuma criança se molhar. Talvez ela só não esteja tão seca quanto a minha vontade de entrar naquela roda e participar. 

Na roda eu não me encaixo, na roda eu não quero entrar, porque essa roda só roda no ritmo em que eles querem dançar. E essa dança é triste. Ela é preta, branca e, às vezes, uma cor pra enfeitar. Mas eu não tenho uma só cor, pois todas elas são bem-vindas. Eis o meu jeito de dançar.  

Aos poucos, me afasto. Um ou outro me para. Querem conversar. Eu não sei o que você quer de mim, se todos os meus atos têm um conselho seu. Parece que alguém te ensinou que todos os meus passos estão errados e que você é o mentor que vai me tirar do buraco. Mas, não me engano, eu também sei. Tenho uns anos bem vividos e, por alguns castigos, também passei. A experiência me faz ser o ser que a experiência do seu ser não consegue ver. 

Sou eu o errado por não querer ter nenhum de vocês ao meu lado? Essa vibe de querer me fazer dançar apenas o que eles querem dançar não está em nenhum dos meus contratos. Deixe-me criar minha própria dança, deixe-me ser feliz com minhas próprias escolhas. O seu conselho pode até ser bom em algum momento, mas se você me força, se eu não quero, fica quieto. Cada um em seu caminho, tão simples! Não precisa insistir. 

Há uma teoria. Um pouco falha, mas que tenho prestado atenção. Aquele que te aconselha, que tudo crê que em sua vida é um aprendizado, só te fala o que lhe convém. E, quando é hora de ouvir, te ignora, te refuta ou se justifica, pois, em suas palavras, não há agrado. 

É. Aquela roda é bonita de se ver. De longe. Aquela roda tem sua própria luz. Mas, agora, sigo o meu caminho, do meu jeitinho. O que eu crio é mais bonito pra mim, claro, pois só eu sei dos passos que a vida tem me ensinado. E a minha dança, mesmo incompleta, é o meu legado. 

Créditos:
Photo by Sora Sagano on Unsplash

Primeira vez no hostel

“Entre tantas cidades, cheguei a dormir em 3 hostels (é esse o plural de hostel?) que são aqueles albergues em que você aluga uma cama apenas num quarto onde dormem muitos desconhecidos, o que me proporcionou essas amizades. Sim, pra quem gosta de sua privacidade ou de manter sua intimidade intacta, sugiro que evite a ocasião, mas pra mim valeu a pena.”

Texto retirado deste post (clique)

Há alguns dias, postei sobre como era mochilar e comentei sobre se hospedar em hostel, com pessoas desconhecidas, porém de forma bem genérica, como o trecho acima. Hoje, comentar um pouco da experiência.

Sim, a ideia assusta um pouco. Saber que é preciso dividir seu sono, um quarto, o banheiro e talvez até certas intimidades como trocar de roupa com outros estranhos, pode dar um certo frio na espinha, mas quando você nota que é muito mais construir novas amizades, você percebe que sua experiência naquele lugar valeu a pena.

Você é do tipo social ou que prefere se isolar?

Sim, as pessoas tentarão conversar com você, tentarão descobrir sobre você, tentarão entender quem é você. Como disse antes, se você almeja privacidade, apenas descansar e obter um pouco de sossego, pegue um hotel, pois isso não é pra você. As pessoas que se hospedam tem como principal intuito conhecer novas pessoas. Não, não é nenhum tinder da vida real, é só querer conhecer pessoas de todos os lugares e adquirir novas amizades e novas culturas.

Eu estava um pouco preocupado com isso, de novas pessoas. No meu primeiro hostel, cheguei a noite e tinha uma galerinha sentada na recepção comendo algo e jogando baralho. Após fazer check-in, deixar minha mala guardada e tomar um banho, desci, perguntei onde poderia comer e todos eles foram muito simpáticos comigo. Naquela situação, eu era estranho, pois todos já estavam há alguns dias ali e já haviam feito amizades.

Após voltar do jantar, eu tinha duas opções: ou me socializava com eles ou ficava isolado em meu quarto fazendo vários nadas. Optei pela primeira, peguei humildemente uma cadeira ali e coloquei ao lado de uma das mesas. Fiquei apenas observando, mas logo o assunto foi fluindo, com perguntas sobre mim e eles falando sobre eles. Com o tempo, fui ganhando confiança e aquele ambiente começava a ficar agradável. Tudo ali ganhando vida naturalmente.

O mesmo quarto, outra cama

Por mais que pareça estranho se deitar numa cama com outras camas ao lado, nem sempre as pessoas estão interessadas em ver se você dorme com o pijama do Rei Leão ou apenas de uma bermudinha curta. Todos ali estão mais preocupados em arrumar suas coisas e em recuperar seus sonos. Os hostels que eu me hospedei, todos tinham um lugar para a bagagem, mas é preciso levar um cadeado com chave para garantir a segurança de seus objetos, pois a maioria oferece esse serviço apenas mediante pagamento. Mas, mesmo que muitos ali não estejam interessados em se apossar de seus objetos, segurança nunca é demais. Pensa só. Já imaginou se você perde uma calça e sua primeira reação é que alguém a pegou? Pode trazer confusão na certa.

Em um hostel, dividi o quarto com mais dois caras. Em outro, esse número dobrou. É preciso tomar cuidado com os barulhos que você faz a noite. Se você chegou tarde e já tem gente dormindo, evite o máximo de ruído possível. Não abra a porta com escândalo, não fale ao celular, ande com cuidado, tente não incomodar ninguém. Use a lanterna do celular para não ter que ligar a luz principal. Evite tudo aquilo que você sabe que não é legal quando tem gente dormindo.

Nos quartos, apenas duas coisas mais me incomodaram: os roncos (e era uma sinfonia boa) e a falta de iluminação natural (sol), que é geralmente o que uso para dormir. Mas, de modo geral, todos ali respeitaram o meu espaço.

