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Memes antigos

Oi, galera =)
Bora ver uns memes antigos?

  1. Fazendo anjo, manda pra mim

2. Minha casa, minha vida – e eu decoro como eu quiser

3. Entendendo a piada – é, eu demoro

4. Chove lá fora, aqui dentro…

5. Só quem é pai ou mãe que entendem

Um ótimo fim de semana pra todos!

Não há flores em setembro

Quando eu era apenas uma criança, vi meu pai sair enfurecido de casa com as malas nas mãos. Ele gritava com minha mãe, que chorava tão alto que os vizinhos podiam ouvir. Meu pai se foi e minha mãe ficou ali, sem dizer uma palavra. Eu, com tão pouca idade, mal entendia o que acontecia, enquanto nos envolvíamos naquele doloroso abraço. E, pela primeira vez, setembro não floresceu.

Por um bom tempo, ela sempre me dizia que tudo estava bem, que a vida era feita de altos e baixos e o passado havia ficado para trás, mas eu não sentia firmeza em sua voz e suas ações se perdiam em seus pensamentos sofridos. A solidão a abraçava todas as noites e o travesseiro era o único conforto para seu choro quase silencioso.

Os anos se passaram lentamente e nunca mais vi mamãe amar de novo. Ela desistiu de seu coração partido, enquanto se esforçava em ser a melhor mãe do mundo. Eu me tornei, tão jovem, o homem da casa e prometi protegê-la smpre, mas no auge dos meus quinze anos, o que eu entendia sobre maturidade, se por tantos anos nunca soube o que era ter uma figura masculina ao meu lado, que me ensinasse, por seus olhos, o que a vida era?

Mas ele não estava lá no meu primeiro dia de aula, ele não estava lá quando ralei meu joelho no futebol, ele não estava lá quando tive minha primeira namoradinha, nem quando chorei por ter pedido meu primeiro amor. Ele não estava lá na minha primeira apresentação de violão e nem estava lá para me ensinar a fazer a própria barba. Ele nunca esteve quando precisei, eu não precisava mais dele para amadurecer. Eu apenas seria quem gostaria de ser.

Os anos continuaram se passando e me tornei um homem direito, com responsabilidades e um bom emprego. Minha mãe também aprendeu com o tempo que podia seguir sozinha e, mesmo com tantas cicatrizes em seu coração, continuou a seguir com todo o seu carinho. Sem rancores, sem lamentos, ela voltava a sorrir, mesmo sabendo que algo lhe faltava. Eu sentia isso. E também sentia que me algo faltava, mas eu nunca mais derramei lágrimas para aquele senhor.

Eu só não queria que o destino me pregasse uma peça, quando, anos mais tarde, encontro aquele homem, sentado no chão, em vestes de mendigo, levantando sua mão para mim, perdido no álcool, pedindo-me dinheiro. Naquele momento, nossos olhos se encontraram e ele me reconheceu. Estávamos em lágrimas. Muita coisa se passou na minha cabeça e, por um instante, congelei. Agora eu lutava contra meu orgulho e meu passado e não me permitia escolher se ia embora ou se lhe estendia a mão em busca de um recomeço.

A garota no parque

Primeiro Ato 

Blim-blém (pausa). Blim-blém (silêncio). 

De longe, ouvia-se o velho sino do Parque Central. Barulhento e tenebroso. Alguns juravam ouvir um ruído junto. Outros, diziam ser apenas o ouvido cansado de um morador ancião. 

Blim-blém (pausa). Blim-blém (silêncio). 

Duas da manhã. O silêncio se rompera com a sinfonia dos ventos. Fazia frio. Não havia quaisquer estrelas e a lua tímida escondia-se atrás de uma nuvem carregada. 

Enquanto a cidade inteira dormia, minha namorada e eu procurávamos um bom lugar para um afago. Próximos a um balanço, nos sentamos. Ainda não havíamos notado o pequeno playground tão próximo. 

– Poderíamos trazer Bibi algum dia. 

