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Estrada de ferro e grama

Toca a velha trilha sonora dedilhada no violão, enquanto trilho outra vezes pelos mesmos trilhos. O peito mais forte ainda sofre por dores que se assemelham àquelas que outrora me fizeram perder o norte. O caminho, ainda mais gélido, já não é tão verde quanto o que meus castanhos olhos fotografaram na última vez em que caminhei por aqui, sem rumo.

E ele, todo surrado, cheio de marcas do tempo e com uma corda a menos, me acompanha em minha solidão. Ali, tão cheio de cicatrizes e um pouco empoeirado, olhando os passos de um par de tênis desamarrado, sobre aquela estrada de ferro abandonada, tomada pelo mato. E o trem era eu, fazendo barulho em minha própria cabeça.

A chuva e o vento me pegam de jeito. Me fazem abaixar a cabeça e cruzar os braços. O frio não me abala. Meus cabelos e minha roupa encharcada só demonstram o que carrego aqui dentro. Demorei a entender, mas, enfim, chegou o fim. O fim de uma longa e árdua jornada que eu tanto batalhei para, no fim, não dar em nada.

A música em meus fones me pede pra ser feliz e jogar minhas bad feelings para o ar. Meu rosto até esboça um sorriso, me lembrando de tudo que passei. É. A lágrima já secou, mas o peito inchado ainda me conta tudo o que eu queria esquecer. Será que vai demorar mais do que das últimas vezes em que também fui derrotado?

A velha trilha sonora já faz parte da minha vida. Na velha trilha da minha vida, caminho. E, mesmo que eu siga só, desistir é um nome forte demais pra ser mencionado.

Segurando suas mãos

Pequeno fio traçado numa folha em que se rascunhou tantos futuros. Frágil contra uma borracha, capaz de transformar tudo num borrão. Destino tão incerto como o curso de uma estrela cadente. Parece certo seu percurso unidirecional. Seria lindo se nenhum planeta entrasse em órbita naquele momento.

E nossa estrela cruzou pelo céu. Fizemos um pedido. Em seis meses, minhas mãos, vestidas de um azul escuro formal segurariam as suas em um vestido tão branco que jamais pude imaginar. Dia tão aguardando, com tantos olhos a nos acompanhar, um vinho, um bolo, um violino e flores pra tudo que é lugar.

Seu sorriso seria a última coisa que eu teria antes de selarmos nossas vidas com um beijo, suave, alegre, apaixonado. Seu perfume se encontraria com o meu e se faria presente por toda a eternidade. Eu teria o prazer de ver você e mais três outras pequenas criaturas feitas à semelhança de um casal feito sob medida ao outro.

Mas aquela estrela nunca chegou ao seu destino final e nosso pedido nunca foi ouvido. Estou segurando sua mão, mas não no contexto em que havia lhe prometido. Vejo as mesmas flores espalhadas, os mesmos olhares ali no recinto, mas não bolo nem vinho. Seus olhos estão fechados, não há perfumes, nem seus lábios estão sorrindo. Meu rosto está banhado por lágrimas. Onde tudo isso foi escrito?

Eu poderia viver por um milhão de ano e por um milhão de anos eu seguirei te amando. Sei que algo não nos queria juntos, mas, que raios, pela primeira vez, eu não queria seguir essa regra tão idiota. Queria eu borrar com uma borracha bem grande o que o lápis do destino escreveu por cima de nosso borrão.

Não, não era pra ter sido assim. Não houve um fim para nossa história, não foi esse final que pedi. Reescrevam essa história, anunciem outra temporada, eu quero, eu preciso, eu desejo você de volta para mim. Que seja aqui ou em outro plano, nossa história não termina assim.

O fim do 25º ciclo

Lá vou eu, com mais alguns tropeços da vida.

Acabou. Já avisto a margem da minha próxima etapa. Uma missão que durará mais 366 dias. Hora de por em prática todos os aprendizados, não é mesmo?

Eu diria que esse foi um ano onde me mostrei escritor. Claro, não aqueles escritores profissionais, mas um que, timidamente, pude expor. Com pequenos contos e algumas poesias, fiz aquilo que sempre quis: externar meus sentimentos através das letras.

Descobri o poder na música: aquelas que me ajudaram a erguer a cabeça por todas os pontos negativos da minha vida: perdas ali, um pouquinho de depressão e a ansiedade que atacou meu coração. Vencidas? Talvez! Mas que não me incomodam tanto quanto antes. Chego a arriscar dizer que adormecem e assim ficarão.

Sei que de alguma forma pude ajudar alguns. Sei que também pude me ajudar. Viver não é fácil, todos sabem, mas lutar é essencial. É mérito desistir? E essa dor que às vezes nos preenchem? Talvez quando ajudamos a outrem, tornamo-nos pessoas melhores e nos ajudamos.

Ok, deixe-me contar um pouco desses meus dias. Surdos e sua banda. Herança de 2014, quando aprendi libras. Uma apresentação encantadora interpretada em libras, com instrumentos. Sim, uma banda de surdos que pude conhecer.

Infelizmente não participei de grandes eventos, mas pude conhecer o show de uma grande banda mineira: Jota Quest. Show esse que encerra meu ciclo.

Também vieram as coisas ruins: Perdi amigos, perdi família. Aqueles que jamais achei que fosse perder. Uma doença, uma lágrima. Dor no coração. A superação foi difícil.