Dividir um banheiro

Se você já se incomoda em dividir um banheiro na sua casa com sua família, aí vai mais uma: o banheiro aqui é dividido.

Eu já estive em um hostel em que só havia um banheiro pra todos os homens do hostel. Esse foi o menos legal, até porque você não pode ficar enrolando lá dentro (seja banho, trocar de roupa, fazer as necessidades, se aprontar), mas por incrível que pareça, esse banheiro era bem arrumado e bem limpo. Caso isso não esteja acontecendo, você pode comunicar com a staff do local.

Também já estive num em que era um banheiro no quarto (6 pessoas) e, se estivesse ocupado, você poderia utilizar outros do hostel. Como a maioria dos hóspedes saía para curtir um pouco do turismo, então era natural encontrarmos aquele banheiro sempre desocupado.

Também há banheiros em que são como vestiários de clube. Quem já tomou banho ou trocou de roupa nesses lugares, sabe como a intimidade com os estranhos caem. Você pode se deparar com alguém nu a qualquer momento, ou com alguém fazendo suas necessidades no box ao seu lado, mas aí já nem é questão mais de ser um hostel, pois se você enfrenta lugares que possuem vestiário, pode estar acostumados a essa situação.

Amizades

Eu abri mão de vários pontos para chegar ao mais importante: a amizade. Citando apenas um caso, quando estive no primeiro hostel em que me hospedei, acabei fazendo amizade com dois caras (apenas um deles dividia o quarto comigo), além de fazer amizade com a staff do hostel. Mas dou maior importância aos dois.

Era a união de um paulista, um gaúcho e um mineiro. Nossa amizade não se prendeu apenas ao local, mas a toda a cidade. De manhã, após o café-da-manhã (algo que, normalmente, hostels não oferecem), o paulista oferecia seu carro e nos levava às praias da cidade. Lá, curtíamos aquelas belas paisagens, tomávamos banho de areia e de mar e de quebra pegávamos uma cor. Íamos até quadras de areia jogar uma bolinha ou passeávamos pela orla, comprando churros e fazendo amizade com a vendedora. Registrávamos tudo aquilo com a câmera do mineiro. E, no fim do dia, dividíamos nossa grana para comprar comida para o jantar feito pelo gaúcho. Tudo isso, enquanto dividíamos experiências, sensações e histórias das nossas vidas.

Faria tudo de novo?

E mais um pouco. Não está escrito o que a gente ganha, não está escrito o que trazemos para casa. Temos receios do que vamos encontrar (e foi assim que cheguei lá) mas no fim, não queremos ir embora para casa. É rico e faz um bem danado viver diferente do que estamos acostumados a viver.

Image by gery moser from Pixabay

Naquele café

Frente a meu espelho, um sentimento estranho me bate. Um filme antigo se passa de leve em minha cabeça. Não, não parece que tudo se esqueceu. Ainda tenho vagas lembranças. Foi uma breve história, porém intensa e romântica. Hoje, apenas uma brisa amena que não mais me incomoda. 

Hoje, começo uma nova história. Não é estranho que, mesmo sendo a mesma pessoa, nem todos gostam de você? Lembro que era assim. Esse meu jeito simples não agradava aquela velha história que acabara de contar. Agora não. Sou o mesmo para outro alguém que vê com bons olhos quem vejo agora em meu espelho. 

Sabe essa música que está tocando? Ela toca em meu coração. Você a entende? E se eu te dissesse que nem sempre foi assim? Quando antes, em outro relacionamento, era comum eu ouvir coisas tolas sobre ela. Será que era tão difícil de entender o que sinto? Será que era tão difícil de entender que algo sinto? 

Combinamos de ir a um café para conversar. Imagino que você chegaria atrasado, mas não. Você me espera com um belo sorriso e se põe de pé ao me ver cruzar aquela porta. Sento-me ao seu lado e sou contagiado com essa sua alegria. Parece tão bobo, mas não sabe como me faz bem um pequeno gesto desse. Era a primeira vez que eu passava por momentos assim, tão belos. Tão singelos gestos que poderiam melhorar todo um dia. E eu não sei se você pode percebê-lo. 

Você me fala sobre sua família, sobre seu cachorro, sobre seus sobrinhos. Você me conta um pouco sobre sua vida e se interessa em descobrir a minha. Rimos por tantas coisas sem importância e isso me faz tão bem. 

E eu sei que pareço um pouco tímido, mas aquela situação é nova para mim. Ter alguém que possa se importar com algo que achava ser tão banal, pois me habituei a isso. Era assim no meu antigo relacionamento. Nada do que eu dizia parecia importante. Era um gesto egoísta, que só pude entender agora. Acreditava ser algo tão comum. Eu me perguntava: “Que droga! Por que relacionamentos são tão chatos e egocêntricos?” 

Mas você me mostrou que havia flores nesse jardim tão mal cuidado. Vi um pequeno botão se transformar num lindo girassol de esperança. Você se importa com o que eu dizia, você se importa com minhas aflições, você se importa em me ver sorrir. 

E nossos momentos me fazem tão bem que não quero que terminem tão rápido. Você me acompanha até o carro para que tudo se prolongue por alguns minutos. Você demora a se despedir. Quando nossos olhares se desencontram, vem-me, como um furacão, aquele sentimento de parar tudo e correr a seus braços e lhe abraçar para recuperar todo aquele tempo que perdi. Agora eu posso dizer, com toda a sinceridade, que aquele tempo ruim passou. 

Acreditei durante aquele tempo que a única coisa que o amor fazia era partir, queimar e acabar com nossos corações. Mas, foi depois que te encontrei naquele café, que vi que eu poderia recomeçar.

Créditos

Música de inspiração: Begin Again (Taylor Swift)

Imagem de destaque: Designed by ArthurHidden / Freepik

Preciso Respirar

O dia corre aos meus olhos e eu não consigo acompanhar
Mal pisco os olhos e já sobe o luar.
Suspiro assustado, tudo tão depressa,
Todos os dias a péssima sensação
Que não faço nada enquanto a vida está a passar.