Silêncio. Fran tremia. Notei suas mãos roxas e geladas. Entreguei-lhe meu sobretudo e a deitei em meu peito enquanto a abraçava. Ela se aconchegava em mim, enquanto me respondia: 

– Não quero trazê-la aqui. Disseram ser este um lugar muito ruim para crianças pequenas. 

– Bobagem! 

Os boatos diziam que naquele parque muitas garotinhas sumiam, sequestradas, e tinham suas almas roubadas. Boatos nunca confirmados, mas Fran não arriscaria sua irmã caçula num local como aquele. 

– Não quero que aconteça nada a ela – Ela me dizia com lágrimas nos olhos. 

– Nada de ruim acontecerá a ela, eu prometo – Abracei-a forte, enquanto beijava-lhe a testa – Vocês duas sempre estarão protegidas comigo. 

Então, ela me abraçou de frente, com um sorriso. Feliz por meu poder de persuasão e por tê-la acalmado. Mas algo havia me deixado intrigado: Um par de sapatos brancos próximo ao balanço, que eu não havia notado. Minha primeira reação foi empurrá-la. 

– Ai, você está me machucando, Mateus. 

Voltei a mim. Num reflexo rápido tornei a olha-a, assustado. 

– O que foi que você viu? – Ela me perguntava séria, olhando para trás. Os sapatos haviam desaparecido. 

– Não, nada, nada. Devo ter ficado impressionado com alguma coisa. Algo que… bem… é… devo ter visto… num filme… num filme de terror, isso, é… num filme de terror. 

– Você só vê filmes de desenhos. 

– Quando estou com você. 

– Você mora comigo! 

– Vejo quando você está dormindo… 

– Mateus, você sempre dorme primeiro que eu! 

– Mas, é que, eu vejo… primeiro que… 

Passos. Susto. 

– Você ouviu isso? 

Estávamos os dois em choque. O que estava acontecendo? Silêncio. Fran olhava para todos os lados. Nada a vista. 

Silêncio. 

… 

– Aaaaaahhhhh…! 

– O que foi? – perguntei assustado. 

– Ali, atrás de você. 

Olhei. Nada. Ela jurava ter visto uma garotinha de olhos brancos atrás de mim. Então, senti algo pesado em meus braços: Fran perdera seus sentidos. 

Segundo Ato 

“Toda noite venho ao balancinho, 
Piso nessa areia pra brincar 
Mamãe não gosta nada, nada, nada 
Meu sapatinho branco vai sujar…” 

Nhéque – nhéque – nhéque – nhéque 

“Meia noite e meia no parquinho, 
Fujo pra sozinha vir brincar 
Mamãe não gosta nada nada nada
Pois sempre me demoro pra voltar…” 

Nhéque – nhéque – nhéque – nhéque 

Há um boato naquela estranha cidade que diz que todas as segundas-feiras, quando o Parque Central se encontra inóspito, é possível escutar uma voz doce e distante de uma garotinha de quatro ou cinco anos, seguido do rangido do balanço. Alguns moradores já solicitaram a retirada do playground, mas o último prefeito que tentou fazê-lo desapareceu misteriosamente. Desde então, ninguém mais quis arriscar sua vida. 

O boato começou há muitos anos, por conta de um cozinheiro famoso da cidade. Ele possuía um restaurante com comidas requintadas, deliciosas e possuía um dom divino em sua arte. Todos na cidade o elogiavam. Seu restaurante vivia cheio e lhe trazia bons frutos. 

Mas, sua vida não era tão feliz quanto. Um dia, ao chegar mais cedo em casa, pegou sua mulher com seu melhor amigo e o matou ali mesmo, escondendo o corpo. 

Ele continuou casado com a mesma mulher, mas tornara-se um homem frio e sem brilho. Deixou o restaurante para vigiar sua mulher por 24 horas. Mesmo assim, não se dava por satisfeito e a acusava de muitas coisas. Batia e a agredia verbalmente. Ensandeceu-se. Quando sua filha nasceu, duvidou que tivessem o mesmo sangue. 