Mas, do mesmo jeito que alguns se vão fácil, outros vêm fácil. Alguns amigos que entraram em minha vida para somar, para me ajudar, auxiliar. Agradeço. Deus sabe bem quem colocar em nossas vidas. É preciso perder alguns para perder outros, certo?

Surpreendi-me. Comecei a ler histórias que jamais imaginei ler algum dia (50 tons de cinza) e me apaixonei por outras (Jogos Vorazes). Virei tributo. Virei Nerdfighter.

E, por fim, dizer que mudei duas letras no meu currículo: o cara do TI virou o cara do RH. O cara, antes tímido, agora participa de eventos. Novos ventos, novos aprendizados.

É claro que houve tantas outras coisas, mas por enquanto me atenho a esse texto. O que aprendi, guardo no coração. O que vem depois é imaginação.

Agora lá vou eu, aprender mais neste próximo ciclo que chega. Tá na hora de agarrar as próximas oportunidades, não é?

Vamos em frente. E que a sorte esteja sempre ao nosso lado…

Linger

Ah, se o tempo pudesse voltar e fazer tudo diferente.

Eu prometi ser sincero e você também. Trocávamos juras de amor por tanto tempo, prometemos amar um ao outro, para todo o sempre e sempre. Parecíamos ser feitos um para o outro, sempre buscamos estar juntos. Pensávamos nos nossos filhos e netos. Tudo era tão perfeito.

Eu acreditava ser você a pessoa perfeita. Era tão lindo ver você cuidando tão bem de mim, acalentando-me de todos os meus medos e de todos os meus males. Em seus braços eu era a pessoa mais segura e mais feliz do mundo. Tudo era tão perfeito.

Deveria ser para sempre. Era um sonho que não deveria se acabar. Chorava de felicidade por saber que você era a pessoa que me completava, era quem possuía meu coração de verdade. Eu confiava e respeita você, tudo era tão perfeito.

E você me prometia amor para toda a vida. Você me jurou sinceridade. Apaixonei-me por alguém que não existia. Descobri que aquela era uma pessoa que só estava em meus sonhos. Não era quem eu acreditava ser. Tudo não era mais tão perfeito.

Se prometeu sinceridade, por que você estava segurando a mão de outra pessoa? Por que estava a fazer juras de amor para outra pessoa? Por que prometeu ser sincera a ele? Por quê?

Essa sua atitude me corroeu por um bom tempo, mas eu queria prolongar aquele tempo nosso. Não queria que tudo acabasse assim, não queria que fosse esse o fim dos meus sonhos, tudo deveria ter sido diferente.

Prometemos um presente e um futuro tão promissor. Será que nossos filhos morreram para você? Será que nossos netos não farão parte de nossas vidas? Não existe mais o nós, agora somos só você e eu. Por que você fez isso? Por que não poderíamos ter sido perfeitos?

Agora estou aqui, no chão, acabado. Só queria que tudo fosse diferente. Só queria sua sinceridade e você mentiu para mim. Era tão difícil uma vida perfeita para nós?

Roteiro do próprio fracasso

O mundo resolve dar toda a atenção, é hora de mostrar todo seu talento. Depois de ter ensaiado, preparado a voz e repetir, inúmeras vezes, o discurso, ele está pronto para declamá-lo em público. As cortinas se abrem, a plateia aplaude, ele dá pequenos passos, o auditório se cala e é a sua vez. 

Ele olha para todos os outros, nervoso, começa a suar frio, a voz não sai, o desespero aumenta. Seria melhor recuar ou nem ter subido no palco? A plateia ainda espera e ele não sabe o que vai acontecer se falhar. Imagina que todos vão desconstruir toda sua imagem naquele momento, pois este não é o seu lugar. 

Simplesmente, não é o seu lugar. 

Desesperado, foge dali, com seus medos e seus pensamentos negativos. Ele não consegue aceitar que falhou mais uma vez, mesmo ensaiando tanto. As risadas ecoam por sua mente, enquanto corre, aos prantos, sem destino a rumar. Não consegue ser mais um na multidão, é alguém que está aquém dos padrões da sociedade. 

Não consegue se lembrar de tudo de bom que já foi capaz de realizar, do que já fez pelos outros. Nunca parou para pensar nos êxitos que logrou, ou quase. Só pensa naquele momento, em todo seu fracasso, nas falhas que sempre teve. Não percebe que todos são assim, porque só se lembra do êxito deles. 

Não quer mais erguer a cabeça, não pensa em lugar, não pensa em gritar. Não quer saber mais de ninguém, por acreditar que não tem mais ninguém. Ninguém é capaz de tirá-lo daquele buraco que ele mesmo havia se jogado. A vida nunca te dá as mãos, só lhe dá as costas, só pensa em derrubá-lo. 

Não consegue contar seus problemas a ninguém, porque sabe que será motivo de piada. Mas, não permite que outras pessoas se afundem em seus próprios problemas, porque ele não quer ninguém como ele. Não permite que outros chorem, mesmo que lhe custe a própria felicidade. Sente-se sozinho por não conhecer quem o compreenda profundamente. 

Afasta-se dos mais próximos e os transforma em seus piores inimigos. Nada mais lhe importa, não quer mais saber de seguir assim. Continua a atuar pelos palcos da vida, sem ânimo, sem vontade, apenas com a ideia de que nada mais importa. 

Até que um dia, foge do roteiro para rascunhar o que, talvez seja, o fim de sua própria peça. 

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