Dormir parece tão inútil,
Mas o corpo já não tem energia para tudo realizar
A mente e alma almejam, almejam e almejam
Tanta tarefa procrastinada que me ponho em dúvidas
De onde começar.

Toda segunda já penso: vou começar a me exercitar
Chega a terça, uma matéria nova para estudar
Na quarta, um evento do serviço para participar
Quinta, então, minha dieta já era! Sem forças para continuar
Sexta, dia de sair, mas ficou tanta coisa acumulada da semana
Que fico entre curtir e por as coisas em seu devido lugar.

Aí chega o fim de semana. Muito pra fazer,
Mas nada que vou executar
E aí uma semana a menos,
Eu não sei onde isso vai parar…

E o tempo vai passando
E não me deixa em paz
Vou vendo os dias passando, e eu, confuso,
Não sei qual direção devo tomar.

É tanta coisa, tanta tarefa, 24 horas num dia, sério?
É muito pouco!
E o que fica é que não faço nada
E que não tenho tempo de apreciar mais nada
Sejam coisas grandes
Ou pequenas coisas da vida
Mundo, por favor, pare de girar.

E fica, fica…
O tempo passa
Minha alma fica
Um segundo, por favor
Preciso respirar

Fique de olho na bola

  • Claro que eu vou ficar de olho na bola, estou focado na bola!
  • Eu acho melhor você não ficar tão focado assim na bola?
  • Como não? O que mais poderia acontecer nesse campo? Um jumento me atropelar?

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Segurando suas mãos

Pequeno fio traçado numa folha em que se rascunhou tantos futuros. Frágil contra uma borracha, capaz de transformar tudo num borrão. Destino tão incerto como o curso de uma estrela cadente. Parece certo seu percurso unidirecional. Seria lindo se nenhum planeta entrasse em órbita naquele momento.

E nossa estrela cruzou pelo céu. Fizemos um pedido. Em seis meses, minhas mãos, vestidas de um azul escuro formal segurariam as suas em um vestido tão branco que jamais pude imaginar. Dia tão aguardando, com tantos olhos a nos acompanhar, um vinho, um bolo, um violino e flores pra tudo que é lugar.

Seu sorriso seria a última coisa que eu teria antes de selarmos nossas vidas com um beijo, suave, alegre, apaixonado. Seu perfume se encontraria com o meu e se faria presente por toda a eternidade. Eu teria o prazer de ver você e mais três outras pequenas criaturas feitas à semelhança de um casal feito sob medida ao outro.

Mas aquela estrela nunca chegou ao seu destino final e nosso pedido nunca foi ouvido. Estou segurando sua mão, mas não no contexto em que havia lhe prometido. Vejo as mesmas flores espalhadas, os mesmos olhares ali no recinto, mas não bolo nem vinho. Seus olhos estão fechados, não há perfumes, nem seus lábios estão sorrindo. Meu rosto está banhado por lágrimas. Onde tudo isso foi escrito?

Eu poderia viver por um milhão de ano e por um milhão de anos eu seguirei te amando. Sei que algo não nos queria juntos, mas, que raios, pela primeira vez, eu não queria seguir essa regra tão idiota. Queria eu borrar com uma borracha bem grande o que o lápis do destino escreveu por cima de nosso borrão.

Não, não era pra ter sido assim. Não houve um fim para nossa história, não foi esse final que pedi. Reescrevam essa história, anunciem outra temporada, eu quero, eu preciso, eu desejo você de volta para mim. Que seja aqui ou em outro plano, nossa história não termina assim.

A vida é um drink, o amor, uma droga

Oh, Anjo! Leia minha mente lotada de preces. Eu preciso de você, pois me sinto tão pesado. Esta correnteza me leva tão depressa e o fôlego parece tão distante de meu alcance.

Olho pra cima em direção a um céu claro, porém turvo. As pálpebras pesam e minha cabeça se descontrola. Parece que estou levemente mais quebrado que ontem ou serão as dores de minhas costas arranhadas? Não há como me livrar disso.

A vida é uma bebida, mas o amor é uma droga. Ele nos joga em mundo perfeito e relaxante. Nossas defesas se abaixam e nos entregamos. E nos deitamos. Sentindo a calma de um tapete de veludo, em que podemos nos esfregar como se fosse a melhor sensação do mundo. E o amor nos deixa ali, por um breve instante.

Oh, Anjo! Você já me levantou outras vezes, mas estou novamente nadando contra essa correnteza em vão. O amor me jogou de novo e eu não estou gostando disso. Mesmo acostumado, essa droga em demasia não é meu desejo. Faça-o parar antes que me leve daqui. Quero dizer adeus a esse vício, que me consome e bebe um pouco por dia de minha alegria, rasgando-me aos poucos até meu gélido descarte. E depois procura sua próxima vítima – quando esta não sou eu novamente.

E ele nem se importa com o estrago que faz.

Agora só preciso de um pouco mais dessa dose, mas não tenho ânimo de tomá-la. Tome um drink por mim e tente me fazer voar com outras asas, aquelas já estão velhas. Eu não sei nadar, então me ensine a voar pra bem longe e seguir para qualquer outro rumo melhor, antes que o sangue verde em minhas veias escape pelos meus dedos. A vida é um drink, mas o amor é uma droga. O vício não é uma escolha.

O otimista ou o pessimista?

Quem é você?

O otimista


Tem consciência de sua origem divina, aceita a vida com gratidão e se identifica com tudo o que é bom, belo, justo, nobre, harmonioso.

O otimista tem uma personalidade atraente; é ativo, afetuoso, cordial, alegre, produtivo; tem espírito fraterno, coração generoso; é inabalável, caráter nobre.

O entusiasmo é uma constante na vida do otimista. Ele está sempre desenvolvendo suas qualidades e aptidões: deixa rastros de luz e bons exemplos por onde passa; é amigo da ordem e do progresso; vê no trabalho uma demonstração de afeto e o melhor caminho para suas realizações.

