Todos os posts de Áℓiѕѕση Suriani

Sabe aquele cara que gostar de jogar um videogame, ler um livro, vez ou outra ver uma série, anime ou filme, escutar uma boa música, viajar e relaxar com o verde da natureza? Este sou eu. Viaje comigo neste mundo nerd!

Mais ou Menos Salinas (3)

Capítulo 3: Conhecendo o instituto

Era uma vez, uma gata xadrez que andava pela rua seis. Essa gata estava à procura de alguma comida para seus filhotes. Quando um motoqueiro passou, ela pulou em sua garupa, mesmo sem saber o destino. E lá foi o pobre felino tentando se segurar naquele vento.

Era sábado. O motoqueiro estacionou no Instituto Federal do Triângulo Mineiro, campus Ituiutaba, onde estudava. A gata, ao perceber que estava no meio do mato, deu um tapa em sua testa, perguntando-se onde teria se metido. O jovem motoqueiro caminhava para sua sala, onde fazia sua pós-graduação.

E lá também estava eu. Duas semanas depois de ter perdido aula, sentado ao lado de uma antiga amiga de faculdade, Carolina. Eu contava a ela sobre as coincidências da vida:

  • Larissa me ligou esses dias. Disse que conseguiu passar numa federal também.

Larissa também estava empolgada. Assim como eu, ela passara em uma federal, o Instituto Federal do Norte de Minas Gerais, campus Salinas, e também perdera duas semanas de aulas.

Coincidências ou não, nossas histórias, mesmo estando tão distantes, se assemelhavam. Com a faculdade não era diferente. E, como eu já havia recebido um convite da garota, era mais que justo que um dia eu fosse conhecer o outro IF.

  • E você vai ver, Carolina. Um dia eu irei conhecer sua faculdade.

E lá estava eu, cinco meses depois de ter dito essa frase. Antes, eu e Larissa disputávamos pra ver qual era a pior:

  • Ah, você tinha que ver nossa biblioteca! – dizia ela – Uma vergonha para uma federal!
  • Pelo menos a sua tem livros! – dizia eu.
  • Ah, mas a nossa é uma fazenda! – ela continuava.
  • Sim, mas a nossa é puro mato. E só tem dois pavilhões. – eu insistia.

Aquela discussão parecia não ter fim. Mas, naquele instante, nada disso importava. Era indescritível a sensação de estar pisando ali. Poderia não ser o melhor lugar do mundo, mas para mim pouco importava. Era um sonho que, finalmente se realizava.

  • Conhecer o IFNMG, feito! – disse para mim mesmo, riscando essa informação de um pedaço de folha de caderno, antes de voltá-la para o bolso.

Sim! Eu estava tão empolgado de estar ali, que resolvi mandar uma mensagem para Carolina naquele instante. Os dizeres “Estou no IFNMG” mal saíram de minha caixa de saída e eu já sacava minha câmera do bolso para tirar fotos, com intuito de lhe mostrar quando voltasse. No mesmo instante, Carolina pegou seu celular do bolso, leu a mensagem e anunciou para todos que estavam ali perto:

  • Ele conseguiu! – era o que ela dizia, enquanto todos da rua, estranhos a ela, olhavam-na com cara de “que retardada!”.

Mas, antes de falarmos do lugar, vamos voltar ao início do dia.

Seis horas da manhã, o telefone de Larissa começava a tocar. E eu pensando que, naquelas férias, não teria que ser obrigado a levantar tão cedo! Como estava em seu quarto, ela já foi logo me perguntando enquanto eu abria os olhos:

  • Você vai pro instituto?
  • Sim! – dizia eu, meio a murmúrios.
  • Então, levante-se para não chegarmos atrasados. – e ela atirou uma almofada em mim, pouco antes de Champignon subir na cama.

Levantei-me, troquei de roupa, penteei o cabelo, tomei café, escovei os dentes, peguei a câmera, o DS, a carteira e tudo mais que eu tinha direito. Quando estavam quase todos prontos, Hiago tocou a campainha e entra. Vívian bate no quarto de Tchely, perguntando se ela iria conosco:

  • Pode ir na frente, eu pego um táxi depois! – E voltou a dormir, rolando e derrubando Paulinha no chão.

Então, fomos Larissa, Vívian, Hiago, Brunna e eu para o ponto de ônibus. Quando ele parou, subimos. Recebi logo uma “facada” quando soube que precisava pagar 75 centavos pela passagem. Tive vontade de dizer à cobrada que dinheiro não nascia em árvore, mas deixei para lá, já que eu estava em Salinas.

E lá fomos. No ponto seguinte, João e Letícia subiram. O coletivo já estava bem lotado. Alguns iam em pé e outros sentavam em colos alheios. Larissa aproveitava a ocasião para me apresentar alguns colegas:

  • Tá vendo aquele cara ali sentando ao fundo? É João Pedro! – dizia ela, enquanto apontava.
  • Larissa, não aponte para aquele garoto! – apontei também – Já pensou se ele diz alguma coisa? – João Pedro viaja profundo em seus pensamentos, enquanto olhava para fora do ônibus.
  • E aquela ali… – continuava ela, enquanto apontava.

Ao fim da cidade, o instituto se encontrava. Era um lugar interessante de se ver, principalmente para quem ia apenas a passeio. Era notável, pelos prédios, que o instituto já possuía alguns anos de vida, ao contrário do que eu imaginava, já que o IFTM não completara nem cinco anos de funcionamento.

Ao descermos da condução, encontramos mais alguns centos de jovens desesperados, por estarem em época de provas. Entre elas, Catarina, que eu havia conversado noite passada, via internet.

  • Ah! Você é o Álisson? Muito prazer! – dizia ela, enquanto me cumprimentava com um beijo no rosto.

E lá fomos nós, subindo para a sala de aula, ladeados por um enorme grupo de estudantes desesperados em época de provas.

  • Vocês estudaram? Estou com muito medo dessa prova! Uma das mais difíceis que já fizemos até agora!
  • O capítulo 14! Eu não estudei o capítulo 14!
  • Alguém viu minha aranha? Ela estava aqui agora há pouco!
  • Aranha? Aaah! Socorro! Tem uma aranha dentro da minha calça!
  • E você não é a única, bobona! – dizia um enorme travesti que passava por ali.

Era engraçado ver tamanho desespero. Lembrava-me dos meus tempos de faculdade em que, segundos antes da prova, eram tempos preciosos para tentar absorver o máximo de informação possível.

Enquanto subíamos a pé, o professor Leonardo passava de carro sem olhar para os lados. A prova, nesse dia, era dele. Talvez tenha sido por isso que ele preferiu não dar moral para ninguém.

Quando chegamos à sala, o pessoal se despediu de mim e entrou. Alguns pediram que eu entrasse e fizesse a prova por eles. O que seria melhor para qualquer um ali da veterinária, já que sou formado em Sistemas de Informação.

E lá estava eu, sozinho, sem ninguém. Não pude deixar de reparar que aquele lugar parecia uma fazenda mesmo, com prédios antigos, barro e mato por todos os lados, além de vacas, porcos e bezerros misturados a tantos outros animais, que me fazia sentir como um também. Então, para conhecer melhor o lugar, fui dar uma volta.

Larissa já estava avisada: Quando terminasse a prova, era para me dar um toque e eu retornava à sala de aula. Isso se eu não me perdesse no caminho. Pensei até em comprar um pãozinho para ir jogando pelo chão para fazer uma trilha, mas achei isso muito “João e Maria”. Então, resolvi deixar para lá.

Agora, contarei a vocês um pouco do que vi. Um barracão ainda não terminado cercado por tantos pneus velhos, que dava até medo de olhar e encontrar alguns ovos de certo mosquito periculoso, envolto por mato queimado. Depois, tirei fotos de algumas árvores que embelezavam o local. Lá também poderiam ser visto algumas hortas, alguns bezerros e até um campo de futebol. Também se viam tratores, um pequeno lago e uma bela paisagem dos morros de Salinas.

Era de se encantar aquela vista. Em minha terra, uma vista como aquela não era comum. Então, aproveitei cada momento.

E eu sujei o meu tênis. Aquele tênis branco já não seria mais o mesmo. Como eu já havia dito, apesar de uma paisagem tão bonita como aquela, encontrávamos mato, terra e buraco em todos os lados. Até carroceiro passava às vezes por ali.

Nem percebi quanto tempo passara. Quando vi, o relógio já sinalizava oito horas. Para me ajudar a voltar ao meu destino, um rastro de cavalo me apontava a direção. Já chegando à sala, Larissa me dava um toque no celular indicando que terminara a prova. Não precisei atendê-la, pois já estávamos à vista do outro.

  • Como foi de prova? – perguntei-lhe.
  • Fechei! Uhul! – ela comemorava.
  • Conseguiu fazer todas as questões? – sentei-me ao lado dela.
  • Sim! Era pra eu ter ficado mais um pouco lá dentro, mas parece que ninguém consegue me entender! Eu posso gritar que ninguém vai saber colar a resposta.
  • É porque você tem que mandar um SMS com a palavra cola, para que eles possam receber dicas de como colar. Eu já te ensinei isso.
  • Ah! Eu não me lembrava. – dizia Larissa, antes de atirar sua cara na lama, de vergonha.

Aos poucos, a galera foi aparecendo. João, nesse instante, apareceu com um largo sorriso para meu lado.

  • Pela cara, você foi muito bem!
  • Que nada! Me ferrei! – dizia, sem apagar o sorriso.

Letícia também apareceu. Aproveitei para tirar uma foto dela. Ela me correspondeu de forma muito bela: levantou seu maior dedo e o apontou para mim. Tive vontade de respondê-la, mas deixei para lá.

Tchely também saíra. Ao vê-la, quase caí para trás. Ela não estava no ônibus e eu não a vi entrar na sala. Então, como ela foi parar ali?

  • Você nunca saberá! – dizia ela, demonstrando um sorriso maléfico, demonstrando que acabara de ler meus pensamentos (ou, talvez, apenas o script do presente filme).
  • Foi bem de prova? – perguntei, voltando ao normal.
  • Não! Você não quis fazer a prova para mim! Por que você não quis fazer essa prova? Por quê? – ela dizia cada vez mais alto, enquanto me chacoalhava, fazendo minha cabeça bater no cercado de madeira.
  • Minha querida Tchely. Venho por meio desta, informar-lhe que a prova realizada até há pouco não se encontrava de nível de dificuldade inferior como a prova subsequente que, acredito eu, será. Portanto…

Neste momento, levantei-me, olhei fundo nos olhos dela, aproximei-me bem devagar e fui alterando o volume de minha voz cada vez mais:

  • PARA DE ME DEGOLAR!

Sempre aprendi que termos como “Venho por meio desta” não é correto de se dizer. Mas, dizendo em voz alta, aquilo soava tão formal, que decidi deixar assim mesmo.

Depois, saíram João Pedro e Camila, um dos casais da turma. Como todo bom namorado, João Pedro sentou-se em um toco e Camila sentou-se em seu colo. E foram discutir as questões. Como eu não era participante, fiquei apenas de expectador.

Neste instante, foi a vez de Arthur sair. Ele veio correndo e logo foi perguntando à Larissa:

  • O que você respondeu na segunda questão?
  • Lente ou cristalina.
  • Cristalina? Eu só pus lente! Eu me esqueci da cristalina! Eu não acredito que me esqueci da cristalina!
  • Vamos deixar esse maluco aí? – Larissa sussurrava para João, Letícia e Vívian, que também já estava lá.

E lá fomos nós, enquanto Arthur não parava quieto.

Enquanto caminhávamos em direção ao pátio, João e eu trocávamos algumas ideias:

  • O que você ficou fazendo esse tempo todo?
  • Estava andando pelo instituto para conhecer!

Tirei minha câmera do bolso e a entreguei para que ele pudesse ver as fotos que havia tirado.

  • Gostou do que viu?
  • Sim! Aqui é muito legal! Apesar de parecer uma fazenda mesmo. Vocês devem se sentir muito em casa.
  • E como! Aqui é maravilhoso, com tantos bichos, tantas árvores, tanto… argh!

João parou de falar, ao pisar num monte de esterco de cavalo. O mesmo rastro que me guiara para a sala de aula.

  • Mas, por que aqui tem tanto prédio antigo? – disse eu, ignorando o fato acontecido e o puxando pelo braço direito.
  • Aqui era uma escola agrotécnica, com alguns cursos técnicos e ensino médio. Também temos muitos cursos superiores, mas a nossa é a primeira turma da medicina veterinária.

E então, João começou a nos apresentar alguns lugares.

  • Como você pode ver, ali estão as quadras. Ali, encontramos a biblioteca. Em frente, a direção, depois a secretaria e ali fica o pátio. Ah! E ali, encontramos uma coisa que, com certeza, é de seu interesse: o laboratório de informática!
  • Uau!
  • E, acredite! Tem computadores lá dentro!
  • Uau! Êpa! Peraí, Joãozinho. Aquele laboratório está em reforma! – falei, indignado.
  • Ele só estava querendo te impressionar, bobo. Não temos laboratório de informática não! – dizia Letícia, estragando o momento feliz de João, mesmo sem desfazer seu sorriso eterno.
  • Temos um sim, ok? – falava João, com voz alterada para Letícia! – apesar de serem computadores bem antigos e não ligarem, existem computadores naquele laboratório!
  • Ah! Entendi! Laboratório de manutenção de computadores! Na minha antiga faculdade tinha um! – eu disse a ele.
  • Não. O laboratório é para consultas do aluno mesmo. – completava João.

Preferi ignorar. Então, ele continuou a representar o papel de meu guia turístico.

  • Essa escola já tem mais de 50 anos. Mas, há pouco tempo, tornou-se o Instituto Federal de Ciências e Tecnologia do Norte de Minas Gerais. Coisa de gente fina.

Olhei para João de cima a baixo e confirmei o quão fino ele era. Sim, ele era magrelo.

  • É! Você tem razão!

E lá foi nosso grupo se deslocar para a praça de alimentação. Pensei que fosse algo grandioso, mas era apenas uma pequena janela com uma moça dentro, oferecendo alguns salgados de frango e presunto para os alunos, em troca de um real e vinte e cinco centavos. Enquanto isso, duas alunas da veterinária conversavam ali perto:

  • Meu pai tem um granjeiro. Esses dias, uma das nossas galinhas ficou doente. Tentamos de tudo para salvá-la. Eu a amava tanto! Mas, não conseguimos. Chorei muito quando papai me deu a notícia.
  • Que coisa triste, amiga!
  • Muito triste! Tivemos que sacrificar o pobre bichinho.
  • Pobre galinha! – dizia a garota, enquanto ambas davam uma bela mordida numa empada de frango.

Ao lado, também estava uma pequena roda do grupo de veterinária. Aproximamos. Notei que havia um pátio ali do lado. Alunos de outras turmas encontravam-se ali, mas o papo da turma de cá estava mais animado.

  • Galera, alguém sabe quando vamos pra Montes Claros? – perguntava Tâmara.
  • Ouvi dizer que na quinta-feira. O ônibus vai sair bem cedo. – dizia Peu.
  • Mas, vamos antes ou depois da prova? – perguntava Tâmara.
  • Antes. Aí vamos para Montes Claros e voltamos para fazer a prova. – respondia Peu.
  • Ai, Peu! Larga de ser grosso! – respondia Rhangnys.

