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Não há flores em setembro

Quando eu era apenas uma criança, vi meu pai sair enfurecido de casa com as malas nas mãos. Ele gritava com minha mãe, que chorava tão alto que os vizinhos podiam ouvir. Meu pai se foi e minha mãe ficou ali, sem dizer uma palavra. Eu, com tão pouca idade, mal entendia o que acontecia, enquanto nos envolvíamos naquele doloroso abraço. E, pela primeira vez, setembro não floresceu.

Por um bom tempo, ela sempre me dizia que tudo estava bem, que a vida era feita de altos e baixos e o passado havia ficado para trás, mas eu não sentia firmeza em sua voz e suas ações se perdiam em seus pensamentos sofridos. A solidão a abraçava todas as noites e o travesseiro era o único conforto para seu choro quase silencioso.

Os anos se passaram lentamente e nunca mais vi mamãe amar de novo. Ela desistiu de seu coração partido, enquanto se esforçava em ser a melhor mãe do mundo. Eu me tornei, tão jovem, o homem da casa e prometi protegê-la smpre, mas no auge dos meus quinze anos, o que eu entendia sobre maturidade, se por tantos anos nunca soube o que era ter uma figura masculina ao meu lado, que me ensinasse, por seus olhos, o que a vida era?

Mas ele não estava lá no meu primeiro dia de aula, ele não estava lá quando ralei meu joelho no futebol, ele não estava lá quando tive minha primeira namoradinha, nem quando chorei por ter pedido meu primeiro amor. Ele não estava lá na minha primeira apresentação de violão e nem estava lá para me ensinar a fazer a própria barba. Ele nunca esteve quando precisei, eu não precisava mais dele para amadurecer. Eu apenas seria quem gostaria de ser.

Os anos continuaram se passando e me tornei um homem direito, com responsabilidades e um bom emprego. Minha mãe também aprendeu com o tempo que podia seguir sozinha e, mesmo com tantas cicatrizes em seu coração, continuou a seguir com todo o seu carinho. Sem rancores, sem lamentos, ela voltava a sorrir, mesmo sabendo que algo lhe faltava. Eu sentia isso. E também sentia que me algo faltava, mas eu nunca mais derramei lágrimas para aquele senhor.

Eu só não queria que o destino me pregasse uma peça, quando, anos mais tarde, encontro aquele homem, sentado no chão, em vestes de mendigo, levantando sua mão para mim, perdido no álcool, pedindo-me dinheiro. Naquele momento, nossos olhos se encontraram e ele me reconheceu. Estávamos em lágrimas. Muita coisa se passou na minha cabeça e, por um instante, congelei. Agora eu lutava contra meu orgulho e meu passado e não me permitia escolher se ia embora ou se lhe estendia a mão em busca de um recomeço.

Correntes Invisíveis

O mundo ao nosso redor está se desmoronando. Vejo o chão empoçado de sangue. O sangue jorrado por tantas mentiras e injustiças que dominam todas essas pessoas que me cercam. 

Tento me manter forte, mas é psicologicamente impossível. Quase isso. Ataques em demasia provindos de lugares que menos espero querem me ver cair e implorar para que eu seja como eles. Eu me recuso todos os dias. 

Conheço-me bem. Viver todos os dias sob essa pele não é fácil. Minha insegurança me aterroriza, mas aprendo a vencê-la dia após dia para que nada possa me derrubar. 

Percebeu como sou? Sou como você, com medo de viver após cada manhã. Às vezes sinto meu coração quase parar de bater, mas deixo a emoção fugir e a razão fala mais alto. Não permitirei que me tirem a única coisa que tenho. Dignidade. 

Olhe agora nos meus olhos. Você me diz que quer morrer, pois esse seu mundo em que você se trancou está cada dia mais fraco. As trincas já se enferrujaram e a madeira já está toda corroída por esses cupins que nos enchem a cabeça de seus próprios fatos. “Você tem que ser como nós”, é como eles te falam, não é? Eu te entendo. 

Venha comigo, eu não permitirei que nossa morte venha tão prematuramente. Lutaremos juntos para encontrar nosso caminho e eles que se ferrem. Não nos subordinaremos, nem permitiremos que a tristeza nos visite. 

Quebre essas correntes invisíveis envoltas em suas pernas. Se não for capaz, eu até te dou uma mãozinha, mas sua ajuda é essencial.  Pare de se lamentar pelas coisas que você não consegue e pensar que pôr fim nisso tudo é a solução. Eu estou aqui, não estou? Sou a prova de que nós temos um espaço por aqui e invadiremos aqueles há quais ainda não pertencemos. 

Não temos que nos assemelhar a nenhum rótulo. Se somos tão parecidos, melhor caminharmos juntos, não? Portanto, vamos à luta. Não desista de mim. Luto a fim de aumentar minha força, mas se estivermos juntos, esse poder que carregamos se multiplica. 

Então, venha! É hora de recuperarmos nossas vidas e encontrarmos tantos outros que sofrem pelo caminho. Venha! Chegou nossa hora de vencer. 

Image by Comfreak from Pixabay

Last Hope

Desistir…

Palavra que ecoa tanto em minha cabeça. Obstáculos que me derrubam, fazem-me chegar até aqui. Estou chorando. Meu coração, despedaçado. Minha cabeça dói. Estou uma bagunça. Não vejo ninguém. Não vejo nada.

Desistir?

O destino me trouxe até aqui. Apenas um robô controlado por mãos alheias. Não almejo algo tão metódico. Pensei que, guiado, seria mais feliz, mas as dificuldades fazem parte do processo. Serei feliz apenas quando der o meu melhor, quando souber quem sou de verdade, quando à prova, me por.

Desistir? Jamais!

Há uma faísca que pode crescer e se tornar um fogo de esperança. Apenas uma faísca, mas o suficiente para me fazer crecer.

Eu durmo e acredito que tudo será diferente amanhã. Serei melhor e farei melhor. Durmo com muitos planos para o dia seguinte. Amanhã será um dia melhor. Ao acordar, percebo que nada mudou. A vida é aquela velha vilã de todos os dias.

Uma velha vilã? Então venha! Sou um novo heroi a cada dia, disposto a vencê-la e hoje estou preparado. Tudo será do mesmo jeito enquanto eu permanecer intacto. Está na hora de transformar toda essa esperança em ação. Deixe que a vida aconteça, que eu a transformo em algo melhor.

É apenas um brilho de esperança, mas o suficiente para elevar um espírito guerreiro, para estar de pé dia após dia e lutar por aquilo em que acredito. As feridas já não me machucam mais. Sei que já fazem parte de mim e por isso as tratarei como lembranças que me fizeram amadurecer. Estou mais forte e é essa força que me mostra que toda essa esperança que carrego, não é em vão.

Então, deixo que a vida aconteça. Uma batalha a ser vencida que não se finda com o cerrar dos olhos. É só uma faísca, eu sei, mas é o suficiente para me fazer continuar. Mesmo que esteja escuro e não haja ninguém para me acompanhar, essa faísca dentro de mim brilhará, mais e mais forte, para que eu possa continuar seguindo.

>> Música indicada por Tamires Domingues