Durante um bom tempo, a garotinha e a mãe viveram em um cárcere em seu porão. Contam por aí que a menininha sempre via a lua pela janela alta daquele quarto frio e dizia à sua mãe que queria brincar lá fora com seus amiguinhos, mas ela só respondia frases curtas, como as da canção da garota. 

Quando completou quatro anos, a garotinha conseguiu escapar e correu como pode. Encontrou o parque e foi se divertir no playground. Por um infortúnio, enquanto ela brincava naquele balanço velho, seu pai furioso a encontrou, depois de não a ter encontrado no porão. Sem testemunhas, ele a enforcou com as cordas do balanço e enterrou seu corpo ali, embaixo do balanço. Uma semana depois, sua voz interior gritou mais alto e ele foi ao delírio. Suicidou-se, sem qualquer cerimônia. 

Acreditando que algo assim jamais aconteceria, eles trocaram as cordas por correntes de ferro. Já a mãe, até o último instante de sua vida, ficou internada em um sanatório, onde diziam que ela vivia com uma boneca nos braços, tendo esta por sua filha. 

“Meia noite e meia no parquinho
Corro iluminada pela lua
Mamãe me disse: ‘filha não vá sozinha,
Pois tenho medo  que ele possa te encontrar'” 

Nhéque – nhéque – nhéque – nhéque 

“Gosto tanto do meu balancinho
Nele brinco, brinco sem parar
Posso ficar a noite inteirinha
Mas papai já está aqui para…” 

Terceiro Ato 

– Venha brincar comigo, garotinha. Venha ser minha irmãzinha. 

– Quem… é… – Fran estava apavorada. 

– Vem brincar comigo no balanço. 

Fran notava que os olhos da garotinha eram brancos, de uma forma estranha. 

– Quem é você? – perguntou Fran com mais coragem. 

– Eu sou sua irmãzinha caçula. Eu quero brincar com você. Estou tão solitária. Venha, tome um chá comigo. Está quentinho, acabei de fazer. 

– Solitária? Você não tem mãe, irmãs, amigas? 

– Mamãe morreu há muitos anos. E eu sempre faço novas irmãzinhas, sempre aparecem para brincar, mas desaparecem depois de um tempo e eu tenho que buscar outra vez. 

– Buscar? Como assim buscar? Do que você está falando, garota? 

– Às vezes vem uma garotinha ou outra brincar no meio da noite e eu a arrasto para o balanço e ela desaparece logo, logo. 

A garotinha cruzou os braços, enquanto fazia cara de emburrada. 

– Mas, mas é claro, tudo faz sentido agora! É você quem as sequestra e depois rouba suas almas. O que você faz do corpo dessas pobres garotinhas? 

Então, a garotinha abre os braços como se dissesse “não sei” e depois solta uma gargalhada sinistra. 

– MONSTRA, SUA MONSTRA! – gritava Fran aos prantos. 

– Fran, fran, acorde, o que está acontecendo? 

Fran se debatia nos braços de Mateus, enquanto continuava a gritar com a garotinha. 

– Você vai me dizer onde escondeu todos os corpos ou vou matar você. 

– Você nunca irá conseguir me matar, pois eu… – a voz da garotinha engrossava, enquanto seus olhos brancos brilhavam e sua boca expelia sangue – já estou morta e vou te levar junto, para o meu túmulo HA HA HA! 

Assustada e suada, Fran acordava nos braços de Mateus. 

– No balanço! No balanço! Elas estão no balanço. 

– Fran, fran, se acalme, que você está dizendo? – Mateus perguntava apavorado. 

– Temos que destruir o balanço. Os corpos devem estar enterrados logo abaixo. É pra onde ela os leva, para seu túmulo. 

Mateus estava um pouco assustado, pois o boato do prefeito desaparecido era forte, mas não sabia no que acreditar. Mesmo assim, eles pegaram algumas ferramentas no porta-malas e atacaram o brinquedo favorito da garotinha. 

Blim-blém (pausa). Blim-blém (pausa). 

O relógio marcava três horas quando o balanço caía. 