O pessimista

Ignora sua filiação com o Criador e desconhece que, em seu íntimo, há um potencial ilimitado de forças que podem ser usadas livremente em seu benefício e no de terceiros.

O pessimista inverte os valores que Deus lhe dá. Por isso, toma atitudes negativas, enxergando tudo como um mal. Está sempre prevendo dores e pesares; é apático, indolente, indeciso, triste, improdutivo; tem inveja de quem prospera e de quem contribui para o progresso.

Enquanto ele não desperta para a Grande Realidade, fica à margem da estrada, sem usufruir as alegrias da vida.

 

Autor: R. Stanganelli
Livro: A essência do Otimismo – A arte de viver

Insônia e meus pensamentos

Sabe quando precisamos de um abraço? Ou até mesmo um aperto de mãos e um tapinha nas costas? Sabe quando só queremos alguém do lado, mesmo que em silêncio, só pra não nos sentirmos só?

Estou eu aqui, mais uma noite sem dormir, sentado em minha poltrona, com muita coisa na cabeça. Não há nada para fazer, a não ser me deitar e rolar umas boas horas na cama. Não está frio, não há fome, é apenas mais um dia que se passou.

Enquanto a lua brilha lá fora, aqui dentro há pensamentos do que a vida poderia ter sido. Mais um dia se passou e estou sem saber o que vale a pena. Estou confuso. A vida não tem me dado mais nenhuma recompensa.

Pode até ser um pouco de egoísmo querer que alguém tente me entender por um instante ou pedir que alguém passe mais tempo comigo, mas será que só eu quem deveria me preocupar com os outros? O que tanto eu tenho diferente que ninguém vem se importar, de fato, comigo?

Também ouço muito que, para se conseguir tantas coisas, é preciso correr atrás. Até onde isso vai? Será que não se deve ter um dia de descanso onde alguma coisa possa vir tão fácil para mim? A vida é uma luta diária, não nos permitindo descansos? Por que tenho que regar todos os dias as minhas plantas? Será que não há chuvas que durem mais que uma semana?

Sim, temos que ser fortes, temos que estarmos motivados, mas às vezes estamos cansados e o que precisamos é apenas de nos repousarmos em um abraço. Há um mundo cruel lá fora, mas o que eu queria era apenas viver em paz no meu canto, mas eu faço parte deste mundo, então, talvez eu deva ser cruel também. Ou, talvez, devesse apenas continuar abraçado à minha solidão.

Eu tento correr, mas para onde vou? Tento chorar, mas minhas lágrimas se trancam em minha garganta. Tento escrever, mas nem sei se sou bem interpretado. Tento mudar minha rotina, mas ela se transforma numa nova rotina. Tento cantar minhas músicas, mas apenas eu as ouço. Até tento gritar, mas minha voz se perde na multidão. E eu me torno apenas mais um garoto fazendo drama em uma tela azul.

Aí eu me questiono: Será que o problema sou eu? Será que não sou legal o bastante para quererem minha companhia por tanto tempo? Será que nenhuma alma se solidariza em compartilhar comigo experiências que me façam bem? Afinal, o que há de errado? Tantas perguntas que me faço, tantas hipóteses que formulo, mas nenhuma resposta concreta. E só me resta seguir sem saber como.

Eu sei, eu precisava desabafar. Era isso ou mais uma noite de insônia. Agora vou me deitar novamente e tentar dormir um pouco. Não vai ser fácil, mas eu consigo. Respirar e relaxar.

Queria eu que fosse esse só mais um personagem, mas, na verdade, sou eu, vendo a vida passar.

Que seja bom pra nós

Algo vem me despertar de um sonho bom que tive contigo. Olho para minha cama gigante e passo a mão num lençol frio e amarrotado. Meus olhos vão se abrindo lentamente à sua procura. Ao vencer a preguiça, finalmente, olho para o lado e me encontro sozinho, com os pés gelados. O cobertor está jogado no chão e lá fora chove. Levanto-me, vou à janela e vejo as gotas de orvalho escorregar pela vidraça. Ponho a mão e meu rosto contra aquela parede transparente que me separa do exterior de minha habitação. Minha mente viaja por um instante. Não, eu não devo partir.

Talvez fosse esta mais uma história de solidão, mas meu olfato sente o doce odor de um café sendo preparado. Meu sorriso se reflete naquela janela e o calor abraça meu corpo. Ouço gavetas se abrindo e talheres tilintando ao longe. Saio do quarto e fico ali, à espreita, observando quem abraçou minha solidão. Sorrio novamente, e, dessa vez, a imagem de alguém sorrindo reflete em meu coração. O mesmo sorriso que me despertou de uma lágrima, vestido com tão poucos trajes, preparando aquela bebida escura e amarga.

Devagar, me aproximo. Envolvendo aquele corpo num abraço, enquanto beijo sua nuca. Recebo novamente seu sorriso enquanto uma torrada nos é preparada. O silêncio não foi quebrado. O que nem era preciso, pois nossas almas se conectavam ali e um sabia o que no outro faltava.

E eu fiquei ali, sentindo seu cheiro, me perdendo em meus pensamentos, quando ainda éramos isolados pelo mundo. Você ali, sob o sol escaldante, o rosto sujo e o corpo suado e marcado pelas mentiras de quem um dia prometeu ser. Suas asas caídas e feridas não te permitiam mais voar.

Eu, em minha bondade, sentei-me ao seu lado e lhe disse algumas palavras. Alguma luz em mim me fez tocar seu coração. E você apenas me ouviu, com sua paciência. Eu nem sabia porque estava dizendo aquilo, mas sabia que era algo que você precisava ouvir. Pela primeira vez, você entendeu que sua asa quebrada não era sua culpa. E seu coração, tão quieto, me agradeceu.

Mas antes que seus lábios pudessem se mover, eu já estava de pé, caminhando para longe. Você, com o dom que alguém jamais teve, me viu de mãos dadas com minha solidão.