Sim! Esse é o nome da garota. Até hoje, não se descobriu a origem disso.

  • Como as turmas vão ser divididas? Larissa? – Virou Izabela para Larissa, no mesmo instante – Você vai ceder sua casa, não vai?
  • Sim! Mas, ate agora não deu nem cinco pessoas.
  • Quem já confirmou?
  • Até agora Hiago, João, Letícia e Álisson.

Por um momento, Izabela passou na cabeça todas as pessoas da sala para ver se se lembrava de algum Álisson. Aí, ela me viu e continuou:

  • OK! Pode confirmar meu nome também!
  • Tudo bem, então! – E Larissa tirou um pergaminho e uma pena de seu bolso. Virou-se para a balconista e lhe pediu um pouco de nanquim.
  • Toma, sua velha! – E a mulher educada entregou-lhe uma caneta, que Larissa teve que sair riscando pelo papel inteiro, para ver se saía alguma tinta.

E a animada conversa já continuava:

  • O pessoal vai mais é para a casa de Camila. Acho que vão ser dois ônibus.
  • Cês tão doidos? Mãe minha não vai gostar disso não! – dizia Camila, aumentando seu sotaque baiano.

‘Mãe minha’, ‘mãe minha’, ‘mãe minha’, pensava eu. Que cacofonia! Era só falar rápido que se entendia outra coisa. ‘Mãe minha’.

  • Casa de Camila, de Larissa, de quem quer que seja! Eu quero é ver o show de Paulinha Fernandes. – dizia Ítalo, eufórico.
  • Ah! O show daquela mulher deve ser tudo de bom! – dizia Brunna.
  • Sem contar que ela tem belas pernas! – dizia João Pedro, recebendo um leve tapa de Camila no braço, após o comentário.

E ele a beijou em seu rosto, como símbolo de pedido de desculpas quando Arthur aparece, entra na roda e fala para todos escutarem:

  • Eu esqueci a droga do cristalino! Como eu pude esquecê-lo?- dizia ele, indignado.
  • Toma! Te empresto o meu.

Davi foi muito legal, ao pegar a colher, tirar seu próprio olho e entregá-lo, por completo, ao jovem Arthur, que ficara muito agradecido.

  • Nós aqui, falando de Expomontes, e Arthur preocupado com o maldito cristalino.
  • Mas, eu até agora não acredito de ter me esquecido de colocar o cristalino na questão número dois da prova. E, Davi, por favor! Seu olho é muito pequeno para mim!

Enquanto Arthur devolvia o olho de Davi, a galera voltava ao interessante assunto em que estavam. Do outro lado, meio isolados, Larissa e eu apenas prestávamos atenção na conversa. João, que estava do nosso lado, sentindo seu estômago reclamar, pediu uma empada de frango à balconista. Após esperar que ela fosse ao freezer, tirar uma empada congelada, colocá-la no forno micro-ondas por breves 30 segundos e retornar o troco para uma nota de cinco, lá estava João, olhando demoradamente para a empada antes de lhe dar uma mordida.

  • Que foi, João? – perguntou Larissa.
  • Quando eu olho para essa empada, dá uma saudade da comida da mamãe!
  • João! Você mora com sua mãe! – dizia Larissa, indignada.
  • O dia que você comer essa empada, me entenderá! – dizia João triste, mesmo com um sorriso no rosto.
  • O que essa empada tem de mais? – perguntei-lhe, curioso.
  • É cara e gelada. A vendedora tem preguiça de esquentá-la. Faz e deixa no freezer por uma noite. Na manhã seguinte, ela só tira para esquentar quando alguém pede. Se você morde, vai encontrar uma enorme pedra de gelo. Mas, se você der alguma sorte, a pedra terá se descongelado e sua empada estará ensopada. Qualquer dia desses, você experimenta uma e me diz o que acha.
  • Eu ouvi isso! – disse a balconista, irritada.
  • Sua mãe nunca te disse que é feio escutar conversa alheia? – perguntou Larissa.
  • Quem é você, sua grossa? – perguntou a balconista, irritada.
  • Não te interessa! E para de escutar a conversa dos outros!

Ouvindo isso, a balconista apontou língua para a garota.

  • E toma a sua caneta! – Larissa atirava-lhe a caneta de volta, acertando-a na testa.

Para evitar qualquer briga, saímos dali. A mulher tentava pular pela janela, mas João fez o favor de empurrá-la de volta, fazendo-a cair. Quando ela estava se recuperando do tombo, outros alunos apareceram, pedindo mais lanches. Então, a balconista preferiu desistir, mas não antes de jurar vingança para o dia seguinte.

  • Quantas horas são? – Larissa me perguntava
  • 9h18.
  • Vívian! Que horas os ônibus saem? – perguntou Larissa, ao ver Vívian e Letícia se aproximarem.
  • Já estão quase saindo!
  • Vocês vão agora? Não vou ficar aqui mais não, nada pra fazer mesmo! Onde está Hiago? – continuou Larissa.
  • Deve estar beirando aquela Girafa Desmiolada.

Vívian estava xingando uma de suas colegas que tanto detestava. Para piorar, ainda brigou com Larissa na noite passada por ter passado cola a ela. Como aqui pretendemos preservar cada personagem, não diremos que ela se referia à Catarina.

  • Você não passou cola para ela de novo não, né?
  • Não! Ela é muito lerda! Não sabe nem pegar uma cola.
  • Você é muito malvada! Passa cola para ela e não para os amigos.
  • Vívian, você tem que entender que, no futuro, ela não vai ser uma boa profissional se continuar colando! Imagina só, você sendo uma grande veterinária e ela dona de um pet shop.
  • Não quero nem saber! Você tem que me passar cola.

E nós continuávamos nosso passeio. Próximo aos ônibus, lá estava Hiago abraçado à Catarina pelas costas, enquanto cheirava seu pescoço. De longe, parecia uma tentativa de beijo.

  • Hiago! – gritava Larissa – Você vai agora?
  • Vou!

Hiago e Catarina se despediram e ele veio ao nosso encontro. Estava muito feliz, até aquele momento, exatamente por ter ficado tanto tempo distante dele. Como evitá-lo era inevitável, o jeito foi me acostumar.

Mais 75 centavos. Mas, dessa vez, o ônibus estava vazio. O que me deixava mais feliz era saber que eu estava roubando o lugar de Hiago, sentando-me ao lado de Larissa. Ele teve que ficar lá, ao lado de Vívian.

Ao contrário de nossas saídas em Belo Horizonte, Larissa, em Salinas preferia sentar-se nas primeiras cadeiras, geralmente mais baixas. Na capital mineira, sempre sentávamos ao fundo, na cadeira mais alta. Talvez porque ela gostava de se sentir mais alta, ou de ver os outros de cima, nunca entendi muito bem.

Então, começamos a andar. Como acontece em todo seriado sem-graça, uma professora gordinha saiu da secretaria, correndo, tentando alcançar o ônibus, que não parava. E ela gritava para o motorista ouvir. Todos os alunos perceberam e começaram a gritar para que o motorista pudesse parar, mas em vão, já que ele usava fones de ouvido. Entretanto, para a sorte da professora gorda, o motorista percebeu pelo retrovisor algum alvoroço em seu ônibus e olhou para trás. Percebeu a professora nesse exato momento e freou. Mas, isso não impediu que a pobre senhora entortasse seu pé e caísse de cara na lama.

Pobre professora. Atrasada, desajeitada e gorda. Isso já está tão clichê nas histórias de comédia que era preciso colocá-la aqui. Os alunos a olhavam assustados, enquanto ela não conseguia se levantar. O motorista levantou-se de sua poltrona e ficou parado por um bom tempo para ver se algo acontecia. Mas, nada acontecia.

O motorista olhou para todos os alunos. Eles retribuíram. Um esperava a reação do outro, mas ninguém se mexia. Lá fora, alguns professores saíam de suas salas e via aquela cena. A professora caída nem se mexia. Os outros professores estavam boquiabertos, mas também não se mexiam. Será que a pobre professora morrera ali mesmo? E por que ninguém se mexia para ajudar a pobre senhora?

O motorista deu uma última olhada para os alunos. Foi até a janela e perguntou aos outros professores:

  • Essa mulher está bem?

Não se ouvia qualquer som. Em vez disso, os professores apenas faziam sinal indicando que não sabiam. Então, percebendo que não adiantaria, o motorista voltou-se à sua poltrona, colocou novamente os fones em seu ouvido, ligou a máquina e lá fomos nós pela estrada.

Estávamos tão empolgados de, finalmente, estarmos em curso, que até pensamos em cantar “um elefante incomoda muita gente”, mas resolvemos parar ao ver a cena se repetindo: a professora estava em pé novamente e voltava a correr atrás do ônibus. O motorista logo percebeu aquilo, por isso, pisou fundo no acelerador para deixar logo os portões do instituto. E foi assim que a professora perdera sua carona para casa.

  • Tudo bem! Vou entrar naquele que ainda está parado ali! – dizia a professora, enquanto tirava o excesso de lama da cara.

Não foi uma longa viagem e o caminho sempre era o mesmo. Por isso, aquele foi mais que tempo suficiente para eu ter tido uma boa lembrança da cidade. Salinas era sim uma cidade pequena, mas que trouxe tantas lembranças que eu seria capaz de escrever um livro sobre o que eu passei lá. Quem sabe algum dia.

Descemos no ponto. Chegamos e não eram nem 10h ainda. Quando entramos em casa, além dos cachorros que nos recebiam latindo, lá estava Paulinha varrendo a casa.

  • Que menina prendada! Está solteira? – arrisquei.
  • Pra você, não! – e ela continuou a varrer como se nada tivesse acontecido.

E aqueles cachorros pulavam. E como pulavam! Cachorros eram as únicas coisas que eu estava vendo naquele momento, depois de um fora desses.

Então, as garotas trocaram suas roupas e lá foram fazer a faxina de casa. Larissa ficou por conta de arrumar seu quarto e, para meu azar, eu precisava ajudá-la, já que era ali que se encontravam minhas malas.

Vívian foi lavar as louças. Ela me contava como gostava de ajudar as pessoas, mesmo quando não fosse necessário:

  • Sabe, Álisson. Aqui, as meninas me tratam como se fosse uma mãe! Porque quando elas estão doentes, eu que fico louca atrás de remédio, de levá-las para o hospital, eu que…
  • Você que sai entupindo as meninas de remédios, mesmo que elas só deem uma tossezinha… – interrompi.

Vívian me olhou com uma cara não muito boa.

  • Que foi? – tentei consertar – É assim que mamãe faz comigo!

Passado alguns minutos, Brunna entrou em casa. Naquele dia, o almoço foi por conta dela. Sim! O almoço foi por conta dela. Então, ela entrou, trocou de roupa, foi para a cozinha, tirou as panelas da dispensa e começou sua obra de arte.

  • Da próxima vez, você é quem fará o almoço! – dizia Paulinha, sorrindo para mim.
  • Minha cara Paulinha! – disse-lhe, colocando uma de minhas mãos em seu ombro – Você tem certeza do que está dizendo?
  • Claro que sim! Aí veremos se você está pronto para se casar!

E ela virou as costas para mim e saiu da cozinha. Eu ainda estava tentando entender o que foi aquilo depois do fora, quando ela gritou lá da sala:

  • Mas, não comigo!

‘Ah!’ – exclamei em pensamento.

Quando Brunna desligou o fogo da última panela, ela perguntou:

  • O almoço está servido. Quem será o primeiro?

Aquela mesma reação do dia anterior repetiu-se. Todos se entreolhavam, com medo. Era a primeira vez que a garota de Francisco Sá cozinhava para eles.

  • Não seja tímido, Álisson. Sirva-se! – e Brunna me entregara um prato duvidosamente limpo.

E lá estava eu me servindo. Como ninguém tinha opção, formaram uma fila atrás de mim. Mas, diferente de tantas outras filas, naquela encontrávamos apenas pessoas muito bem educadas:

  • Ah! Você pode ir na minha frente! – dizia Larissa à Tchely.
  • Que isso, amiga! Fique à vontade! – dizia Tchely, sorrindo.

Sim! Tchely novamente aparecera misteriosamente diante de nós. Talvez transportada por forças do além.

Após nos servirmos, sentamos cada um em um canto da cozinha. Eu e Larissa ladeávamos a mesa branca de plástico, Tchely sentava-se no chão, tentando empurrar os cachorros para longe dela, Vívian trouxera a cadeira que ficava em seu computador e Brunna sentava-se em um banquinho. Paulinha era a única que ficava em pé, na porta para a varanda.

Atrás de mim, uma mesa de passar roupas. Em cima da mesa, uma vasilha fechada de feijão inteiro. A vasilha estava tampada e a cor de sua tampar era cor-de-rosa. Nenhum animal foi morto para que aquele feijão pudesse ser feito. Bem, talvez algumas pragas que atacavam a colheita…

  • Gostou da minha comida? – Brunna me perguntava, após eu ter dado a primeira garfada de comida.
  • Ainda não experimentei direito! – respondi-lhe, tentando ganhar tempo.
  • E agora? – eu dei a segunda.
  • Ainda não!
  • E agora? – terceira.
  • Não!
  • E agora? – quarta.
  • Está sem sal!
  • Você quer sal, é? Você quer sal?

E lá foi Brunna nervosa para a dispensa. Pegou um pote pensando ser sal, mas era açúcar. E ela foi correndo, em câmera lenta, no rumo das panelas, jogar todo o açúcar na panela de arroz. Todos perceberam o que ela iria fazer, por isso, em uníssono e em câmera lenta, gritaram:

  • Nãããããããããããããããão!

E o herói do dia saiu correndo até Brunna, esbarrou sua grande cabeça peluda nas pernas de Brunna, fazendo o pote de açúcar voar, ainda em câmera lenta, enquanto escorregava por aquele piso vermelho fazendo seu chinelo de dedo voar por aquela cozinha. Enquanto Brunna caía, o pote de açúcar caía em minha cabeça. Tudo culpa de tio Lu.

  • É isso que dá, dizer a verdade. – Falei para a câmera que, nesse momento, já estava em velocidade normal.

Brunna, sentindo-se culpada de tudo isso, foi buscar um pano. Larissa, virou-se para mim e me disse, sussurrando:

  • Realmente! A comida não tem sal! Não vou mais me casar com ela!

Então, Brunna, após retornar, ajudou-me com o pote de açúcar, pediu-me desculpas pelo ocorrido e prometeu não mais cozinhar, enquanto eu estivesse ali. Um grande alívio para os presentes.

Foi assim que, naquele dia, o almoço conseguiu se livrar das garras do açúcar. Incidente que não pode ser evitado um mês depois, quando Paulinha jogou açúcar na batata frita no lugar do sal. Mas, isso é uma história que contarei em outra ocasião.

O sol já não estava em seu ponto mais alto. Quase todos naquela casa descansavam tranquilamente. Novamente, peguei o último livro da série Harry Potter, deitei-me no chão e comecei a lê-lo. Deitar-me naquele chão vermelho e gelado, no único lugar em que o sol entrava naquela casa era uma sensação maravilhosa. Contudo, como estava sem almofadas ou travesseiros, encontrar uma posição confortável não era nada fácil.

Vívian estava no banho. E não estava sozinha. Antes que alguém pense qualquer besteira, ela não estava com um homem. Ela estava tomando banho e dando banho na cachorra da Larissa. Antes que alguém novamente pense mal, ratificarei: era a poodle Alice.