Blim-blém (pausa – estrondo do balanço caindo – grito desesperado de uma garota). 

O céu ficou branco por alguns instantes, indicando que o espírito havia se recolhido para sempre. 

– Conseguimos! Mandamos a alma pra… 

– O serviço ainda não acabou, Mateus, temos que descobrir o paradeiro das crianças… 

E os dois começaram a cavar a areia do parque. Ao bater em alguma coisa dura, tiraram o excesso da areia até que pudessem ver o primeiro corpo de uma criança, já sem vida. Depois viram o segundo e logo o terceiro. Entreolharam-se com medo, enquanto engoliam a seco. 

Acionaram a polícia. Em poucas horas, o local estava tomando de pessoas chorando, enquanto a chuva caía. A garota do parque estava se despedindo de todas as suas irmãzinhas. 

Mateus e Fran voltaram para casa suados, cansados e sujos. Eles não estavam felizes, apesar de terem resolvido um mistério de anos. Ter em suas mentes a imagem de tantos corpos pequenos os assombraria todas as vezes em que eles fossem tomar o devido repouso em seus travesseiros. 

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La chica en el parque – dibujo por Luis Mendes

Créditos da Imagem do Banner: Photo by Leon Seibert on Unsplash

Bird set free

Era um bar como os de antigamente. Aquela iluminação amarelada e mais fraca, lustres antigos, velas bem distribuídas, um palco de madeira e um barman atrás do balcão. Todos se vestiam como antigamente. Sentados, comendo suas porções, riam e conversavam animadamente. A música era tranquila e o aroma remetia aos velhos tempos.

Então, as luzes se enfraqueceram e o silêncio se fez presente. O piano substitui a canção de fundo enquanto o palco se ilumina, seguindo meus passos. Atentamente, a plateia aplaude e sorri.

Estou amarrado, “protegido” de mim mesmo em uma camisa de força, a boca vendada, mas com os olhos em cada um. Estou pronto para interpretar como assim me ordenaram. Estou pronto para desempenhar o papel que me foi imposto. Estou pronto para mostrar uma imagem construída de uma felicidade que disseram ser minha. Estou pronto.

Não, eu não estou pronto.

Eles querem ver ali no palco, a pessoa perfeita que eles não conseguiram ver, querem ditar o que deveria ser meu caráter, bagunçar minha personalidade e modificar meus princípios. As atitudem, são eles a classificarem, certas ou erradas, adequadas ou não. A minha voz, eles a calam ou aumentam conforme o melodia.

Eles também querem que eu seja eu mesmo.

Enquanto isso, vejo em seus rostos, os pássaros que ainda não se chocaram, as flores que ainda não desabrocharam. Eu vejo aquele relacionamento autoritário com a pessoa ao seu lado que você diz que ama. Vejo ela fazer exatamente o que eu sofri. E eu não posso te gritar isso, pois você está surdo. Eu não posso te mostrar, porque você está cego. Eu não posso te fazer gritar, pois você está mudo. Eu não posso fazer mais nada, pois não sei mais quem você é.

Como também não sei mais quem sou. Eu tenho uma voz a se fazer ouvir e sei que ela está dentro de mim, mas não sei como fazê-la fluir. Meu corpo arde em chamas com esse desejo e é isso que me liberta de minha própria camisa de força, que se queima, dando lugar às minhas asas que se abrem de forma vigorosa.

Eu posso cantar, eu tenho minha voz.

Alguns aplaudem, como se pudessem sentir sua própria liberdade, incentivados pela criança habitante de cada um, mas alguns ali não estão felizes, não querem perder o controle. O pássaro não pode chocar.

Os aplausos cessaram, repentinamente.

E eu só pude ver uma multidão apressada a ir embora. O espetáculo se finda aqui. Ou quase. Talvez um fio de esperança havia, quando alguns sorrisos eu recebi.

O piano enfim se calou, mas a chama apenas começava a se queimar.

A criança e o abarjur

Uma criança não pode ver um abarjur que fica ligando e desligando ele. Olha a cara de felicidade da pessoa quando está ligado.