E você não me deixou partir.

Levantando-se em sua paz renovada, seguiu-me, cuidando de mim por alguns instantes. Quando me dei conta, estávamos frente ao outro, trocando um olhar sereno. E, no meio da multidão, naquela avenida barulhenta e lotada por pessoas sem cor, se fez nosso primeiro abraço. O que era breve, nos pareceu eterno.

Tomamos um café, trocamos nossos telefone, jantamos juntos. Dançamos muito naquela noite. Nunca mais nos separamos. Meu pensamento retorna, mas meu corpo continua ali, parado, sentindo seu cheiro e seu sorriso.

Vamos para a mesa de café e nos sentamos. “Como foi seu dia?” quebra nosso gelo. A conversa era animada e a refeição estava deliciosa. Nossas mãos esquerdas, onde reluz um pequeno aro dourado, se encontram. Se o tempo se abrir, será um belo dia para um passeio no parque.

Algo me veio despertar naquela manhã fria de domingo. Eu estava só na minha cama gigante e amarrotada. Procurei por você e não te encontrei. Mas você estava ali, na cozinha, preparando nossa primeira refeição. Não, não mais havia solidão. O que havia era apenas o caminho que nós dois escolhemos ser.

O aceno do ciclo 26

Um vento novo bagunça meus cabelos, enquanto vejo a mesma lua com um brilho diferente. Eu já esperava por este dia, desde aquele último, no ano passado. Como todos, paro de súbito para refletir tudo o que passou. Eu posso ser o mesmo, mas meus pensamentos variaram um pouco. Tanta coisa se passou desde então.

Como tudo mudou de um ano para o outro. Primeiro, a ordem era derrubar todos os inimigos que assim fizeram comigo, depois, ter uma nova visão de tudo. Parecia que estava renascendo tudo em mim e o resultado foi uma balança assustadoramente positiva, tão diferente da primeira.

Nascer na primavera tem lá suas vantagens, pois é o tempo de renascimento. Não tenho do que reclamar, a vida me presenteou de tantas formas que fica difícil escolher apenas um momento bom. Rememorar todos aqueles que por mim cruzaram é mágico. O que aprendi não está escrito. É uma pena que tantos outros desembarcaram. Na esperança, despeço com um aceno de até breve.

Levo de tudo isso uma esperança de que sempre que queremos, algo pode melhorar. É claro, a vida nunca é fácil, mas por favor, não tente pensar muito sobre isso. O medo faz parte de todo amadurecimento.

Bem, eu continuo. Olhar pra trás e seguir sem meus velhos erros. O que é bom continua? Talvez. Talvez cometer novos erros seja bom, quem saberá se não arriscarmos? Tentar algo diferente é bom para o ego e para a alma. Não tem como adivinhar. Valerá a pena? Eu não sei.

O que eu sei é que qualquer estrela que eu queira poderá fazer parte do meu caminho. Elas sempre serão bem-vindas em minha vida. O que importa é ser feliz, sendo quem sou e sem me importar com o que vão dizer. E quer saber? Todo mundo tem o direito de ser feliz a sua maneira, não cabe a ninguém repreendê-las. Talvez, essa seja a nova ordem. Ser feliz é o que importa agora.

Los de las casas rodantes

Me desplacé por un camino dando saltos, esquivando charcos y barro para llegar a una carpa gigante que veía a la distancia de aspecto cutre e irrelevante con trailers rodantes, cercos con pinturas incolora, tela desteñidas y cutres lonas.

Al llegar a la entrada, esto se difería al contemplar rostros que, al verlos, hacían agradable y cómoda la estadía en ese lugar. Con una sonrisa fuimos recibidos- al abrir las cortinas, recordé mi niñez cuando mi mamá me llevaba al circo.

En sillas empolvadas, observé a un público menor a 20 personas, escasos niños contentos que reían al ver a los payasos. En frente del espetáculo, estaban sentados tranquilos y observadores unos niños que transmitían apoyo a sus familiares, los cuales hacían reír al resto del poco público, pues eran los hijos y sobrinos de las ocultas personas maravillosas que en ese circo se encontraban haciendo el espetáculo.

Detallé cada elemento de esa gran carpa, agujeros que desde el punto donde estaba sentado se podían ver el cielo y las estrellas, un nudo atado a mi garganta no me permitió contener mis lágrimas. Mi amiga y yo salimos de ese sítio, hablamos con la dueña del circo la cual se encontraba preparando un dulce algodón de azúcar en uno de los trailers. Mi amiga le hice unas preguntas referentes al circo. La escuché responder:

– Hoy es que medio hay personas, los otros días asisten no más a 4 ó 6 personas, la lluvia no nos ha permitido y la gente muy poco asiste al circo.

Luego escuché al hijo mayor de la señora decir:

– Lo ppoco que hacemos es para comer, vivimos en estas casas rodantes. Nunca hemos tenido una casa de bloque y cemento, pero sí tenemos un hogar a la mona también tenemos que alimentarla de nuestra comida, hacemos colas al igual que cualquier venezolano. Lamentablemente, lo que hacemos no nos alcanza para comprarle a los bachaqueros (revendedores de comida escasa).

A la distancia, vi a un niño de dos años de edad, lo llamé, lo cargué y le pedí un abrazo. Se me salió una lágrima y vi una luz perpetua que me hizo encontrar con mi niño interno. Haber asistido a ese circo y ser recibido de una grata forma ha sido una excelente forma de encontrarme una vez más con Dios, mi amigo Dios.

Conto de Luis Mendez

Não me machuca mais

Quando começamos a analisar uma situação por outra perspectiva, passamos a nos tornar mais racionais. Nossos olhos se abrem e, antes que o coração interfira, entendemos como uma relação passada teve bons e maus momentos e que durou o tempo certo. Saber que tudo tem seu fim é aceitar de forma madura que somos capazes de sentir, de nos impormos limites e de dizer, de cabeça erguida, que nem tudo foi feito para nós. E, assim, podemos seguir em frente e abraçar com afinco a nossa próxima jornada.