  • Fica quieta, Alice! Deixa eu te dar um banho! Oh! Cachorra custosa!

Eu ainda não sabia se prestava atenção no livro ou na briga.

  • Alice, fica quieta! Sua cachorra desmiolada!

Eu ria. Aquilo tirou minha atenção por completo. O sono também não ajudava muito, por isso, fiquei de frente à parede e tentei tirar meu cochilo, naquele chão mesmo.

Quando já estava quase pegando num sono, Vívian aparecia na sala, segurando a cachorra e um secador, apenas enrolada na toalha. Ao ver aquele pequeno corpo estirado naquele chão, frente ao sol, logo pensou:

‘Que garoto maluco! Depois fica doente e não sabe o motivo! Eu tenho medo de ficar assim um dia. Você não tem medo também, Alice?’

Alice continuou encarando-a, como se nada tivesse acontecido.

‘Ah, é! Eu me esqueci! Eu estou apenas pensando! Alice não vai me compreender. Que burra eu sou!’

  • Au! – concordou Alice.
  • Cachorra! – resmungou Vívian.

Alice estava toda molhada. Muito engraçada para quem a via naquele estado. Vívian a levou para seu quarto e se trancaram ali. Ligou o secador e começou a sessão ‘seca cão’.

Assim como o banho, a sessão incluía altos gritos e xingamentos. A cachorra não parava quieta. Sempre que Vívian dava uma brecha, lá estava a pobre animal tentando fugir do quarto. Mas, Vívian conseguiu vencer aquela guerra.

Com toda aquela barulheira, não consegui dormir. Então, retornei ao livro. Quando estava em uma parte bastante interessante e toda a casa já estava em absoluto silêncio, eis que a porta da entrada começa a fazer um barulho estranho, como se estivessem arrombando. Era Hiago, que entrava sem qualquer cerimônia. Quando me viu, teve a mesma reação de Vívian, mas já foi logo perguntando:

  • Onde está Larissa?
  • No quarto!
  • Dormindo?
  • Não! Fazendo uma festa! – respondi-lhe, secamente.
  • Ai, que garoto grosso! Estúpido! Você não tem o que fazer não?
  • Eu tinha. Aí você apareceu!
  • Idiota! Não vou perder meu tempo com você não! Mais tarde eu volto, quando Larissa tiver acordado. Gutixau!
  • Guti quem? – Repeti para mim mesmo, ao vê-lo saindo de casa.

Então, adormeci.

Três horas depois, levantei-me, fui à cozinha e lá estava Vívian:

  • Conseguiu dormir bem?
  • Ah, mais ou menos! Mas, não queria ter dormido não! Odeio dormir à tarde.
  • Quando Larissa acordar, quero te levar para tomar o sorvete que tanto gosto, nós íamos ontem, mas, como vocês me deixaram sozinha naquela praça…
  • Ninguém mandou você ficar lá fazendo strip no meio da rua.
  • É Pole Dance!
  • Dá no mesmo!
  • Não mesmo! Mas, isso não importa agora! Vamos tomar sorvete! Mas, olha. Eu gosto muito do sorvete, mas não posso tomar muito, pois sou diabética.
  • O QUÊ?
  • Eu sou diabética. Mas, é controlada, então não faz mal tomar um pouco de açúcar de vez em quando. Quer café? Está sem açúcar.
  • Ah, obrigado! – Aceitei uma xícara e despejei um pouco de açúcar em minha xícara.
  • Alguém falou em café?

Larissa aparecera neste momento. Ela estava de pijama, com a cara amassada e com a voz mais aguda que o normal.

  • Você dormiu por dois dias e meio. – brinquei.
  • Droga! Não bati meu record! – dizia ela, entrando na brincadeira.

Nossa amizade era algo muito lindo. Fomos criados meio a ironia e sarcasmos, mas nunca nos deixamos de amar. Além disso, estarmos vivendo tão longe um do outro contribuía para que nosso amor ficasse cada vez maior, pois era assim que gostávamos de ter o outro: distante.

Eu poderia continuar a admirar aquele momento maravilhoso, mas algo me interrompeu. Novamente, Hiago estava ali. Não sei o que tanto aquele garoto fazia naquela casa.

  • Oi Larissa, Oi Vívian. Larissa, eu vim aqui mais cedo, mas esse idiota – ele apontou para mim – disse que você estava dormindo. Aí eu fui pra casa.
  • E de lá você não deveria ter saído – intrometi.
  • Cala a boca, seu imbecil! – disse ele, mais agressivo.
  • Que relação amorosa vocês dois! – comentou Vívian.
  • Ainda não entendi o porquê de vocês darem total acesso a ele. – continuei.
  • Porque você não volta para Uberrrlândia? – disse ele, imitando meu sotaque.

Admito. Meu sotaque é ligeiramente paulista. Minha tendência é forçar o R. Como o pessoal do norte de Minas tem o sotaque ligeiramente baiano, a diferença torna-se bem nítida.

  • Hiago. Tem alguém em sua casa agora? – apareceu Tchely, repentinamente, abraçando seu travesseiro.
  • Não! Você quer dormir lá? – perguntou Hiago.
  • A casa de Hiago é uma pensão? – perguntei, sem grosserias.
  • Sim! Quando aqui em casa está barulhenta demais, vamos para a casa dele, para dormir. É um silêncio tão bom! – respondeu Vívian.
  • Eu estava dormindo em meu quarto, mas acordei por causa da conversa de vocês. – disse Tchely.
  • Estamos falando tão alto assim? – perguntou Vívian.
  • Um pouquinho! – respondeu Tchely.
  • Pode ir lá! Toma minha chave! – E Hiago entregou a chave à mulher.
  • Larissa, disse ao Álisson que o levaria para tomar aquele sorvete que tanto gostamos. Você quer ir?
  • Sim! Vou só arrumar meu quarto e vamos até lá.
  • Você também vai, Hiago? – perguntou Vívian.
  • Com esse aí? – ele me olhou de cima a baixo – Não, obrigado!

Larissa foi para seu quarto. Acompanhei-a e Hiago também. Deitamos na cama dela e os dois começaram a conversar tranquilamente, quando eu voltei a intrometer.

  • Não sei como você o aguenta! – disse Hiago à Larissa.
  • Ela já se acostumou. Não vê que ela virou sua amiga? – respondi à altura.
  • Eu não estou em seu nível! – ele retrucou.
  • Precisa abaixar muito a idiotice para isso acontecer! – continuei.

Sem hesitar, ele pegou meu braço direito, virou-me contra o colchão e me prensou com seu joelho em minhas costas.

  • Repete se você for homem. – ele esbravejou.
  • A ignorância te deixou surdo? – provoquei, enquanto ele me apertava com mais força.
  • Prensar-me é muito fácil! – continuei – Eu não tenho força, sou bem magrelo. Quero ver você pegar alguém do seu tamanho.
  • Hiago, solte-o. Você está machucando. – Larissa disse, séria.
  • Então manda esse idiota parar de me implicar. – ele falou, nervoso.
  • Acostume-se comigo. Sou assim mesmo. – Dei-lhe um leve tapa nas costas e saí do quarto.
  • Depois conversamos, Larissa.

Hiagou despediu-se e foi para a casa. Ri de mim mesmo. Nem eu sabia o que estava fazendo.

Vívian apareceu na sala. Perguntou-nos se estávamos prontos. Partimos. Passeamos rápido pela cidade e já estávamos na sorveteria.

  • Hoje é por minha conta! – E Vívian nos pagou uma rodada de sorvete.

Já estava anoitecendo quando chegamos. Larissa sentia uma leve ardência em seu corpo. Hiago aparecera novamente.

  • Larissa, tenho umas laranjas lá em casa. Você quer ir para lá?
  • Sim, claro! Não estou me sentindo tão bem. Talvez um pouco de ar me deixe um pouco melhor.
  • O que você tem?
  • Acho que estou com um pouco de febre, mas vamos! Quer ir também, Álisson?
  • Ah! Tudo bem!

Dirigimo-nos para a casa de Hiago. Fomos até a varanda e nos sentamos no sobrado. O sobrado não tinha qualquer cerca, portanto era fácil alguém cair de lá e se esborrachar no chão a mais de cinco metros. Sentei-me no meio dos dois.

Hiago nos trouxera um pequeno balde cheio de laranja e duas facas. Cheguei a pensar que aquelas facas seriam úteis para que ele pudesse me assassinar, mas, ao olhar para baixo, percebi que aquela não seria a única forma.

Larissa não sabia descascar uma laranja, por isso fazíamos torcida para ver se ela conseguia tal ato. Entre uma ferida e outra na pobre fruta, ela nos contava:

  • Certa vez, falei para as meninas que não sabia descascar uma laranja. Brunna olhou para mim e disse bem assim: “Está na hora de você aprender”. Sempre tive vontade de responder coisas como: “É que não fico perdendo tempo com coisas inúteis como essa, fico tentando aprender coisas que eu vou precisar mesmo, como bioquímica”.

Rimos. Larissa não perdia o sensor de humor, mesmo no estado em que ela se encontrava. Sua febre estava cada vez mais alta e seu nariz já começava a escorrer.

  • Brunna é muito burra. Ela estava mal em bioquímica e eu me ofereci para ajudá-la, mesmo que não precisasse de nota. Então, Flaviana disse a ela que precisava muito estudar biofísica e ela preferiu ajudá-la. Aconteceu que Flaviana desistiu de estudar e Brunna não estudou nem uma e nem outra. Resultado: Se ferrou nas duas! Tenho vontade de dizer a ela: “Vai, trouxa! Quem mandou?”.
  • Um dia ela aprende! – comentou Hiago.
  • E mesmo assim você se compromete a ajudá-la? – perguntei-lhe.
  • É porque eu sou trouxa! – respondeu Larissa.

Eu estava terminando de descascar minha laranja. Como aquela era uma faca bem melhor que a outra, era a mais desejada. Por isso, Hiago me pediu de volta.

  • Pra quê? – perguntei-lhe.
  • Vou matar você! – ele respondeu, sem mudar seu semblante.
  • Você é muito burro, Hiago! É mais fácil você me jogar daqui de cima. Vou morrer e você ainda pode fazer parecer um acidente.
  • Olha! Sabe que é uma boa ideia? Você é bem inteligente! Quer que eu te empurre agora? – perguntou-me.
  • Não! Agora não! Deu muito trabalho descascar essa laranja, então me deixe terminá-la primeiro!
  • Tudo bem, mas não demore.

Parecia uma trégua entre nós dois. Talvez fosse o efeito da Laranja.

  • Você parece ser legal! – disse-me Hiago.
  • É! Só pareço! Não se engane muito com isso. – Respondi-lhe.
  • Larissa, você quer dormir aqui em casa hoje? – Hiago perguntou.
  • Pode ser. Só vou para casa tomar banho, vestir uma roupa, pegar minhas cobertas e travesseiros e subo para cá.
  • Combinado então!
  • Você vai dormir aqui também, Álisson? – Larissa me perguntou.
  • Ah… – resmunguei.
  • Se não quiser, não precisa. Você dorme lá com os cachorros. – continuou Larissa.
  • Pensando bem… Como você está se sentindo, Larissa?
  • Nada bem.
  • Quer que eu te ligue para ver se você melhora? – perguntou Hiago.

‘Ligar?’ – pensei.

  • Pode ser! – respondeu Larissa, rindo.

Então, Hiago pegou seu celular e começou a discar para o número. Uma música japonesa começou a tocar.

  • Alô? – disse Larissa atendendo.
  • Oi, Larissa! Aqui é o Hiago. Tudo bem?
  • Tudo bem e você? – Larissa continuou.
  • Tudo bem! Onde você está? – perguntou Hiago.
  • Ah, estou aqui numa sacada, de frente para a minha casa. E você?
  • Ah, estou aqui na sacada da minha casa, mas não estou vendo você. Acena.
  • Acenei. Você viu? – perguntou Larissa.
  • Não! Estou acenando de volta. Viu? – perguntou Hiago.
  • Também não!
  • Quer vir aqui?
  • Sim, claro! Vou desligar o telefone e já estarei aí em menos de cinco segundos. Até mais, beijos!
  • Beijos! Ah, oi Larissa! Demorou! – disse Hiago, após desligar seu telefone.
  • Esse trânsito está uma loucura, menino!
  • O que vocês estão fazendo aí?

Era Tchely. Surgira do portão de casa, olhou para nosso rumo e nos viu ali na sacada. Hiago aproximou-se mais da beirada da sacada e gritou:

  • Estamos chupando laranja!

Percebi que Hiago estava bem na ponta da sacada. Meu coração gelou. Tentei puxá-lo para trás, mas como o garoto estava muito pesado, não consegui.

  • Quer vir até aqui nos acompanhar? – perguntou Hiago.
  • Hiago! – continuei puxando – Você vai cair desse jeito!
  • Não, obrigada! – continuou Tchely.
  • Tchely, pegue minha câmera e tire uma foto nossa daqui de cima! – gritei.

Tchely entrou. Quando voltou, segurava uma câmera semiprofissional. Bateu três fotos nossas:

  • Cuidado aí em cima! – e voltou para casa.
  • Com o quê? – Hiago questionava, enquanto um homem caía do andar de cima.
  • Hiago, vou voltar. Não estou me sentindo muito bem. – disse Larissa, colocando a mão na testa.

Ajudamos Larissa a voltar para o apartamento e, de lá, fomos para casa. Hiago ainda demorou alguns minutos, pois tomaria um banho antes de descer. Em casa, Vívian cozinhou uma sopa para a garota.

  • Que mãezona você arrumou, hein? – comentei à Larissa.

Mas, isso não impediu que ela regurgitasse a laranja dentro do lixo.

  • Vomita mesmo, minha filha! Que isso vai te fazer bem!

Quando Hiago apareceu, foi direto ao quarto de Larissa e deitou em sua cama. Para implicar, deitei-me na mesma cama e o empurrei para o colchão, onde Larissa estava deitada. Ele logo foi tirando sarro:

  • Pelo menos agora estou do lado de Larissa, bobo.

Então, ele pegou o lixo e viu uma bela imagem.

  • Credo! O que é isso? – Perguntou incrédulo.
  • Ela vomitou! – respondi-lhe.

Para mostrar seu bom estado, Larissa colocou em seu mensageiro instantâneo a seguinte mensagem pessoal: ‘Nada melhor que ficar doente em véspera de Expomontes. Uhul!’. Hiago aproveitou a ocasião para responder a todos que perguntavam que ela estava grávida. E de mim. Tinha pena da pobre criança.

Distante, a campainha tocava. Uma, duas, três vezes. Vívian logo desconfiou:

  • Álisson, acho que alguém está tentando tocar nossa campainha. Vai lá ver para mim, por favor.

Fui lá pra fora. Um pouco distante, um garoto de boné sentava-se na calçada. Olhei fixo para ver se me lembrava dele. Assim que me viu, ele foi logo perguntando:

  • A casa de Larissa é aí?

Era Erick. Estivemos juntos noite passada, mas eu não me recordava de sua fisionomia. Para não parecer mal-educado, pedi-lhe que entrasse.

