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Mais do que imaginava amar

Era só mais um de nossos cafés-da-manhã, acompanhado de biscoitos e uma conversa trivial em mais um sábado qualquer. Aquela padaria vivenciava outra vezes nossos olhares de cumplicidade silenciosa. Olhares que muito dizia, mas apenas a nós. Você lendo algumas notícias, enquanto tomava sua xícara de café amargo acompanhada de um pãozinho de queijo quente e recheado, e eu lá planejando nosso dia, bebendo meu chocolate quente com uma tapioquinha. 

Era uma manhã fria de sol, mas meu coração estava quentinho em sua companhia. Não há pressa pra nada, pois sabemos que cada momento é único e pode ser aproveitado de distintas maneiras, mesmo que na sua forma mais tranquila e calma, pois já não somos aqueles adolescentes, que ainda vê no amor uma novidade e que perde todo o fôlego no primeiro olhar. O coração já não soa com o mesmo ímpeto, por conta de cicatrizes vindas de momentos em que rotulávamos como amor, mas ele ainda vibra e dança em sincronia quando se apaixona por uma nova história. 

E eu estava lá por completo desde o nosso primeiro instante, abraçado por um sentimento de felicidade impossível de se medir. E toda essa felicidade, que me envolve e segura firme minha mão para seguir em frente, contém você. 

Se eu pudesse repetir todo o ano que, juntos, vivemos, eu o faria. E em todos os 365 dias que reviveríamos, de novo, eu te amaria. Não mais e não menos, pois o amor que carrego é tão grande que já não cabe em mim, transborda. Ter você, em companhia à minha vida, é saber que serei bem cuidado, com todo o carinho que você me oferta. E eu te ofereço também meu amor, carinho e companheirismo. 
 
Se hoje, mais uma vez, há nossa breve e casual despedida, levo o coração cheio. Volto tranquilo sabendo que, algum dia, esses momentos se extinguirão, pois, algum dia, não muito distante, não apenas em seu coração, serei inteiro. 

 
Eu te amo. Até mais do que imaginava amar. 

Que seja bom pra nós

Algo vem me despertar de um sonho bom que tive contigo. Olho para minha cama gigante e passo a mão num lençol frio e amarrotado. Meus olhos vão se abrindo lentamente à sua procura. Ao vencer a preguiça, finalmente, olho para o lado e me encontro sozinho, com os pés gelados. O cobertor está jogado no chão e lá fora chove. Levanto-me, vou à janela e vejo as gotas de orvalho escorregar pela vidraça. Ponho a mão e meu rosto contra aquela parede transparente que me separa do exterior de minha habitação. Minha mente viaja por um instante. Não, eu não devo partir.

Talvez fosse esta mais uma história de solidão, mas meu olfato sente o doce odor de um café sendo preparado. Meu sorriso se reflete naquela janela e o calor abraça meu corpo. Ouço gavetas se abrindo e talheres tilintando ao longe. Saio do quarto e fico ali, à espreita, observando quem abraçou minha solidão. Sorrio novamente, e, dessa vez, a imagem de alguém sorrindo reflete em meu coração. O mesmo sorriso que me despertou de uma lágrima, vestido com tão poucos trajes, preparando aquela bebida escura e amarga.

Devagar, me aproximo. Envolvendo aquele corpo num abraço, enquanto beijo sua nuca. Recebo novamente seu sorriso enquanto uma torrada nos é preparada. O silêncio não foi quebrado. O que nem era preciso, pois nossas almas se conectavam ali e um sabia o que no outro faltava.

E eu fiquei ali, sentindo seu cheiro, me perdendo em meus pensamentos, quando ainda éramos isolados pelo mundo. Você ali, sob o sol escaldante, o rosto sujo e o corpo suado e marcado pelas mentiras de quem um dia prometeu ser. Suas asas caídas e feridas não te permitiam mais voar.

Eu, em minha bondade, sentei-me ao seu lado e lhe disse algumas palavras. Alguma luz em mim me fez tocar seu coração. E você apenas me ouviu, com sua paciência. Eu nem sabia porque estava dizendo aquilo, mas sabia que era algo que você precisava ouvir. Pela primeira vez, você entendeu que sua asa quebrada não era sua culpa. E seu coração, tão quieto, me agradeceu.

Mas antes que seus lábios pudessem se mover, eu já estava de pé, caminhando para longe. Você, com o dom que alguém jamais teve, me viu de mãos dadas com minha solidão.

E você não me deixou partir.

Levantando-se em sua paz renovada, seguiu-me, cuidando de mim por alguns instantes. Quando me dei conta, estávamos frente ao outro, trocando um olhar sereno. E, no meio da multidão, naquela avenida barulhenta e lotada por pessoas sem cor, se fez nosso primeiro abraço. O que era breve, nos pareceu eterno.

Tomamos um café, trocamos nossos telefone, jantamos juntos. Dançamos muito naquela noite. Nunca mais nos separamos. Meu pensamento retorna, mas meu corpo continua ali, parado, sentindo seu cheiro e seu sorriso.

Vamos para a mesa de café e nos sentamos. “Como foi seu dia?” quebra nosso gelo. A conversa era animada e a refeição estava deliciosa. Nossas mãos esquerdas, onde reluz um pequeno aro dourado, se encontram. Se o tempo se abrir, será um belo dia para um passeio no parque.

Algo me veio despertar naquela manhã fria de domingo. Eu estava só na minha cama gigante e amarrotada. Procurei por você e não te encontrei. Mas você estava ali, na cozinha, preparando nossa primeira refeição. Não, não mais havia solidão. O que havia era apenas o caminho que nós dois escolhemos ser.

O Tímido

Sempre assim…
Tímido, quieto, bobo
Sempre na dele
Tão timidamente se esconde
De quem o quer tão bem.

Sempre a mesma história:
É pessimista, triste
E até tem um pouco de depressão.
Solidão?
Sua melhor companhia.

Enfrentar o mundo, é preciso
Mas enfrentar a si mesmo
É essencial
É seu próprio inimigo
E, na melhor das hipóteses, o seu melhor amigo.

Solitário, triste, bobo, tímido
Que seja, mas por dentro
Nós sabemos que é o dono do sorriso mais sincero
Da amizade mais confiável
Do segredo melhor guardado.

Portanto, tímido, não fique chateado!
Se parecer perdido, se o destino lhe parecer amargo.
Você sabe que sempre tem alguém
Que te quer bem
Que é tímido também
E desejaria lhe dar um abraço.