Olá, você se lembra de mim? Já faz algum tempo que nosso amor terminou. Claro que chorei, gritei, senti saudades e odiei seu nome. Por fim, os sentimentos se perderam. Voltei a viver. Acredito que tenha acontecido o mesmo com você.

Há algumas semanas, brincando com minhas memórias, lembrei-me de nossa história. Não, não estou pedindo um retorno, mas acho engraçado – e estranho também – de quando dizíamos que era tudo tão perfeito entre nós, quando prometíamos a eternidade ao outro, quando, com a voz manhosa, declamávamos o amor recíproco de outrora.

E aí, sem qualquer preparo, o destino rumou, distintos, nossos caminhos. O “nós” tornou-se o “eu e você”, distantes. Nossos corações não mais palpitavam em sincronia. Estranhos aos olhos do outro, partimos. Por um tempo, doeu. Depois, a solidão, apeteceu.

Embora nunca haja um porquê – ou assim o preferimos – tudo se acabou. Passamos a procurar novamente a nossa felicidade, pois ali já não mais cabia. Agora somos apenas história, de outras pessoas em outros lugares, de novos trilhos.

Eu só queria dizer a você uma última coisa. Lembrar-lhe como foi incrível estar ao seu lado. O que aprendi é algo que levarei pela vida. Eu aprendi a ouvir e respeitar você pelo tempo bom que tivemos. Os ruins se esvairão como a poeira, que não faço questão de carregar nem sob a sola dos meus sapatos.

Agora, finalmente posso partir, deixando para trás todos os meus rastros. A vida continua, independente de quem esteja comigo. A alma às vezes nos suplica que abandonemos aquilo que ela guardou tão profundamente, por isso dói tanto arrancá-lo dali. Mas, como as feridas, a alma se cicatriza e se permite pronta para a próxima. E a minha está.

Findo aqui, nesta carta, mais uma página, que o vento haverá de soprar.

Tudo Outra Vez

Queria eu ter tido só mais uma chance pra te dizer:

Eu errei, eu sei. É difícil assumir uma culpa tão forte como essa, mas não me leve a mal: eu faria tudo outra vez.

Foi errado o que fizemos, mas era algo que nós dois queríamos. E agora, o que parece é que a culpa cabe apenas à minha pessoa.

Mas eu ainda tenho minha consciência. Vi como tal atitude imatura foi prejudicial a você.

E essa ciência causou conflito em meu corpo e em meu coração. Eu chorei. Chorei, pois, enfim, fiz algo que, alguma vez, já me machucara. Como consequência, quase vi seu casamento de anos se desmanchar.

Era o que nós queríamos, não era? Estava lá, em alguma parte de nossas mentes…

Por um momento, cheguei a pensar que você repensaria sobre sua escolha. E eu esperei, na porta de sua casa até o amanhecer. Você não apareceu.

Era eu ou era ele, lembra? E você fez sua escolha. Escolha essa que me fizera partir. E eu saí de cena. Era o fim de nosso ato. Fui embora, mesmo que machucasse ainda mais nossos corações, mesmo que o meu gritasse: “Vê se volta pra casa, eu quero te ver”.

Eu preferi ir embora de sua vida, pois era meu dever cuidar de você. Eu iria te proteger à minha maneira, como um dia eu havia prometido, lembra? Eu preferi sua felicidade, mesmo que isso custasse a minha.

Sem rumo, sem direção, procurei refazer minha vida. Tá meio difícil de voltar, ainda mais sem você por aqui, mas eu preciso seguir em frente como você fez, não é mesmo?

Sim, eu faria tudo outra vez. Eu lutei por algo que acreditei que algum dia seria meu. Apostei alto e errei. Perdi o que mais temia. Perdi você. Completamente. Profundamente. Eternamente.

Queria eu ter tido só mais uma chance pra te dizer.

If the World Didn’t Suck (We Would All Fall Off)

Quando eu tinha apenas dois anos,  meu pai, segurando-me em seus braços, olhou-me nos olhos e disse: “Você é capaz de dar seus próprios passos”. Pôs-me no chão e a cena seguinte consistia em um lento caminhar de uma pequena criança numa pequena sala. Quando eu cresci, segurando minha mão, ele me disse: “Não pare até encontrar seu próprio caminho”. Soltou-me e a próxima cena era de uma pequena criança, num corpo de um adulto, caminhando por uma grande sala conhecida como mundo.

E assim minhas primeiras pegadas faziam marcas por longos trilhos percorridos com uma grande interrogação pairada sobre minha cabeça. “Afinal, o que significavam suas doces palavras?”

Com minha mochila nas costas e pouca bagagem, viajei por histórias diversas. Fiz escolhas boas e más. Em algumas estradas, podia relaxar, descansar, tomar um pouco de sol e me banhar em águas claras, sentindo o frescor do vento da colina. Em outros, espinhos, subidas íngremes, buracos, cobras. Outros, não havia nada, simplesmente.

Algumas vezes me perdi. Curvas e bifurcações me confundiam e me intimidavam.Entretanto, fiz-me amadurecer e refletir a cada novo passo. Um pequeno tijolo chamado aprendizado que aos poucos iam levantando um grande castelo chamado sabedoria.

Durante minha jornada, sentava-me à sombra fresca de meus pensamentos e escrevia uma nova poesia. Novos forasteiros se ofereciam para caminhar ao meu lado. Outros, mais pretensiosos, guiavam-me por um caminho próprio. Era minha decisão segui-los ou não. Convenciam a mim sobre o que deveria ou não fazer. Aos poucos me moldavam.

Quando me apaixonei, o amor me levou a uma bela ilha e por um tempo pude apreciar uma nova paisagem. Pomares, represas, tigres e alpinistas, deram lugar a peixes, areia, palmeiras e água salgada. Um novo sabor a ser degustado.