  • Larissa não está muito bem. Está deitada.
  • Larissa, o que você tem? – Erick foi logo perguntando ao vê-la deitada.
  • Febre, dor no corpo, vômito. Acho que é virose, “doença de médico”.
  • Deu algum remédio para ela tomar? – perguntou Erick.
  • Não temos nada aqui! Vou levá-la amanhã para a policlínica! – disse Vívian.
  • Ou a uma funerária. Tem tantas aqui! – disse-lhes.
  • É! Parece ser uma boa ideia! – disse Vívian, pensativa.
  • Vai para a aula amanhã? – Erick perguntou à Larissa. – Sabe que tem prova de Cris, né?
  • Acho que vou pedir a ela que me dê uma prova semana que vem, caso não melhore. Não estudei nada! – disse Larissa.
  • Larissa, João está online! Quer que eu peça a ele para fazer seu toolbox?
  • Quero.

“Claro que posso fazer pra ela, Vívian. Assim que terminar darei um pulinho aí e entrego!” – respondeu João, por mensageiro.

  • Enquanto isso, vocês não querem ir buscar uns pães para fazermos cachorro quente? O Álisson ainda não conhece meu cachorro quente democrático!

Topamos ir. Erick, Hiago e eu caminhávamos pela cidade, passávamos por passarelas e rotatórias. Mesmo que eu não tivesse andado muito por aquela cidade, o caminho percorrido era quase sempre o mesmo.

  • Na minha terrinha, dez horas da noite a cidade já está dormindo. Você não encontra ninguém na rua depois disso. E aqui?
  • Seis! – disse Erick, brincando.
  • Olha para essa passarela! Essa é a passarela de desfile de modas. O pessoal compra uma roupa, veste e passa por essa passarela a noite para ficar se exibindo. – disse Hiago.
  • E quando será nossa vez? – perguntei.

Após uma longa caminhada de quase cinco minutos, chegamos à padaria. Entramos e fomos todos educados:

  • Boa noite!
  • Boa noite!
  • Boa noite!
  • Boa noite! – respondeu a caixa.
  • Boa noite! – respondeu o dono da padaria.
  • Boa noite! O que vocês vão querer? – perguntou a padeira.
  • Cachorro quente a um real e cinquenta! – exclamei.
  • Quantos pães vamos pedir? – perguntou Hiago.
  • Vívian te deu quanto? Cinco reais? Compra tudo em pão! – brinquei.
  • Cinco reais de pão, por favor! – pediu Hiago.
  • Ele está de brincadeira, não está? – perguntei a Erick.
  • Homem! A mulher vai te fritar vivo se você gastar tudo em pão! – disse-lhe Erick.
  • Mata nada! Pode encher a sacola.
  • Ele é sempre assim? – perguntei a Erick, mas o garoto só riu. – Você é de onde?
  • Ouro Preto.
  • Sério? Tenho vontade de conhecer. Qualquer dia desses apareço na sua casa e você me mostra a cidade por completo.
  • Pode ir à vontade.
  • Caramba, aqui também tem maracujá nativo! – exclamei novamente.
  • Obrigado, senhora! Vamos embora, pessoal!

E lá fomos nós. Hiago carregava um saco lotado de pães.

  • Estou te falando que a mulher vai matar você!
  • Vai nada!

Seguimos para casa. No caminho, percebia que, dificilmente os carros eram de Salinas.

  • Olha! Esse carro é de Belo Horizonte! – exclamei.
  • Esse não é o carro daquele nosso professor? – Erick perguntou a Hiago.
  • Esse mesmo. – Hiago respondeu.
  • Ah, isso explica! Olha só, esse também é de Belo Horizonte! – continuei.
  • Esse também é de um professor nosso.
  • Ah! Você está de brincadeira comigo!

Era difícil de acreditar que os dois carros da capital eram de dois professores deles. Tão difícil quanto acreditar que, nesse momento, um cara descia rolando a tal passarela da moda.

Em casa, como previsto, Vívian queria matar Hiago por seu exagero. Para compensar, Erick assumiu o gasto por completo.

  • Aqui, Vívian! Pode deixar que o gasto fica por minha conta.
  • Não, Erick! Você é nosso convidado.
  • Sem problemas, mulher! Pode deixar que eu pago.

Enquanto Vívian aceitava o dinheiro de Erick, eu provava o tal cachorro quente democrático.

  • Como aqui Larissa, Hiago e Letícia são vegetarianos, temos que fazer essas comidas diferentes para poder agradar todo mundo. – explicou Vívian.

Era uma mistura de salsicha e soja, para agradar carnívoros e vegetarianos. Um gosto um tanto exótico, mas que valia a pena experimentar.

Já estava bem tarde e João ainda não havia aparecido. Ele havia se enrolado com o resumo da prova que estava fazendo.

“Como Larissa está?” – perguntava João.

“Em estado terminal!” – respondeu Vívian.

“Se ela morrer, eu a mato. Esse toolbox está me dando muito trabalho!” – continuou João.

  • Larissa, João disse para você não morrer agora, pois ele está fazendo seu resumo. – gritou Vívian.
  • Ok, então! Vou deixar para amanhã! – gritou Larissa.

“Vívian, tem algum problema se eu entregar uma xérox ao invés do original?” – perguntou João.

“Acho que não tem problema não. Cris é de boa, se ela não aceitar, vamos amarrá-la e tudo fica resolvido!”. – disse Vívian, que repetiu a conversa para Larissa escutar.

  • Amarrem-me com ela, por favor! – gritou Larissa.
  • Vamos te amarrar e te jogar num rio! – gritou Vívian.
  • Querem ajuda? – perguntei.

“Vívian, diga à Larissa que está muito tarde. Levarei os resumos amanhã, se ela não se importar. Enquanto isso, vou tentar terminar aqui. Até amanhã!”

E eles se despediram. Vívian contou o caso de João à Larissa, para que ela pudesse se tranquilizar.

Como estava tarde, Erick e Hiago se despediram de nós. Larissa preferiu não dormir na casa de Hiago por razões óbvias. Deixariam para outro dia. Respirei mais aliviado por não ter que aturá-lo por mais algumas horas, mesmo que ambos estivessem dormindo. Com isso, encerramos a noite. Amanhã seria um dia mais agitado.

Mas, o que havia acontecido com a gata xadrez do começo do capítulo? Finalmente encontrara seu caminho de casa, pegando carona com o mesmo motoqueiro. Para seus filhotes, levou um pedaço de pão amanhecido e tiveram um delicioso jantar.

Mais ou Menos Salinas (2)

Capítulo 2: Próxima parada, Salinas

  • Alô, Álisson?
  • Oi, Larissa, o que você me conta?
  • Que horas você vai chegar aqui?
  • Acho que por volta de umas dez horas.
  • Dez horas? Tão cedo assim? Onde você está?
  • Já peguei o ônibus para Salinas, estou na estrada.
  • Mas, ainda são 6h30! Você disse que chegaria depois das sete, por isso que eu nem reservei táxi para você!
  • Pois, é! Pelos meus cálculos eu chegaria depois das sete mesmo. Tomei por base a última viagem. Mas, acho que o ônibus chegou um pouco mais cedo.
  • Ah, sim! Tudo bem! Quando você chegar aqui, me dê um toque que vou pra rodoviária te buscar. Vou pro instituto, beijos.
  • Beijos.

E foi assim a nossa primeira conversa do dia, a poucas horas de nos encontrarmos. Como já não conseguia mais dormir, levando em consideração o transporte, as estradas e o sol em minha cara, voltei a jogar meu DS. A mulher ao meu lado também tentava tirar um cochilo, visivelmente em vão.

  • Você é de Salinas? – A mulher me perguntou, após perceber que não pegaria tão rápido num sono.

Fechei o videogame e o guardei no bolso. Em outras ocasiões, continuaria jogando.

  • Não! Moro em uma cidade próxima a Uberlândia. Vou pra Salinas passar as férias.
  • Ah! Você tem parentes por lá?

“Parentes por lá”? Por que todo mundo me pergunta isso? Será que você só viaja se tiver parentes morando onde deseja ir?

  • Não, não! Tenho uma amiga que mora lá e eu vou passar as férias com ela. E você? – continuei, após ouvir dela um sonoro “Ah!” – É de Salinas?
  • Não! Sou de Belo Horizonte. Passei em um concurso federal e estou trabalhando num instituto, na parte administrativa.
  • Ah, você trabalha no “I-Efe-ne-me-gê”? – Falei cada sílaba pausadamente.
  • Sim e você? – dizia ela sorrindo.
  • Não, eu não! – retribui o sorriso e depois fechei a cara.

A conversa parou por aí mesmo. Duas horas depois, recebo uma mensagem de Larissa: “Se você chegar e eu não estiver na rodoviária, espera um pouco porque acabei de achar um cachorro e estou na luta para levá-lo para casa”.

Larissa e alguns de seus amigos de faculdade encontraram um labrador preto em frente à companhia de água, no centro da cidade, e resolveram levá-lo. Como eles não estavam próximos de casa, Hiago, um dos que a acompanhava, pediu a um carroceiro, próximo a eles, que o ajudassem.

Enquanto eles lutavam para levar o cachorro, que também era cego, a minha viagem chegava ao fim. Os morros de Salinas já eram visíveis, assim como os prédios, o mato e a terra. Também era bem notável que a cidade carregava divulgação de suas cachaças para todos os lados.

  • Salinas? – perguntei à mulher.
  • Sim! Chegamos!

Entramos na rodoviária. O ônibus desligara os motores. Finalmente, aquele tedioso caminho chegara ao fim. Desembarquei. Agora, eu poderia pegar outro ônibus e voltar à minha terra. Pelo menos foi o que eu tentei, até descobrir que os guichês estavam fechados…

Desci do ônibus, peguei minhas malas, sentei-me nas cadeiras velhas e quebradas e esperei. Esperei, esperei e esperei. E como esperei. Já não estava mais aguentando, então resolvi tomar uma atitude: resolvi esperar mais algum tempo. Após quase uma hora de espera, ligo para a garota de um metro e meio de altura (ou pouco menos que isso):

  • Larissa, você já está chegando?
  • Você está vendo um posto verde?

Andei um pouco pela rodoviária. Não encontrei o tal ponto de referência de forma alguma.

  • Não, onde?
  • Dá uma olhada pelo rumo da autoestrada que você encontra.

Olhei e avistei o posto. Próximo, uma bela garota ruiva, de sorriso estonteante, trajada de camisa preta e uma calça jeans, vinha à minha direção. Logo atrás, vinha Larissa.

Larissa começou a reparar na mulher, não olhou por onde andava, tropeçou em uma pedra e caiu num buraco. Na verdade, nada disso acontecera, então, apaguem o que vocês leram, inclusive sobre a ruiva.

De longe, respondi à Larissa com um sorriso. Ela correspondeu. Após longos três meses de espera, finalmente nos reencontrávamos. Depois de nos abraçarmos, fiz o que todo bom amigo faz nessas horas: entreguei uma das malas para ela carregar.

Há mais de cinco anos, eu e Larissa nos conhecemos em um fórum de RPG. A partir daí, nossa amizade foi crescendo, passando por boas histórias, mesmo que virtuais. No início deste ano, ela veio à minha formatura, onde nos encontramos pela primeira vez. Depois dessa, tivemos mais dois encontros: um em Montes Claros e outro em Belo Horizonte que, indo embora desse último, ela pediu para que fosse à terra da cachaça para conhecer a cidade e seus (completamente normais) coleguinhas de faculdade. E lá estava eu.

  • Conseguiu dormir durante a viagem? – Perguntou-me, sabendo que isso era quase impossível para mim.
  • Apenas de Pirapora a Montes Claros. Havia uma mulher sentada ao meu lado com um chulé insuportável.
  • Pirapora a Montes Claros? – perguntou ela, ignorando o resto da frase – Não dormiu quase nada!
  • Cerca de duas horas.
  • Olha só! Vívian pediu desculpas. Ela queria muito vir te receber na rodoviária, mas ela precisava fazer almoço. Sabe como é! Ninguém vive se não comer.
  • Pois é! Ô vida triste!

E ficamos lá parados por cinco minutos tentando imaginar o quão ruim seriam nossas vidas sem o tal almoço.

  • Da próxima vez que você vier, vá para minha casa de táxi. Não tenho obrigação de te buscar na rodoviária!
  • Gracinha você! – dizia eu, enquanto apertava suas bochechas.

E foi assim o passeio. Descida, rotatória, subida. Paramos na Rua Belo Horizonte. Sim! Larissa não largava Belo Horizonte nem quando estava a 600 km de distância.

Próximos ao nosso destino, Larissa apontou para um prédio, onde havia uma instalação da Previdência Social.

  • Quando você precisar de um ponto de referência para minha casa, é só se lembrar da “Previdência Social”.

Essa informação me foi muito útil mais tarde. Logo saberão o motivo.

  • E aquela ali, – dizia, apontando para um apartamento – é a casa de Hiago.
  • What? – perguntei assustado, parando repentinamente, derrubando a única mala que eu carregava em punho – ele mora tão perto assim?
  • Pra você ver! Mas, nem tem tanta diferença, ele vem direto aqui em casa. Vou chamá-lo. HIAGO!
  • NÃO!

Era tarde demais. Larissa já proferira aquele nome em vão. E eu pensei que conseguiria me esconder dele naquelas duas semanas que me acomodaria por lá. Pois é! Meu plano infalível estava completamente desmoronado, graças àquela ruiva maligna, que agora ria maleficamente em seus pensamentos.

Foi nesse momento que ele apareceu, ali na sacada. Só não o descrevo aqui para não apanhar depois. Então, tentem usar a imaginação de vocês.

  • Olha só quem chegou! – gritava Larissa, apontando para mim.

Acenei de longe, para não parecer mal-educado. Ele retribuiu e logo disse:

  • Agora mesmo eu desço.
  • Desce depois, pra vocês darem uns beijinhos.

Enquanto Larissa dizia a última frase com um sorriso sacana no rosto, eu fazia um sinal de negativo com as mãos, esperando que ele ficasse ali por 15 dias, trancado em casa. Quem sabe uma simpatia resolvesse.

Há três meses, enquanto eu estava em Belo Horizonte, Larissa conversava com Hiago via internet. Sabendo de algumas histórias que Larissa havia me contado sobre ele, resolvi pegar em seu pé e incomodá-lo de tal forma que ele se irritasse comigo. E o plano deu certo. Tanto que, na época de festa junina em Salinas, quando conversamos mais uma vez, ele confirmou o quanto eu era insuportável. Tanto que, ao me ver, ele desejava meu retorno. Algo recíproco.

Entramos na república, lar de Larissa, Vívian, Tchely, Brunna e Paula, três caninos, incluindo o novo labrador, e uma galera que sempre estava por lá. Hoje, reuniam-se para fazer mais um daqueles trabalhos tediosos e estudar para a prova do dia seguinte.

Como me sentia nervoso com apresentações, ainda mais com tanta gente, respirei fundo, larguei minhas malas no chão, caminhei à pessoa mais próxima de mim e esperei as apresentações de Larissa.

  • Pessoal! Este é o Álisson, Álisson este é o pessoal. Alguém quer chá?  Não? Ok! Estarei na cozinha quando precisarem de mim. Álisson, meu quarto é aqui, você pode deixar suas malas jogadas em qualquer lugar, mas não as deixe bagunçada. Obrigada e tenha um bom dia.

E fui eu lá cumprimentar as tantas pessoas que estavam ali presente. Era incrível como todos ali sabiam quem eu era e como eu sabia quem eram todos por ali, graças à própria garota que me recebera na rodoviária.

  • Álisson, Vívian está aqui na cozinha. Ela quer muito te conhecer.

E lá fui, para a cozinha, após deixar minhas malas no quarto para conhecer Vívian.

A minha história com essa mulher começou também não há muito tempo. A primeira vez que Larissa a mencionou, estávamos em Belo Horizonte, andando com sua prima Amanda e seu irmão Daniel, depois de ter tomado um delicioso milk shake. Larissa mencionara que uma de suas amigas fazia depilações.

Num belo dia, enquanto seu marido estava folgadão, deitado no sofá, sem quaisquer vestes e roncando alto, Vívian se aproveitara do momento para desenhar um nobre elefantinho em um lugar impróprio, que não posso mencionar, por haver tantas crianças inocentes que podem estar lendo agora. Ainda não contente, ela pegou seu celular, em cima de suas roupas ainda não passadas, ativou a câmera e… Click!

No dia seguinte, enquanto estavam todos falando sobre a aula prática de castração de porcos, Vívian aparece, alegre e sorridente, pulando num pé só e com seu celular na mão, anunciando para todos:

  • Gente! Olha a mensagem bonita que eu recebi!

E lá estavam todos, admirados pelo elefantinho de estimação de Vívian, segundos antes de o aparelho aparecer caído na lama, misteriosamente.

Agora, estava eu, abraçado àquela mulher, que, dias antes, me prometera fazer o mesmo.

  • Ah! Que felicidade! Finalmente estou te conhecendo! Nossa! Pensei que fosse mais alto!

Não aguentei aquela frase e a soltei. “Mais alto?”, pensava eu. Por que todo mundo pensa que sou mais alto? Larissa me falara o mesmo quando me viu pela primeira vez. Que absurdo!

  • Eu estava louquinha pra você chegar, para fazermos sexo grupal. Vamos fazer muito sexo, eu só quero sexo, nada mais que sexo.

Eu sabia que não deveria levar a sério. Mesmo assim, fiquei vermelho, ainda não habituado àquele tipo de conversa. Apenas retribuí com um sorriso. Para quebrar o gelo, ela continuou:

  • Fez boa viagem? Conseguiu dormir? – perguntou-me Vívian.
  • Não! Não consigo dormir. Há dois dias não durmo direito. Ontem estava em Uberlândia.
  • Se quiser, temos camas, temos chuveiro, pode ficar a vontade.
  • Não, obrigado! Vou deixar pra mais tarde.
  • Ah, sim! Pois, agora eu sei que você prefere fazer sexo. Também podemos fazer isso agora!

Que loucura! Sério mesmo que eu estava ouvindo aquilo?

Larissa me levou para a varanda para me mostrar o cachorro cego. Lulu, ou tio Lu, homenagem ao professor deficiente de um olho só, era seu nome. O cachorro era preto, magrinho, com quase um ano de idade e fazia muita merda, literalmente.

  • Ah, Álisson! Acabei de me lembrar! Tem umas bolachinhas aqui em cima da geladeira, da semana passada. Eu acho que você está com fome, então, toma!

Vívian me entregara um pote de bolachinhas amanhecidas. Estava feliz comendo, quando a campainha tocou. Era Letícia. Após ter entrado, ela se dirigiu à cozinha, onde me viu e me abraçou. Vívian avisara a ela que eu estava comendo suas bolachas.

  • Vai embora logo, Álisson. Pois, com você aqui eu não sou mais visita e vou acabar ficando sem minhas bolachinhas da semana passada! – dizia Letícia que, como todo mundo, parecia ter criado intimidade comigo antes mesmo de eu ter pisado a terra da cachaça.

Em relação à Letícia, natural daquela cidade mesmo, diferente da maioria da turma, a única vez que tenho conhecimento de algo sobre ela, foi quando Larissa me mostrara uma foto da turma e seu rosto alegre me chamara atenção. Era o rosto de uma garota meiga que parecia ser bastante brincalhona. Mas, não foi essa impressão que tive mais tarde.

E lá foi ela, se dirigir ao resto da turma que continuava a fazer trabalhos. Entre esse pessoal, estava Paula. Ela era a única perdida por ali, antes da minha chegada, pois, em meio a tantos veterinários, Paulinha, para os íntimos e folgados, como eu, estudava Matemática. Paula era da mesma cidade de Brunna, Francisco Sá, situada entre Salinas e Montes Claros. Ela adorava dizer que um dia ficaria louca, como o resto do pessoal. E, pelo visto, já surtia efeito.

Enquanto isso, na cozinha, Larissa e Vívian colocavam num pratinho velho, alguma comida da noite passada. Eles estavam alimentando uma cadelinha que vivia por ali, carinhosamente apelidada de Sol. Tenho pensado se esse nome foi dado devido à cor meio amarelada de seus pelos.

  • Venha, Álisson! Vamos alimentar Sol.

E para lá fomos, com um prato de comida. Lá fora, Hiago, olhava para a cadela. Para não parecer mal-educado, cumprimentei-o, sendo retribuído. Enquanto isso, Larissa alimentava o pobre animal.

  • Não, Larissa! O animal que você deve alimentar é o outro. Hiago já deve ter almoçado!
  • Ah, desculpe! – Larissa parou bem na hora que estava quase colocando uma colher na boca de Hiago, sem graça.

Enquanto a cadela aguardava por sua refeição, fui tentando puxar assunto com o garoto:

  • O cachorro é seu?
  • Não é bem meu, nem de Larissa. Achamos na rua. Estamos cuidando dela.

Algo que não entendi até hoje. Se eles estavam cuidando dela, por que não levavam para a casa de ninguém? Por que o pobre animal ainda dormia na rua? E, novamente, eu não estava falando de Hiago!

  • Você vai lá pra casa? – perguntou Larissa a Hiago.
  • Não, eu não vou! Ficarei duas semanas preso em casa. Não me visite, não me incomode, não ligue para mim neste período. – disse eu, tentando imitar a voz dele.
  • Sim, vou! Só vou terminar de preparar meu feijão e já estou indo para lá! – Respondeu Hiago, olhando-me com fervor nos olhos.

Fomos embora. Para minha infelicidade, ele estaria ali dentro de poucos minutos. Entramos, quando Vívian anunciara para todos que o almoço já estava pronto. Com isso, o pessoal que não morava ali desapareceu rapidamente. Os outros olhavam-na com cara de terror. Vívian, com um sorriso malvado, esfregava as mãos. Eu ainda não estava entendendo a situação, quando Vívian olhou bem nos meus olhos e anunciou:

  • Hoje, você provará da minha comida! – e soltou uma risada maléfica, fazendo os cachorros saíram correndo.

Vívian foi até o quarto de Brunna e depois de Tchely, chamá-las, pois ambas dormiam sossegadamente. Tchely, uma mulher ruiva e já casada, era de Belo Horizonte e adorava um soninho. Não importava se fosse de manhã, a tarde, depois do banho ou quando todos estivessem se divertindo em algum lugar, se pudesse tirar uma soneca, estaria perfeito para ela.

Minutos depois, estavam todos comendo, na cozinha, ladeado por Alice, um poodle, e Champignon, sabe-se lá qual sua raça.

Era a vez de tio Lú. Ele recebeu uma pasta amarela, com algo preto encrustado, como se fossem percevejos. Após seu almoço, Vívian começou a preparar o banho do canino. Nesse momento, a campainha soava. Era Hiago.

E lá foram os dois banhar o animal. Aproveitei para tirar algumas fotos, inclusive uma em que Vívian subia as calças de Hiago, que não paravam de cair em momento algum, mostrando a todos uma cena bastante desagradável. Quando fui reclamar, ele ainda me soltou algo do tipo:

  • Se não quiser ver estrelas, não olhe para o céu!

À tarde, o pessoal retornara. Alguns entravam com medo, perguntando se todos já haviam almoçado.

Enquanto as oito pessoas se acomodavam em uma pequena mesa branca de plástico para apenas quatro, Vivian, inconformada, vai até mim, após ouvir o toque de celular de Larissa:

  • Você já ouviu o toquinho de celular da Larissa? Umas músicas malucas que ninguém entende nada, coisa de gente louca.
  • Rá! Sei bem do que você está falando, quer ver? Larissa – virei-me a ela – dá um toque no meu celular.

E a música Best Wishes, abertura japonesa de Pokémon da 14ª temporada, começou a soar de meu celular. Comecei a dançar ali mesmo.

  • Ah, você também? – Indignou-se Vívian – tenho medo de que essa loucura seja contagiosa.
  • Eu te falei, Vívian! Isso é completamente normal! – dizia Larissa, com um sorrisinho no rosto.

E lá foi o pessoal estudar. Como eu ainda não estava enturmado, deitei-me na cama de Larissa e fui ler um pouco. O livro que estava lendo era o último da saga Harry Potter, pois o filme já estava com dias contados para a estreia e eu não queria ir vê-lo antes de terminar a leitura.

Quando o sol já estava próximo de se deitar, pedi a Larissa e Vívian que me mostrassem a cidade. E lá fomos nós conhecer alguma coisa. Vívian nos prometera uma casquinha de sorvete no final do trajeto, o que deixou as duas crianças que a acompanhavam felizes. Sim, eram Larissa e esse que vos escreve.

Andamos um pouco e já estávamos bem no centro da cidade. Em frente a uma escola, onde a rua era dividia por um canteiro, lá estava uma mina de ouro para Vívian: Escondida entre algumas pedras, um daqueles remédios novos em folha para o ouvido. Animada, ela grita:

  • Ah! Era isso mesmo que eu estava precisando! Vou levar para casa!
  • Vívian, você é maluca! Não sabe o que isso pode ter. – disse-lhe.
  • Vou olhar mais. Talvez encontre outra coisa. – e ela procurou, sem me dar ouvidos.
  • Ela é sempre louca desse jeito, Larissa? – perguntei.
  • Às vezes ela age pior.

Sim! Essa é Vívian. Muitos de vocês devem estar assustados, como eu, mas não se preocupem. No fundo, no fundo, no fundo, bem lá no fundo, talvez, deva existir uma pessoa sã. Ou não.

Para confirmar o que eu acabei de dizer, quando estávamos em frente à Policlínica Salinense, Vívian fez questão de parar e dizer:

  • Ah! Eu amo tanto esse lugar. Eu amo tanto as pessoas que estão aqui. Elas são tão legais, gosto muito deles. E eles gostam muito de mim. Sou tão feliz com todos eles.

E ficou lá sonhando acordada. Fiquei tentando imaginar se aquilo era realmente uma policlínica, ou um sanatório camuflado, depois de tais palavras. Tive vontade de entrar e conhecer. Como meu cérebro já estava a ponto de “fritar”, parei de pensar.

Continuamos a andar. Se estivéssemos no mar, continuaríamos a nadar. Um fato curioso da cidade é a quantidade de funerárias. Vívian chegou a chamar minha atenção devido a esse fato:

  • Tá vendo aquela funerária, moço? Ajudei a levantar! Foi um tempo de aflição, eram quatro condução, duas pra ir, duas pra voltar…
  • Mas, Salinas nem tem condução, moça! – falei sem entender a piadinha.
  • Não, burro! Idiota! Retardado! Estou cantando uma música de Zé Ramalho.
  • Ok! Já entendi, Zé Ramalho! Mas, agora pode me dizer o que tem aquela funerária? – dizia eu à Vívian, depois de ter ouvido seu cover.

Vívian parou por um momento, foi até mim, diminuindo o tom de voz e me disse, com uma cara muito séria e de olhos bem arregalados:

  • Olhe bem para o banner. Raciocina comigo: Funerária, pessoas mortas. No banner, uma família feliz, que deve representar os donos da funerária. Logo, eles ficam felizes quando alguém morre!
  • Muito bom, Vívian! Estou admirado com sua linha de raciocínio!
  • Ah, obrigada! – disse ela muito sorridente – Isso é o resultado dos testes de CSI!
  • Deve ter tomado bomba! – sussurrei.

Depois, fomos à praça da igreja. Lá foi o local das tendas de festas juninas, realizadas há um mês. Lamentei-me por não ter ido.

  • Enquanto estávamos aqui nos divertindo, você preferiu ficar em casa. E por quê? Agora fica aí arrependido de não ter vindo! – Esbravejava Larissa.

Depois, fomos até a Praça do Banco do Brasil. Em volta, uma das agências do Sicoob Credinor. Fiquei feliz, pois era a cooperativa que eu trabalhava e exclamei algo a respeito. Larissa já foi logo soltando:

  • Isso que é amor pelo serviço.

Quando estávamos dando uma volta pela praça, Vívian pediu que parássemos em frente a uma árvore:

  • Aqui estamos, Vívian. O que você pretende agora?
  • Vou dar uma amostra pole dance para vocês.

E lá foi ela. Perna esquerda no chão, perna direita no galho da esquerda, braço direito no topo da árvore, braço esquerdo na placa do lado, cabeça entre dois galhos estreitos, barriga virada para o chão…

  • Que contorcionismo! – exclamei.
  • Vamos embora daqui de fininho. Dá tempo de nos salvarmos. – sussurrou Larissa.

E lá fomos nós, voltando para casa, enquanto Vívian continuava sua dança, até que:

  • Ué? Cadê todo mundo? Ah! Deve ter ido comprar sorvete! – e lá foi ela continuar seu espetáculo.

Mais tarde, quando já estávamos em casa e depois de Vívian ter brigado por não termos esperado, a campainha tocava. Letícia, Erick e João eram alguns nomes que me recordo agora. Erick morava em Ouro Preto. João era de Salinas mesmo. Já conhecia muito bem o instituto, lugar onde estudara desde que era pequeno. Hoje, com 19 anos, João continuava pequeno. E ficou assim pelo resto de sua vida. Mas, a história não acabava por aqui.

O trabalho a ser desenvolvido naquela noite exigia que se fizesse a representação das glândulas mamárias bovinas de uma vaca. Quero deixar bem claro que vou deixar a frase escrita dessa maneira para que pessoas leigas como eu possa entender, então, por favor, não me corrijam. A representação poderia ser feito em cartolina, papel A4, massa de pão ou hieróglifos. Um grupo escolheu o papel e o outro a massa de pão. E o pão nos lembrou de que estávamos com fome. Eis então que um deles grita:

  • Vamos ao Farley!

Em Salinas, não havia muitos lugares de reuniões juvenis. Farley era um dos que o pessoal conhecia. Lá, eram servidos sanduíches de vários recheios e sucos de apenas três sabores. Como eu estava louco para conhecer, fui. Éramos cinco: Paula, Erick, Vívian, Larissa e eu. Chegamos, sentamo-nos à única mesa que havia do lado de fora e esperamos pelo garçom. Ao chegar, Vívian foi logo dizendo:

  • Estou sem dinheiro, estou com fome, estou devendo. Vou propor sexo com Farley.

Neste momento, o garçom aparecera para nós. Um garoto de quase dez anos de idade, que já chegou perguntando:

  • Quem vai pedir primeiro?

No mesmo momento em que ele fizera essa pergunta, Vívian continuou sua fala:

  • Quem mais vai querer fazer sexo comigo e com Farley?
  • Eu! – Respondi levantando o dedo, referindo-me ao garçom. – Quais sucos vocês têm?