Foi uma breve distração que, por algum tempo, me fez crer que ali se escrevia mais um final feliz. Não era verdade. Quando me dei conta, olhei para os lados e me vi solitário naquele paradisíaco lugar. Não deveria eu ter finalmente encontrado meu caminho?

Ao regressar, um novo impasse: alguns viajantes já não estavam mais ali e algumas de minhas poesias transformaram-se em pó logo soprados pelo vento. Aquela ‘pedra no meio do caminho’, me fizera tropeçar.

Então, pude perceber algo: minha história não terminaria assim. Caminhando por novas estradas, outros viajantes me encontravam e escreviam novas poesias em meu diário. Então, pela primeira vez, senti a liberdade tomar conta de mim. Eu mesmo era capaz de guiar outros tantos viajantes e escutar tão semelhantes histórias vividas.

Por tanto tempo, não percebi que aquele já era meu caminho. Não importava o quanto havia vivido, sempre outros trilhos surgiam e as más escolhas por vezes se repetiam, tais quais as boas, impedientes de desmotivação. Nestas, encontravam-se meu apoio.

Pare um pouco e me ouça com atenção. Se sua mente não tiver ciência de que estamos num ciclo em que apenas alguns personagens e meras características são capaz de sofrer suas generosas alterações, talvez você não compreenda que, enquanto aprendemos a dar nossos passos, já somos escritores de nossos livros, sem direito a apagadores ou borrachas. Somos o que somos para valer, não meros expectadores.

Por isso, é hora de fazer valer. Tenha os pés no chão. Tudo bem se a mente flutuar de vez em quando, é normal, mas lembre-se: você é o personagem principal. Não é hora de se caracterizar tal papel com tamanho afinco?

Ao finalmente retornar a meu lar, coloquei minha mochila sobre minha cama e a esvaziei, admirando cada item retirado. Encontrei poesias, canções, sonhos, odores, sabores, marcas, sujeira, lágrimas, sorrisos, olhares, lembranças, flores, roupas, brigas, amizades, amores, mistérios, verdades, mentiras, sins, nãos, talvez. Encontrei enredo. Encontrei desfecho.

Quando eu tinha apenas dois anos,  meu pai, segurando-me em seus braços, olhou-me nos olhos e disse: “Você é capaz de dar seus próprios passos”.

https://www.youtube.com/watch?v=J9ab1a0mtpg

Tempo que vale a pena

Um dia, um grande sábio me contou um segredo sobre o tempo: “Ele não volta”. Parece meio óbvio, não é? Apenas em teoria. 

Pare tudo o que estiver fazendo e pense por um instante. O tempo é um diamante precioso, você precisa saber usá-lo bem. Não deve desperdiçá-lo. Certo? Então, por que perdemos tempo, o tempo todo? 

Veja, por exemplo, num relacionamento de seis anos que se findou há pouco. Num belo dia, você está com alguém e lhe proporciona momentos inesquecíveis. Não tem o mesmo retorno. O que você faz? Releva, certo? Pois é. Acreditando ser um relacionamento eterno, você se despreocupa de coisas pequenas para fazê-lo durar. 

E o que é essa coisa tão pequena? O tempo. Sim! Chegamos ao ponto: o tempo é o que mais se desperdiça. 

Quando o relacionamento, antes perfeito, se acaba, qual a primeira coisa que você pensa? “Poxa, fiz tudo por ela e ela não zelou de mim por um momento. Perdi meu tempo!”. O que você fez? Sim! Apagou todas as boas lembranças por conta de um término ou pela razão dele. 

Você pensa que botou toda a confiança em uma pessoa e, com uma simples má ação, esse sentimento se vai por água abaixo. A culpa cria uma crosta por sua pele, sujando-o e fazendo você sentir nojo de si mesmo. “Foi perda de tempo esse tempo em que estivemos juntos”. 

E como agimos depois disso? Como nos confortamos por termos perdido tão valioso tempo quando poderíamos ter feito outras coisas? Perdemos mais tempo. Como? Trazendo de volta pela janela tudo o que havíamos jogado fora. Lembranças ruins vem à tona e sentimentos amargos tornam a nos visitar. E por quê? Vale a pena perder mais tempo com quem já perdemos tanto? 

Não pense apenas pelo lado de relacionamentos amorosos, mas nas amizades, nos trabalhos que você teve que pouco lhe valeram. Pense naquele curso que você não gostava e fez só para agradar a alguém. Liste tudo que foi ruim em sua vida, mas liste-as e as jogue fora. Pare de perder tempo com todas elas. Você já não perdeu o suficiente? 

Ponha sua confiança no que quiser. Arrependa-se, brigue, xingue, esbraveje. Faça um espetáculo com seus sentimentos, seja você mesmo, sim! E perca mais tempo. Mas, se for agir de tal modo, tire um aprendizado para sua vida. 

Fazemos várias escolhas ruins, jogamos muito tempo no lixo. Como não podemos recuperá-lo, tire disso uma experiência para que menos tempo seja desperdiçado. A vida é uma só, portanto, trate-a com carinho. 

Perca seu tempo, mas troque-o por experiência e faça valer a pena. 

Bliss

Admiração em teu jeito de ser. Fascinante, livre, sadia, segura, confiante.

Como não almejar tais qualidades e ser como és? Parece-me tão artificial.

Nada a ti é superficial. Vejo teu rosto cheio de brilho, tão cheio de teu ser, tão vívido, tão fúlgido. Similar ao divino em terras perdidas, livre em uma grande ilha. Toca o céu com seus olhos azuis, mais brilhantes que o gigante azul de paladar salgado.

Tua felicidade não se finda. Tua paz exala por quilômetros de raios. Todos querem ser como a ti. Todos querem essa paz.

Ser tão bondoso que conhece apenas a paz, a alegria, a esperança. Busca nos viventes o mais oculto dom de bondade. Sabes que todos são capazes de uma vida calma e generosa. Sabes que a capacidade pertence a cada corpo, mesmo que lhe pareçam tão intangível. Sabes que todos são belos aos olhos de quem vê.