Vívian começava a rir, acompanhada de Larissa, Erick e Paula. Eu nem prestava atenção no que eles estavam fazendo.

  • Temos suco de maracujá, maracujá com leite, maracujá com maracujá, maracujá com polpa, maracujá de ontem, maracujá nativo e chá de maracujá.
  • Quero maracujá com polpa – dizia Paulinha.
  • Maracujá de ontem – gritava Erick.
  • Maracujá com Maracujá – disse Vívian, passando a língua nos lábios.
  • Quero chá de maracujá – falou Larissa, tão baixo que ninguém escutara.
  • Desculpem! Acabaram todos. Só temos maracujá e maracujá nativo.
  • Eu vou querer um suco de laranja, por favor. E coloquem aquelas sombrinhas que vocês baianos adoram! – disse, empurrando os óculos contra a face. Como sabia que não usava óculos, peguei os de Larissa emprestados, só para fazer esse gesto.

O resto da turma pedira maracujá nativo. Não pedi exatamente por não conhecer o suco, já que aquilo não era natural na minha terra. Quando chegou, fiz questão de roubar o copo de Paulinha para provar um pouco.

Pedimos então os sanduíches. Examinei um a um para não desperdiçar o dinheiro. Ali, cada sanduíche custava, em média, R$ 5,00. O suco era apenas R$ 1,00. Algo raro em minha terra, já que os sucos naturais ultrapassavam a casa dos três reais. No cardápio, os sanduíches possuíam nomes estranhos. Não eram como os daqui que tinham nomes de carro.

Para não fazer feio, resolvi pedir um frambúrguer, que era um sanduíche como outro qualquer, alterando apenas a carne bovina por carne de frango, caso alguém não tenha compreendido o nome. O garçom em miniatura anotou os pedidos e se foi. Enquanto esperávamos, tiramos algumas fotos. Depois, Vívian apanhou um de seus cigarros e foi fumar ao meu lado:

  • Vívian, qual a graça que você vê em fumar? – perguntei-lhe.
  • Eu não fumo para rir! – disse-me, com cara de desaprovação, soltando uma boa quantidade de fumaça em meu rosto.

Por fim, começamos a cantar uma música que Larissa já estava cantando há alguns dias: Não aprendi dizer adeus, de Leandro & Leonardo. Quem a ouvia, não estava bem. Quem estava bem, ficava depressivo. Quem estava depressivo, ficava na fossa. E quem estava na fossa, estava a ponto de cometer suicídio. Larissa já estava no penúltimo estágio. Por isso, cantamos todos juntos para ver se ela resolvia se enterrar de uma vez por todas. Quando já estávamos no auge da música, uma garçonete, provavelmente mãe ou tia do menino, aparecera anunciando:

  • Quero avisar que o frango acabou – disse ela, sorrindo, enquanto dois ou três frangos saíam de fininho atrás dela.
  • Sim, e isso quer dizer o quê? – Perguntei, ainda não ligando que frambúrguer era feito de carne de frango.
  • Vocês não pediram frambúrguer? – perguntou a garçonete.
  • Sim! Mas, o que isso tem a ver? – insisti.

Um a um, os que me acompanhavam na mesa batiam suas mãos, abertas, na testa. A garçonete começou a bater sua cabeça contra a parede rebocada.

  • Alguém pode me dizer o que está acontecendo? – Elevei o tom de voz.
  • Álisson! – dizia Paulinha, calma, colocando a mão em meu ombro – não tem Frambúrguer.
  • E por que vocês não me disseram isso antes? Tudo bem, então. Pode ser um hambúrguer tradicional. Mas, ao invés de carne de boi, ponha de frango.
  • Senhor, o frango acabou! – disse a garçonete, um pouco nervosa.
  • E por que vocês não matam outro frango? – falei no mesmo tom.
  • Porque não temos frango. O frango acabou, temos que ir comprar!- disse-me ela, já aos berros.
  • E por que vocês não vão comprar a porcaria desse frango? – berrei também.
  • Álisson, relaxa e pede um hambúrguer. – disse Vívian, calma.
  • Ok, um hambúrguer por favor! – pedi.

E lá foi ela, dando-se por satisfeita ao sair de lá, depois de tanta discussão. Para acalmar os nervos, voltamos a cantar.

♪ Não aprendi dizer adeus, mas tenho que aceitar, que amores vêm e vão, são aves de verão. Se tens que me deixar.. ♪

 

Depois de tanta espera, os lanches chegavam. Do outro lado da rua, um homem, de cabelos cumpridos e barba por fazer, passava. Larissa, Vívian e Erick gritavam, em coro:

  • Ou, Felipe!

Felipe, professor de ecologia da turma da veterinária, passeava com seu cachorro. Ele foi até onde estávamos e nos cumprimentou:

  • E aí, pessoal, tudo tranquilo? Já corrigi a prova de vocês e quero dizer que todos se deram mal, inclusive vocês dois – disse, apontando para mim e Paulinha. – o que vocês estão comendo? Ah! Hambúrguer! Vou querer um de frango.
  • NÃO TEMOS MAIS FRANGO! – Berrava a mulher lá dentro.

Todos se entreolharam. O professor, sem graça, resolve se despedir, mesmo não dando tempo de ninguém ter falado nada.

  • Até amanhã, pessoal.

E lá se foi o homem. Na hora de pagar a conta, foi um conta-moedas para todos os lados, dinheiro jogado ali, dinheiro jogado aqui. O menino, que representava muito bem um garçom, ficava desorientado.

Saímos do local, chutando, empurrando e derrubando cadeiras e mesas. E fomos embora felizes da vida. Larissa aproveitou o momento para informar-me de algo que ainda não tínhamos acertado:

  • Álisson, quinta-feira iremos para Montes Claros. Vamos ver o show da Paulinha.
  • Sério que vamos ver o show de Paulinha?

Meus olhos brilhavam. Ir para o show daquela mulher para olhar suas belas pernas era tudo o que eu queria. Neste momento, um palco brotou do chão, no meio da rua, fazendo um monte de carros se congestionarem (eram três, no total). Paulinha, a aluna da matemática, pega um microfone, sobe no palco e começa a cantar.

Vai se entregar pra mim… ♪

 

            – Uhul! Paulinha! Nós te amamos! – berrávamos todos, enquanto levantávamos uma bandeira com os mesmos dizeres.

  • Como a primeira vez… – continuava Paulinha, empolgando-se cada vez mais.
  • OK! Chega de se entregar e vamos embora pra casa – disse Vívian, impaciente, puxando Paulinha dos palcos pelos cabelos, enquanto a garota dava um de seus gritinhos histéricos.

Enquanto caminhávamos, Larissa e eu cantávamos outras canções antigas de sertanejo, o que deixava Vívian mais furiosa ainda. O problema era que a maioria das músicas eu conhecia. Sucessos como “tira essa roupa molhada”, eram cantadas em alto volume para que todos ali, naquela cidade, pudessem escutar. Algo triste de se ver em uma juventude que caminhava para a perdição.

Quando chegamos à república, o pessoal ainda trabalhava arduamente. Letícia e João já bocejavam, reclamando por termos demorado tanto. Como já estava tarde, todos se despediram. Decidiram terminar no dia seguinte. Arrumamos as camas e fomos dormir. Larissa e eu dividíamos o quarto, com as duas cadelas, enquanto Tchely, Brunna e Paula dividiam a mesma cama de solteiro. E a noite prosseguia com uma sinfonia de roncos, uivos e latidos.

Enquanto isso, naquela madrugada, Sol partia em busca de sua felicidade.

Mais ou menos Salinas (1)

Capítulo 1: E esse ônibus que não chega nunca

O relógio já marcava 21h quando cruzava os limites de Uberlândia. Ao meu lado, uma mulher, de sotaque baiano, já anunciava enquanto tiravas suas enormes botas pretas do pé:

  • Não se preocupe, não tem chulé!

Eu precisava disfarçar meu desconforto ao perceber que aquele cheiro subia rapidamente ao meu nariz e virei o rosto. “Que alívio!”, pensei por estar do lado do corredor, até ver que outra mulher, uma senhora de, mais ou menos 60 anos, também tirava seus sapatos. Neste momento, ouvi um celular tocando ao meu lado. Era o da mulher de sotaque baiano.

  • Oi, meu bem, como você está?
  • Ah, oi amor! Estou muito bem e você? – Respondi, fazendo biquinho.

Nisso, a mulher me olhou com cara de desprezo e apontou para o celular Motorola, modelo PT-550.

  • Ah, não é nada! É só um idiota aqui do meu lado, falando com a namorada ao celular que, por sinal, deve ser uma baranga por namorar um cara feio desses! – Novamente ela me deu uma olhada com sua cara de desprezo.

Tudo bem em me chamar de feio ou dizer que minha namorada poderia ser uma baranga, mas dizer que eu estava ao celular quando neste momento ele estava dormindo em meu bolso? É muita covardia pra uma pessoa só! Aquilo precisava de medidas drásticas! Então, fechei meus olhos e vi uma linda cena em que eu puxava os cabelos da moça e fazia sua testa “beijar” a janela de sua poltrona. Reabri os olhos e lá estava eu com um sorriso sacana no rosto.

  • Devo chegar aí por volta de três horas da manhã. Então…

Neste momento, todos os passageiros se viraram para nós, ao ouvirem a mulher gritando com seu marido:

  • TRATE DE LEVANTAR CEDO E ME BUSCAR NA RODOVIÁRIA, PORQUE, A ÚLTIMA VEZ, VOCÊ ME DEIXOU PLANTADA ESPERANDO POR 1 HORA! 1 HORA! QUE DROGA DE MARIDO É VOCÊ?

Todos ali presentes, inclusive o cobrador (o motorista não escutara) estavam assustados. Quem era aquela mulher? O que ela estava fazendo ali? Quais eram seus planos malignos? E por que o lagarto se transforma em borboleta, depois de virar um casulo? Essas eram questões que eu precisava responder. Então, levantei-me e procurei minha lupa de detetive. Aí, lembrei-me de que não me dispunha de uma e voltei a me sentar.

  • Tá bem, amor. Estou ansiosa para revê-lo. Eu também te amo. Beijos!

A mulher desligava o celular e o guardava em sua bolsa. Ela também demonstrava um belo sorriso. Pelo visto, e como todos também perceberam, ela era muito apaixonada pelo homem que deixara em sua cidade. Resolvi arriscar um assunto, enquanto ela, cuidadosamente, colocava seus pés descalços nas costas da poltrona em frente:

  • Então, você é da caravana de onde?
  • Eu sou de Pirapora!
  • Cadê a torcida de Pirapora? – levantei-me e falei alto para a turma inteira do ônibus ouvir.
  • Cala a boca, eu quero dormir! – gritava um irritadinho, ao fundo.

Então, sentei-me, muito sem graça, a espera de alguém vir ao meu encontro para me consolar. Como ninguém veio, continuei a conversa com aquela simpática mulher:

  • E, então…
  • Então… – disse ela sorrindo.
  • Está quente, não? – Perguntei meio sem assunto, sabendo que a temperatura interna era de 16ºC.
  • Muito! – disse ela, fechando sua blusa de frio.
  • Pois, é!

Eu estava me sentindo muito ridículo quanto àquela situação. Não conseguia puxar um assunto sequer. Pelo visto, como todas as minhas outras viagens, não iria conseguir fazer uma nova amizade. Mentira! Pois, da última vez, consegui fazer amizade com o cobrador.

Aconcheguei-me na poltrona. Puxei a alavanca que estava do meu lado direito para deitá-la, mas, para minha infelicidade, a poltrona estava quebrada. Descobri isso segundos depois, quando já estava em uma posição de 180º e eu estava com olhos mirando bem dentro do vestido da garota que se sentava atrás de mim.

Alguns minutos depois de eu ter arrumado a poltrona e ter ganhado um belo roxo de cinco dedos em meu rosto, lá estava eu tentando pegar num sono novamente. Como não consegui, resolvi novamente puxar assunto com a mulher ao meu lado que, neste momento, olhava com solidão para a paisagem noturna pintada pelas mãos divinas:

  • E, então, você tem parentes aqui em Uberlândia?

Assustada, ela virou seu rosto para mim, deu um sorriso e começou a responder:

  • Sim, sim! Mainha mora aqui. Passei um fim de semana inteiro com ela. Muito bom! Não tinha conhecido uma cidade tão bonita quanto essa. Espero que volte logo.

Ela me contou que passeou pelo Parque do Sabiá, um zoológico que havia na cidade. Também passeou no shopping, viu alguns filmes, comeu no Habib’s e ainda dançou ao som de Lady Gaga em alguma boate GLS por aí.

  • Essa última é mentira! – disse a mulher para o narrador da história.

Com isso, acabei me lembrando do que fiz com meu amigo André nesse domingo. Aproveitamos para andar pelas lojas de brinquedos, lojas de cds e dvds, olhamos os livros mais interessantes (a livraria, inclusive, possuía o nome de tantos escritores, que fiquei imaginando se algum dia poderia ver o meu ali), ainda vimos alguns jogos e fomos brincar com um tal de iPad.

Mais tarde, ainda fomos ao cinema para ver em 3D o filme Transformers. Reclamei com ele ainda, já que eu detestava o filme, mas não nego que tive arrancadas boas gargalhadas de mim.

Ao final do dia, ainda fomos à igreja e jantamos em uma pizzaria. O garoto estava encantado, pois era a primeira vez que ele ia a um rodízio de pizza, além de comer uma deliciosa fatia de pizza de chocolate (lá, conhecida como ‘sensação’). Depois, pegamos um táxi e ali, na rodoviária, nos despedimos. Ele voltando para casa e eu rumando para a longínqua cidade da cachaça.

Adormeci. Neste momento, o ônibus já estava saindo de Pirapora. A mulher ao meu lado já desembarcara. Será que seu marido a buscara? Caso contrário, ele apanharia.

Amanhecera. Já eram 6h quando entrávamos em outra cidade. Percebi que havia adormecido devido à baba fresca no canto da boca. Limpei-a. Olhei para o lado do corredor e perguntei a uma mulher do meu lado onde estávamos. Entramos em Montes Claros.

“Montes Claros?”, pensei. Como chegamos tão rápido se pelos meus cálculos chegaríamos depois das sete? Ainda havia mandado algumas mensagens à Larissa sobre tal fato para que ela pudesse arrumar um táxi para mim e isso só seria possível se eu chegasse na hora que eu realmente estava chegando. Mas, agora era tarde. Eu já não podia mais pedir que a garota nascida em Belo Horizonte, que já morou em Montes Claros e agora estudava em Salinas, remarcasse para mim.

Olhei para o relógio. 6 horas e 7 minutos. Comecei a me desesperar. Em uma das mensagens dela estava escrito que o ônibus com destino a Salinas desembarcaria em oito minutos. O próximo seria apenas às dez. E nem sinal da rodoviária. Ficar sozinho numa cidade daquelas por tanto tempo me dava um frio na espinha. O que eu faria até lá? E que mal seria chegar depois das 13! Mas, um pouco de esperança ainda havia em mim.

6h10. O ônibus finalmente estacionara em seu destino. Tentei sair o mais depressa possível para conseguir pegar minhas malas e embarcar. Salinas começava a ficar mais perto do que eu imaginava. O coração batia forte, mais acelerado. A emoção tomava conta de mim.

Fui o primeiro a chegar ao bagageiro, depois do cobrador, claro! Ele já abria uma das portas e começava a tirar as malas.

  • Moço, por favor, o senhor poderia pegar minhas malas? Eu preciso viajar e o ônibus está a ponto de sair.
  • Muito bem! – dizia o cobrador – qual é a sua mala?
  • Ela não está nesse compartimento, está no outro.
  • Sinto muito! Eu não estou autorizado a abrir o outro bagageiro enquanto não esvaziar este.
  • Mas, eu preciso delas agora, senão vou perder o ônibus.
  • Lamento, não há nada que eu possa fazer.

“Não há nada que eu possa fazer?” Como não? Era só abrir a droga do outro bagageiro e entregar o que eu precisava! Isso é o que eu chamo de má vontade! Deveria era ter fechado a porta de onde ele estava e deixá-lo trancado até que alguém sentisse falta. Assim, ele aprenderia! E apodreceria!

Sim, eu estava revoltado. Mas, não tinha muito tempo para me preocupar com isso. Saí correndo até o outro ônibus e lá estava o motorista, recebendo as passagens de outras pessoas.

Respirei fundo. Não era algo tão grave, se olhasse por outro ângulo. Fiquei do lado do homem de uniforme e supliquei:

  • Com licença, moço. Eu preciso viajar neste instante pra Salinas, mas ainda preciso pegar minhas malas. Você pode esperar pelo menos uns cinco minutos só para eu pegá-las?
  • Olha, rapaz, é o seguinte. – começou o motorista, em um tom mais agressivo – Eu não posso me atrasar pra viajar, então não vai achando que eu vou poder esperar você voltar ao hotel pra buscar suas benditas malas. Vai lá correndo. Se der tempo, você embarca, senão você pega o próximo ônibus.
  • Minhas malas estão no outro ônibus! – já estava exasperado – eu só estou esperando o outro cobrador descarregar as outras malas para eu poder embarcar!
  • Já disse que não posso atrasar aqui. Se quando você voltar o ônibus tiver partido, pegue um táxi e peça para o taxista te deixar na Rua Pimentel que nós fazemos embarque por lá. Você tem quinze minutos. Boa sorte! – disse ele, sumindo nas sombras.

E, neste momento, eu via Salinas afundar. A vontade que eu tinha, depois de trancar um e enforcar o outro, era de desistir de tudo aquilo e voltar para a minha terrinha, mas eu já estava longe e não podia desistir. Ainda havia esperança, pois havia uma luz e era aquela luz que… como era mesmo o resto da música?

Aproveitei a adrenalina que pulsava forte em meu sangue e voltei para o primeiro ônibus. Finalmente o outro bagageiro estava aberto. Passei na frente de todos e já fui falando alto para o motorista:

  • Senhor, minhas malas! Eu preciso delas para viajar! O ônibus já está saindo!
  • Muito bem, quais são suas malas? – disse ele, atendendo prontamente, talvez para compensar o que fizera.
  • São aquelas duas ali no fundo. – eu apontava para as malas, próximas a ele.
  • Lamento senhor, mas não posso tirar as malas do fundo antes de retirar essas que se encontram à minha frente.

Era inacreditável. Sentia o chão abrir sob meus pés. Aquele dia, recém-nascido, acabara de morrer para mim. Salinas virava pó neste momento. Era triste pensar que naquele início de férias nada mais daria certo. Eu já nem sabia o que fazer. Todos os meus sentimentos brigavam entre si para ver quem comandaria minhas próximas reações.

Tudo sumira. As pessoas, as rodoviárias, os montes. Eu teria que ficar mais quatro horas naquela cidade, esperando e esperando. E sabe-se lá o que…

  • Para de drama, Álisson! – dizia uma voz antes de dar um tapa na minha cabeça, fazendo-me acordar de meu transe.

Finalmente, as malas estavam acabando. Depois de tanto sofrimento, recebi-as. Fui correndo para o outro ônibus e, num salto, capotei. O ônibus já saíra da plataforma e já estava virando para sair da rodoviária.

Eu poderia ter me ajoelhado naquele instante e começado a chorar, mas nem todas as minhas esperanças se esgotaram. Parti para o último recurso que me restara: Dirigir-me à Rua Pimentel por meio de um táxi. E, se isso tudo isso falhasse, aí sim, ajoelhar-me e chorar como uma criança que perde seus doces no meio da rua.

Corri para a ala dos táxis e já parei o primeiro que vi:

  • O senhor pode me levar até a Rua Pimentel? Preciso pegar o ônibus que vai para Salinas e ele para lá para embarcar as pessoas.
  • Claro, entra aí!

Apressadamente, joguei as malas no banco de trás, fui para o banco da frente, sentei-me, fechei a porta e esperei o taxista acelerar. E ele acelerou. Apontei para o ônibus que estava na nossa frente e disse:

  • Siga aquele ônibus!

Rá! Eu sempre quis dizer isso. Mas, para minha infelicidade, ele disse:

  • Tenho outro plano. Consigo chegar ao ponto antes que você possa imaginar.

E lá fomos nós rumar para outra estrada. Aquela velocidade, somada à emoção de chegar antes do horário, sem saber quanto tempo levaríamos, dava uma sensação de estarmos em um daqueles filmes de ‘Velozes e Furiosos’. Até pegaria minha máquina fotográfica para registrar esse momento único, mas estava tão preso àquela emoção que deixei para lá.

E o táxi não corria, mas voava. Cada lombada era uma sensação de frio no estômago e adrenalina pura. E quanto mais ele corria, menos eu tinha a sensação de que chegaria a tempo. Sim, estava numa sensação completamente reversa. Eu já nem sabia de mais nada, só sabia que queria chegar vivo ao meu destino.

O ponto já estava à vista. De longe, eu via aquele ônibus azul se aproximando. Não haveria tempo de embarcar. Era tenso poder imaginar que não acabaria bem. Mas, neste instante, o taxista saltou de sua poltrona e logo ficou de frente para o ônibus. Destino: Januária.

  • Fique tranquilo! Não é este.

E aí ele perguntou aos outros futuros passageiros sobre o ônibus que eu aguardava.

  • O ônibus para Salinas já foi?
  • Não, ainda estamos esperando! – Respondia uma mulher loira, já grávida de quatro meses.

Respirei mais aliviado. Era muito bom saber que nem tudo estava perdido. Agora era só esperar pelo ônibus. Estava quase pulando nos braços do taxista de tanta felicidade, quando ele anunciou em alto e bom som:

  • Quinze reais.

Ele anunciara o preço da corrida. Do voo, melhor dizendo. Olhei para o taxímetro e, novamente, olhei para ele, com cara de desconfiado. Estava marcando R$ 11,40.

Percebendo que não deveria ter dito isso, ele tentou consertar:

  • Mas, tudo bem! Vou cobrar só R$ 13,00.

Resolvi relevar. Motivos? Eu já estava impaciente com toda aquela história. Queria apenas repousar meu ‘assento’ e viajar em paz. Fora que ele também conseguiu me deixar ao destino antes que o ônibus pudesse aparecer. Por último, mas não menos importante, eu sou rico! Muito rico! Logo, aquele dinheiro não me faria falta alguma.

Tirei as malas do banco e me juntei ao povo. O taxista partira. Agora, era hora de esperar. E esperamos. Após dez minutos, lá estava o ônibus que tanta raiva me fizera passar. O ônibus parou. O cobrador desceu. As malas foram postas no bagageiro. Quando fui subir, o motorista me abordou:

  • Deu tempo, né?

Ele me disse isso com um singelo sorriso sacana. Como não queria briga nem nada, apenas disse:

  • Graças a Deus, né?

“Não graças a você, que fez questão de me fazer sofrer e gastar dinheiro” – pensei.

Mesmo tão revoltado, embarquei, procurei uma poltrona livre, deixei minha mochila no chão e me aconcheguei. Abri um dos zíperes da mochila e peguei meu videogame portátil, um DS. Ao meu lado, uma jovem mulher, muito bonitinha, de cabelo Chanel que tentava dormir.

Comecei a jogar para passar o tempo. Pelos meus cálculos, chegaria ao meu tão demorado destino às dez da manhã, agora mais tranquilo por não haver mais paradas.

De tantos jogos, escolhi Pokémon. Meu Piplup já estava quase evoluindo, quando sinto um leve movimento proveniente de meu bolso. Puxei meu celular, olhei o visor e fiquei feliz com o nome que li.

Era Larissa, que agora me ligava pra saber exatamente onde eu estava e combinarmos minha chegada.

Camino al sol

Ao som de “Camino al Sol”, RBD, redijo este texto.

Há bons dois anos, conheci um amigo que me ensinou várias coisas a respeito do que é se sentir só, como deveria agir, o que poderia fazer. Pois bem, contemos um pouco da minha história:

Passar quase a vida inteira sozinho ou com poucos amigos não é uma tarefa fácil. Se você passou toda sua vida só fica difícil imaginar como seria a vida diferente. Podemos criar expectativas ou más impressões, depende de cada pessoas. Mesmo assim, você sente falta de alguma coisa, de estar com alguém, de ter alguém para quem contar seus problemas. Quando você é uma pessoa já mais popular e perde aquela quantidade imensa de amigos, é pior, pois você se arrepende de certas coisas que você fez ou do que poderia ter feito.

Pois bem, esse amigo me fez perceber que eu não deveria ficar lamentando com essa minha vida solitária, mas que deveria sempre olhar pelo lado positivo das coisas, entender que tenho amigos que quero bem, que eu não preciso me mudar para agradar ninguém e que os bons e velhos amigos sempre estarão ao nosso lado.

Apesar de não sermos mais amigos, carrego muitas coisas positivas para o resto da vida. Aprendi a dar valor aos amigos que tenho e não sair “caçando” novos para aumentar números. Aprendi que nunca se está só quando se tem pessoas que se importam e que, mesmo que um amigo esteja muito distante, tanto física quanto mentalmente, não quer dizer que se esqueceram de nós.

Não que seja drama ou uma tentativa de chamar a atenção, mas todos têm o direito de se sentirem sós, tristes, confusos, mal humorados ou qualquer outro sentimento ruim. O que não se pode fazer é brigar com outros por esses motivos ou deixar que isso domine sua vida. Siga em frente enquanto é possível, erga a cabeça e vá viver digna e saudavelmente.

A respeito da letra da canção: Você pode ter muitos problemas, pode ser que amanheça e você não queira sair da cama, pode haver muitas feridas que não se cicatrizem, pode ser que ninguém esteja te escutando, você pode estar se sentindo confuso, mas não deixe de viver intensamente, não deixe se abater porque você não teve um bom dia. Viva, sonhe, cante, sorria, dance sem medo, mas não se deixe vencer! Que venham os problemas, mas que eles sejam superados, pois, não importa o quanto seu dia esta nublado: o sol renascerá!

A quem também estiver se sentindo só por hoje ser dia dos namorados, esse texto também vale. Não se lamente por hoje você estar só, pois nunca sabemos o dia de amanhã.

Ciclo que não para

Funciona assim: Você rotula e critica alguém. Faz brincadeiras preconceituosas, exatamente pelo que elas são e diz que é só brincadeira. Não importa o que a pessoa seja, o que importa é rebaixá-la alegando ser apenas brincadeira, principalmente se for algo já “manjado” pela sociedade. Em nome do humor, esse tipo de atitude é completamente aceito, mesmo que o alvo não tenha te feito nada de mais.

E aí quando alguém te diz verdades, ou faz brincadeiras de mal-gosto, te critica ou não aceita seu jeito de viver, você simplesmente briga com essa pessoa. Você não aceita qualquer verdade, pois as pessoas não sabem o que você está pensando. “O que você faz ou como você vive ou a forma como você age é normal. Por que estão dizendo isso?”

Aprenda! É exatamente isso o que as outras pessoas sentem. Raiva! Por que com você tem que ser diferente se é exatamente isso que faz com outras pessoas, mesmo que indiretamente, mesmo que seja para divertir os idiotas como você? Já parou pra pensar que as maiores ofensas vem na forma de brincadeira? E aquela frase que diz: “Certas brincadeiras trazem um fundo de verdade”?

Nessa vida o que nos vem, volta. Respeite e tenha consciência dos seus atos. Você pode estar perdendo um amigo por coisa à toa ou deixar de conhecer alguém que seja melhor que você os outros seres que te rodeiam. Você se acha “foda” porque consegue fazer rirem aqueles seus amigos “populares” que riem de qualquer besteira pejorativa? Pois é, uma hora isso não vai ter mais graça. Eles também rirão de você.

Aqueles que sempre te quiseram bem, aos poucos, vão se afastando, consequentes dessa atitude e quando você olha ao seu redor, só encontra pessoas como você, que criticam e julgam os outros, que você acha normal, atitudes que um dia pra você pode ter sido uma ofensa. Resultado: você aprende a ser quem nunca foi.

Você aprende a fingir, perde sua identidade, torna-se estranho aos velhos amigos e, sem perceber, toma um rumo bem divergente do que imaginava. “Mas, qual o problema quanto a isso? Se há pessoas que não suportam seu jeito, é problema delas, não é? Afinal, é muita besteira agirem assim, é muito drama. Essas pessoas choram à toa, tem mais é que curtir a vida. Essas pessoas precisam dar mais importância à vida delas e ignorar idiotas como nós, certo?”

É por isso que não me admira que no mundo tenha tanta violência, consumo de drogas e bebidas, depressão, bullying e outras desgraças, que têm ocorrido a cada dia com mais frequência. Culpem a sociedade, que preferem criar mais e mais esses que optaram pelo pior caminho. “Afinal, a culpa é toda deles, o que nós fizemos? Eu não tenho culpa disso.”

E quando isso acontece, lá vão os outros julgar novamente que essas pessoas simplesmente fazem o errado, quando não sabem a causa de tudo. Mas, não se lembram daquele pobre garoto que foi subjulgado e discrimado quando tinha apenas 12 anos. “Pois, era divertido brincar assim, era divertido machucar quem era mais fraco que nós, era divertido mexer com quem nos era diferente da sociedade, era divertido alimentar seu ódio.”

É um ciclo que não para.

Repense seus atos, antes que você machuque alguém profundamente.

Vive la Fête – Noir Désir

Je veux être seule
Reste là, toi ta gueule
Je ne peux pas me calmer
Laisse-moi t’embêter

J’ai trop des tristes pensées
Pour ça je veux crier
Je ne suis pas contente
Furieuse comme un enfant

C’est la manie
C’est la manie

Je ne suis pas genée
J’ai un esprit troublé
Donne-moi un peu de temps
Ça passera par le vent

Je veux être seule
Reste-la, toi ta geule
Je ne peux pas me calmer
Laisse-moi t’embêter

C’est la manie
C’est la manie

Je veux être seul
Reste là, toi ta gueule
Je ne peux pas me calmer
Laisse-moi tempêter

C’est la manie


Tradução:

Eu quero ficar sozinha
Não te aproxima, cala a boca
Eu não posso me acalmar
Me deixa extravasar

Eu tenho muitos pensamentos tristes
Por isso quero gritar
Eu não estou contente
Furiosa como uma criança

É a mania
É a mania

Eu não sou tímida
Eu tenho um espírito problemático
Me dá um tempo
Isso passará pelo vento

Eu quero ficar sozinha
Não te aproxima, cala a boca
Eu não posso me acalmar
Me deixa extravasar

É a mania
É a mania

Eu quero ficar sozinha
Não te aproxima, cala a boca
Eu não posso me acalmar
Me deixa extravasar

É a mania

Só mais alguns dias

No final de janeiro, eu e meu irmão, ambos fissurados por jogos e proprietários de dois consoles fabricados pela nintendo (o Nintendo Wii, console de mesa e o Nintendo DS Lite, portátil), resolvemos comprar pelo mercado livre (empresa virtual que trabalha com vendas de produtos entre usuários comuns) dois controles classics para relembrar a infância com jogos antigos de Super Nintendo e Nintendo 64, já que jogos de Game Cube e Play Station não foram possíveis de jogar.
Para quem não conhece, eis aí os produtos que pedimos:

Os controles vêm com grip (espirram a cada dois segundos =), que são esses suportes que vocês podem ver abaixo deles, facilitando seu manuseio (alguns preferem sem, eu mesmo pensava assim, mas agora vejo que essas coisinhas bonitas ajudam, ao invés de atrapalhar).