Brigas? Invejas? Não há dia ruim. Se há fúria no coração de outrem, rebate com uma tranquilo tom vocal, paciente e doce. Teus vocábulos proferidos como um canto em que desejo adormecer nesta paz sonora. E continuar a viver como um sonho. Um sonho que produziste em meu ser. Uma paz. Uma natureza de belos pássaros cantando sobre mim.

Raiva? Próximo a ti é apenas sentimento fantasioso, em livros de vilões existentes apenas em nossa imaginação. Tua alma não consegue odiar nem o mais bruto dos seres. Encontras a paz no espírito de cada. Dialogas, ouves, atribuis a cada problema uma solução. Convertes a maldade em luz, as trevas em compaixão, a solidão em solidariedade.

Admiro. Desejo ser como és. Não por inveja, mas para encontrar meu melhor ser. Ser melhor é o que pretendo ser. E reconfortar pobres almas que também já desistiram de ser luz nesse mundo de escuridão.

Indicado por: Marcelo Loriano

Jovem inconsequente

Eu pensava que tudo era muito fácil. Viver, apenas uma diversão. Jovem e imaturo. Acreditava que a vida fosse um simples jogo. Apertar um botão e recomeçar. Todos os erros iriam embora, tudo poderia ser refeito.

Então, algumas consequências começaram a surgir. Eu sentia o tapa no rosto de cada uma delas. O ardor me lembrava de todos os erros cometidos. Aquilo não era um jogo tão fácil quanto imaginava. Cada cicatriz, um aprendizado novo, uma angústia que não se curava.

Eu não conseguia lidar com toda aquela nova situação. Via meu corpo sangrando por todos os lados. Cada falso passo, um medo diferente. Cheguei a fechar meus olhos para o problema. Se eu morresse, pelo menos teria aproveitado tudo.

Então você me trouxe de volta à realidade. “Calma” era o que você me pedia. Tem sido o motivo para eu acreditar que poderia continuar vivendo. Vivendo para sempre. E eu não posso ignorar isso.

Entendi que, quando se machuca alguém, aquilo pode ficar marcado por toda a sua vida. Todavia, só havia entendido quando meu coração foi brutalmente ferido. Uma facada nas costas que atravessou todo o meu ser, perfurando meu coração. Aquilo me fez sangrar. E aquele sangue me fez repensar em tudo.

Eu era tão inocente, tão tolo. Como poderia acreditar que tudo que eu fiz era mero passatempo? Por que não pensei em todas as pessoas que cruzaram meu caminho? Desperdicei a chance de ouvir, continuar e vivenciar suas histórias. Perdi a chance de fazer parte de tantas vidas maravilhosas.

Eu deveria morrer por tudo isso, mas você sempre acreditou no meu potencial, sempre esteve ao meu lado a espera de que algum dia eu pudesse mudar. Esteve todo o tempo onde eu pudesse encontrar. Por você, valeria a pena morrer.

Eu brinquei com facas, entrei em celas de leões, vi lágrimas molharem o chão a cada palavra, a cada ato próprio. Eu ria. Era uma situação prazerosa. Eu dancei no fogo, cometi todos os pecados. Agora, estou pronto para assumir a culpa e pedir perdão.

Não ouvirei doces palavras de quem um dia eu machuquei, mas quero estar em paz comigo mesmo. Viverei para sempre, pois sei que vale a pena. Não serei lembrado como gostaria, mas lutarei para que esses dias vindouros sejam melhores.

Uma pessoa melhor eu serei. Uma vida digna terei. Para sempre viverei

Aftermath

Em teus braços encontrei o amor e o refúgio que outrora sonhara para mim.

(…)

Sujo, cansado, faminto, revestido por sangue. Finalmente em casa. Ao abrir a porta, volto a sorrir. Encontro a felicidade no sorriso de uma pessoa. Aquela que sempre me deu carinho, me deu forças e me deu abrigo, recebendo-me com gentil sorriso.

Preocupação. Tira todas aquelas vestes rasgadas e lava minha alma num banho. Veste-me com limpas roupas e me afaga em seu colo. Abraça-me forte. Chora tímida e discretamente, permanecendo forte para elevar meu espírito.

Posso não ser o heroi que mata leões ferozes, posso não ser forte para derrotar dragões de sete cabeças, posso não ser corajoso a escalar grandes montanhas, mas nada lhe importa, que escolheu dedicar-se todos os seus dias de sua vida à minha.

Choro. Sempre pedi alguém que me compreendesse, que aceitasse viver com todos os meus medos, meu temores, minha insegurança. Não sou perfeito, mas nunca precisei para ter uma pessoa tão maravilhosa ao meu lado.

Prometi a mim mesmo que sempre cuidaria dela como também sou. Não por obrigação, mas por zelo.

Só jamais estarás. De ti cuidarei. A teu lado estarei. Grandes obstáculo enfrentaremos, pois se não formos capaz de derrotá-los, nossos corações permanecerão como um. Cuidaremos bem deles.

Quero viver o resto de minha vida inteiro, pois és parte de mim, és meu alento, és aquela quem me completa, aquela a quem meu coração pertence. Agora e sempre.

Quero adormecer em teus braços, pois é onde encontro refúgio, onde me sinto seguro, onde devo estar. E estarei aqui para oferecer o meu para te proteger, para te aninhar, ou por razão alguma.

Eu posso ter perdido todas as minhas lutas. Posso ter sofrido boa parte de minha vida. Posso estar cansado de todas as mentiras. Posso estar uma bagunça. Posso querer desistir do mundo. Quando te vejo, quando vejo teu sorriso, deito-me em teus braços e me aconchego, sinto todo o vazio de meu peito se esvair. Sinto-me protegido. Sinto-me bem. Pois, és meu refúgio, és minha vida, és meu eterno ser. És quem há muito almejei ter.

Nunca estarás só, pois a ti pertenço.

https://www.youtube.com/watch?v=zFjhC0T7jXE