Depois de curtos dois meses de espera, esperando os controles chegarem da China, xingar o vendedor, reclamar com o mercado livre, brigar com todo mundo que me via com cara feia na rua e ter exigido que o ML excluísse o perfil do camarada, finalmente as belezinhas chegaram para alegrar a vida da criançada.

E agora, podemos relembrar o velho Super Mario Bros. 3, que nos acompanha em vida desde 1996, época em que foram lançados os consoles Nintendo 64 (Nintendo) e Play Station (Sony), e detonar a trilogia Donkey Kong Country que, caso não tenham reparado, é composto por três jogos =).

Diddy, Donkey Kong, Rimbo e um inimigo aí
Fig. 02: Donkey Kong em cima de Rimbo, o rinoceronte, pronto para acertar o chifre na…

Fig. 03: Donkey Kong encarando o inimigo para ver se ele se assusta com sua cara feia

Fig. 04: Donkey Kong feliz por estar rodeado de tantas bananas

E para que não fuja da sequência, eu (representado pelo Donkey Kong, o gorilão) e ele (representado pelo Diddy Kong, o gorilinha) resolvemos começar com o 1 e terminarmos no 3 (até porque se não for assim, não zeraremos na sequência =).

Agora estou eu aqui na sala jogando-o no modo 2 players, tendo que revesar os controles, exatamente porque meu irmão está no quarto invocado no computador. Com certeza algo muito divertido que todos deverão experimentar =).

Pisar

É mais fácil pisar em alguém…

Para quê se importar com os outros?
Posso ter quem eu quiser aos meus pés
Posso dizer o quanto eles devem gostar de mim
Posso brincar com os sentimentos de cada um.

É tão mau e tão bom sentir esse gostinho de poder
Tomar o poder das pessoas em nossas mãos
Fingir que se gosta delas
Dar a elas, apenas às vezes, o que elas querem
Para que elas possam nos dar tudo o que queremos.

E não é preciso ser bonzinho
Quem é bonzinho não consegue o que quer
É sempre passado pra trás
É sempre o idiota da história.

Então, pra quê ser o bonzinho
Se é mais fácil pisar nos outros?

Flutuar

Era apenas uma leve brisa que tocava minha pele
Algo que poderia me fazer desligar de um mundo tão movimentado
Viajar para um lugar mais calmo, onde flutuar fosse lei
Onde eu pudesse viver mais tranquilo, em paz.

Como é o pensamento de quando se troca o surreal pelo real
E o real pelo surreal?
Quando tudo que você viveu poderia ter sido apenas fantasia
E sua fantasia pudesse brotar, não apenas em você.

Sentar-se sobre campos altos, sentir aquele vento gelado
Fechar os olhos e não poder pensar em mais nada
Não se descaracterizar para viver em grupo
Apenas sentir-se flutuar.

Flutuar e viajar por um mundo distante
Abrir as asas e não querer voltar
Encontrar-se livre da vida
E viver a liberdade a seu favor.

Cansei

Fica difícil tentar assim,
Às vezes tento fazer diferente, mostrar como me sinto,
Mas você apenas ignora.

Parece que não correspondo a nada do que você queira
Parece que só os maus corações são capazes de conquistar o seu
E eu sempre tentando te mostrar que tudo pode ser diferente
Pra, ao fim, não ter nenhum reconhecimento.

Agora eu cansei.
Se você acha que eu não sei viver sem você,
Nem pense que você está certo.
Eu aprendi a viver com minha própria solidão
E aprendi que ninguém pode me tirar dela.

Você sempre me diz que não posso ser assim
Sempre me diz que estou exagerando,
Mas, você já parou para perceber que você também me trata assim
Que você é mais um que contribui para essa situação?

Desisto.
Melhor continuar assim.
Pelo menos eu sou mais feliz.
E você, é só mais um pra contar história.

R$ 25,00

Um homem chegou em casa tarde do trabalho, cansado e irritado encontrou o seu filho de 5 anos esperando por ele na porta .
– “Pai, posso fazer-lhe uma pergunta?”
– “O que é?” – respondeu o homem.
– “Pai, quanto você ganha em uma hora?”
– “Isso não é da sua conta. Porque você esta perguntando uma coisa dessas?”, o homem disse agressivo.
– “Eu só quero saber . Por favor me diga, quanto você ganha em uma hora?”
– “Se você quer saber, eu ganho R$ 50 por hora.”
– “Ahh…” o menino respondeu, com sua cabeça para baixo.
– “Pai, pode me emprestar R$ 25,00?”
O pai estava furioso,
“- Essa é a única razão pela qual você me perguntou isso? Pensa que é assim que você pode conseguir algum dinheiro para comprar um brinquedo ou algum outro disparate? Vá direto para o seu quarto e vá para a cama. Pense sobre o quanto você está sendo egoísta .Eu não trabalho duramente todos os dias para tais infantilidades.”
O menino foi calado para o seu quarto e fechou a porta.
O homem sentou e começou a ficar ainda mais nervoso sobre as questões do menino.
Como ele ousa fazer essas perguntas só para ganhar algum dinheiro?
Após cerca de uma hora, o homem tinha se acalmado e começou a pensar.
Talvez houvesse algo que ele realmente precisava comprar com esses R$ 25,00 porque ele realmente não pedia dinheiro com muita frequência. O homem foi para a porta do quarto do menino e abriu a porta.
-”Você está dormindo, meu filho?”, Ele perguntou.
– “Não pai, estou acordado”, respondeu o menino.
– “Eu estive pensando, talvez eu tenha sido muito duro com você a pouco…”, afirmou o homem. “Tive um longo dia e acabei descarregando em você. Aqui estão os R$ 25 que você me pediu.”
O menino se levantou sorrindo. “Oh, obrigado pai!” gritou. Então, chegando em seu travesseiro ele puxou alguns trocados amassados.
O homem viu que o menino já tinha algum dinheiro, e começou a se enfurecer novamente.
O menino lentamente contou o seu dinheiro , em seguida olhou para seu pai.
– “Por que você quer mais dinheiro se você já tinha?” – Gruniu o pai.
– “Porque eu não tinha o suficiente, mas agora eu tenho”, respondeu o menino.
– “Papai, eu tenho R$50,00 agora. Posso comprar uma hora do seu tempo… Por favor, chegue mais cedo amanhã em casa. Eu gostaria de jantar com você.”
O pai foi destroçado. Ele colocou seus braços em torno de seu filho, e pediu o seu perdão.

É apenas uma pequena lembrança a todos vocês que trabalham arduamente na vida. Não devemos deixar escorregar através dos nossos dedos o tempo sem ter passado algum desse tempo com aqueles que realmente importam para nós, os que estão perto de nossos corações. Não se esqueça de compartilhar esses R$50,00 no valor do seu tempo com alguém que você ama.

Se morrermos amanhã, a empresa para a qual estamos trabalhando, poderá facilmente substituir-nos em uma questão de horas. Mas a família e amigos que deixamos para trás irão sentir essa perda para o resto de suas vidas.

Foto de cottonbro no Pexels

Valor ao valor

Sempre aquela velha frase: “Dê valor a quem te dá valor” ou “Dê valor a quem realmente importa”, mas morre por aí mesmo. E é sempre assim: é mais fácil criticar, falar mal, fazer críticas sobre a atitude de certas pessoas do que elogiá-las ou motivá-las com aquilo que realmente é certo. E aí, são inúmeros testes pra saber se vale mesmo a pena ter aquela amizade.

Aquele ditado “só se dá valor ao que se perde” não é apenas mais um que inventaram, mas o que cada um deveria refletir. Pensar que uma pessoa se preocupa bastante com você, que faz tudo, que te ajuda quando as coisas não estão fáceis e acreditar não ser necessário retribuir ou apenas em certas ocasiões, pode ser cômodo para você e desgastante para outra pessoa. Isso corrói o sentimento que vive dentro dela e o mata um pouco a cada dia. E, assim que percebido, aquele sentimento de amor ou amizade torna-se repúdio e os afasta aos poucos. Quando você percebe, perdeu alguém que antes te valorizava. Seu coração treme e a saudade o aperta. E, se você não liga, pode ter certeza de que contribuiu para o mal de alguém.

E por que agir assim? Por que é melhor valorizar quem não te valoriza e desvalorizar quem gosta de você? Não seria meio irônico? E, se aquilo que você diz ser brincadeira, sendo muitas de mal gosto, é mais fácil do que expressar sentimentos, também não é mais fácil que percam a fé em você? E por que é melhor agir assim com quem é mais vulnerável?

Por ser tímido e um pouco anti-social, minha forma de agir é mais ou menos assim: Tento dar uma chance à amizade. Uma, duas, três, dez vezes e até mais se for necessário. Prefiro dizer às pessoas o que realmente sinto, antes que possa ser tarde demais e, por causa disso, sei que muitas vezes não há retorno. E, sim! Isso desgasta um coração. Por isso, quando me afasto de alguém, faço aos poucos, até que aquilo possa morrer completamente em mim. E termina assim.

Comédia MTV – Patrícia Poeta

Adoro beijo na boca
Eu não sei assoviar
Nunca vi estrela cadente
Não cuido de plantas
Digito com um só dedo
E adoro beijo na boca

Continua…

Obrigado, pai!

Eu sei! Eu posso não ser perfeito, reclamar de tudo e não concordar com suas palavras, mas tenho que admitir o quão agradecido por ter comigo essa pessoa tão maravilhosa. Pode até parecer clichê ou palavras de filho que queira ganhar alguns pontos com o próprio pai, mas o que tenho notado ao longo dos anos, comparando àqueles que eu tenha conhecido por aí.

Eu posso ter vários grandes amigos e considerar os pais deles como meus, mas substituir esse grande homem, jamais! Meu pai pode não ser perfeito, mais não é isso que eu desejaria. Apenas que ele seja bom e me mostre o caminho certo e me permita fazer minhas próprias escolhas.

Ele pode não me dar dinheiro ou bens materiais sempre que eu peça, mas me dá carinho, amizade e presença paterna.

Ele pode não ser o aquele a sempre dizer coisas certas, mas mostra suas perspectivas e me permite decidir.

Ele não bebe para ficar violento, bêbado ou passar vergonha, mas para se animar e poder se divertir com amigos.

Ele pode até ter uma discussão com minha mãe, por exemplo, mas não chega a levantar a mão para ela.

E com ele sei que posso ter minhas ideias, tenho liberdade para discutir, falar o que penso, ter minha liberdade, sem qualquer punição, enquanto tantos outros pais batem no próprio filho, acreditando que são seus donos e que devem sempre fazer o que é de seu feitio, mesmo que já sejam maiores de idade.

Tudo tem seu limite. Pai deve agir como pai: ensinar, castigar de forma correga quando for necessário, ser presente, dar amor e carinho, não como forma de presentes materiais. Isso pode até agradar o filho, mas pode ter certeza de que isso, e quando for só isso, poderá afastá-los futuramente.

E, por isso, agradeço ao pai que tenho.

Como fugir da aula com estilo

This is our Superman

Nimus, vol. 01

Voltando um pouquinho o tempo, há alguns anos, quando ainda não tinha esse blog, gravei alguns CD com as músicas que ouvia na época. De lá pra cá, acabei montando uma coletânea e espero poder continuar por algum tempo.

Hoje, vou apresentar para vocês algumas faixas do primeiro CD gravado. O nome Nimus não tem nada de mais, apenas uma sigla para músicas nacionais e internacionais.

Fx. 1 – Pra te fazer cantar (Br’oz)
Vencedores do Popstars Masculino em 2003, apresentado no SBT, o primeiro álbum da carreira conta com 14 faixas. Essa é a minha favorita.

Fx. 2 – Bla Blá Blá (Rouge)
No mesmo programa, mas um ano antes, surge Rouge. Esse é o primeiro álbum delas sem a integrante Luciana Andrade.

Fx. 3 – It’s My Life (Bon Jovi)
Ídolo do Rock antes mesmo da virada do milênio, Bon Jovi conquistou muita gente com esse hit aqui:

Fx. 4 – Ojos Así (Shakira)
Encantando o mundo desde o seu single de ’95, a colombiana encana a todos com suas muitas habilidades, como cantar, dançar, encantar, tocar instrumentos e rebolar (entre outras). Aqui, uma música no estilo dança do ventre.

Fx. 8 – Dois Rios (Skank)
Uma banda mineira que está em meu coração desde “É uma partida de futebol”, lá em 1995, que sempre esteve muito presente nas rádios. Essa é perfeita!

Fx. 9 – Teto de Vidro (Pitty)
Desde 2003, Pitty tem sido uma ótima adição ao cenário do rock brasileiro. Que tal relembrarmos um pouco da primeira faixa de seu primeiro CD?

[Atualizando] Confira a playlist completa:

Quer um pouquinho de toucinho?

Uma geladeira que abre assim

Natal, eu e mamãe andando pelas ruas da cidade.


Nenhuma dessas pessoas é minha mãe, mas eu tô ali

Procuramos por uma geladeira que ela queria (juro, gente, descobri o que era Fost Free nesse dia, aheuaehuae).

E aí, ela para na frente de um vendedor, completamente sério, que estava de costas para uma fileira de geladeiras:

– Moço, eu quero uma geladeira que abre assim…

Terminou de falar e fez o movimento de como se abre uma geladeira qualquer.

O vendedor, ainda muito sério, fixou-se em frente à geladeira mais próxima (que era dessas duplex bastante comum) e abriu a geladeira da mesma forma que ela havia feito com o movimento. Neste instante, minha mãe fechou a geladeira com toda a força, mais do que o vendedor, aparentando um movimento brusco e grosseiro.

– Não, não é dessas que estou falando.

Neste instante, não me aguentei de tal cena e me pus a rir, de forma que eu não pudesse parar tão fácil. Tive que sair de perto para que o vendedor não percebesse minha falta de educação. Neste momento, minha mãe explicava, exatamente o que ela queria. E, então, voltei ao normal.

No fim, ainda tive que me deparar a outra cena protagonizada por minha mãe: ela havia se esbarrado em outro vendedor, distraído, e quase caiu no chão.

Da próxima vez, vou querer sair com ela para comprar um fogão que abre assim…

Créditos: Image by Alexas_Fotos from Pixabay

Nunca desista da vida

Tudo é possível ao que crê

Sempre existe uma saída

Deus não se esqueceu de você…