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Autopsicografia – Fernando Pessoa

O poeta é um fingidor.
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve,
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas da roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama o coração.

Longe de mim, encontrei o amor – Part III

            A natureza escutava umas palavras feias. O jovem rapaz se esbraveja ao gritar um palavrão numa estrada inóspita, num calor de 42º C. O motor do carro havia parado.            A cena que vemos é a de um homem nervoso saindo do carro, pisando fundo por aquela estrada de terra, enquanto sujava seu tênis branco, após bater furiosamente a porta do seu velho automóvel.

            − Essa lata velha tinha que me deixar na mão justo hoje? – Ele gritava enquanto abria o capô do carro, deixando uma fumaça preta se exalar do motor.

            De longe, notava-se a raiva de um homem se espalhar pelo nada. Nada. Absolutamente nada era o que tinha naquela estrada. Não havia um borracheiro, um posto de gasolina, um mecânico ou mesmo uma mercearia. Apenas nada. Um homem, sua raiva, seu carro parado e mais nada.

            − Você tinha que me deixar na mão justo hoje? Depois de viajar por tantos quilômetros nessa estrada esburacada, vendo tantos acidentes e torcendo pra não ser mais um deles, enfrentar toda uma família para, nos fim das contas, acabar só numa estrada como essa? – Ele bateu o capô ferozmente. Era notável que ele não falava do carro.

            E ele soltou um longo suspiro, enquanto passava suas mãos pelos cabelos tentando se acalmar. Chutou um pouco de terra. A poeira subiu até seus olhos e sua boca, o que o levou a uma incomodante tosse e a uma ardente coceira nos olhos.

            E ele tossia. E quanto mais tossia, mais palavrões se ouvia.

            Com a vista prejudicada pela terra, o rapaz virou de forma a chocar sua canela contra o parachoque.

            − O que mais falta agora? – gritou ele.

            De repente, um barulho ao longe. Parecia o motor de um carro. Ele tentava avistar o que vinha, mas sua visão ainda estava prejudicada. Aos poucos, percebia-se que não era um carro, mas vários deles. Sirenes também poderiam ser escutadas ao longe. Policiais se aproximavam.

            − Talvez eles me ajudem – pensou.

            Eles pararam suas viaturas próximas ao carro parado e saíram com suas armas nas mãos.

            − Parado! Mãos pra cima!

            Não era mesmo o seu dia. Nada havia dado certo e agora estava indo preso por um motivo que ele nem mesmo sabia. Se ao menos não tivesse saído da cama naquele dia de sua viagem, estaria muito melhor agora.

            O rapaz tentava pedir explicações, mas só ouvia um “calado” e um “você está errado, cara”. Para piorar, um dos policiais colocou uma venda em seus olhos enquanto outro segurava seus braços.

            − Fica quietinho que vai ser melhor pra você, rapaz!

            E durante meia hora, aquele tormento o dominou. Parecia uma estrada sem fim, onde só se escutava o barulho do motor, enquanto ele não podia fazer nada.

            Mas chegaram, finalmente. Um dos policiais o tirou a força da viatura e o fez caminhar, enquanto ele permanecia de olhos fechados. Seu corpo tremia, enquanto se imaginava vítima de tantas torturas. Poderia ser seu fim.

            Então, ele foi forçado a parar. Tiraram-no a venda e o soltaram. Aos poucos, sua vista foi entendendo a realidade. De princípio, não fugiu, precisava entender a situação em que se encontrava. Um salão, muitas pessoas, grandes corações vermelhos representados por balões e uma linda moça de cabelos encaracolados e olhos claros a lhe esperar. Uma faixa grande escrita SIM de vermelho. Era a mesma moça que lhe fizera perder horas de viagem.

            E, pela primeira vez naquele dia, ele não quis soltar nenhum palavrão. Apenas sorriu, enquanto seus olhos derramavam algumas lágrimas. Todos ao seu redor assobiavam, aplaudiam e gritavam por seu nome. Eles apenas pararam de fazer tanto barulho quando um rapaz cabeludo de terno e gravata se posicionou ao lado da jovem e, com seu violino, se pôs a tocar, enquanto ela pode declamar:

“Meu pequeno coração, de olhos tão belos.
De forma tão confusa, me desesperei,
Sem reação fiquei.
Deixando-te abalado,
Triste e tão solitário
Era meu pecado, deixá-lo naquele estado.

Mas pena minha essa não seria
Arrependida, uma atitude eu tomaria
E uma coragem de dentro sei que buscaria
Não quero te perder. Não poderia.

Apaixonar-me por ti foi inevitável
Agora, aos seus olhos, eu posso dizer
É certeza que ao seu lado desejarei sempre viver
‘Sim’, é o que eu deveria, desde o início, te responder”.

E ela pouco se importou com o estado sujo do rapaz. Num breve instante, já estava em seus braços, tocando-lhe os lábios, sentindo o doce sabor do seu beijo. E desde aquele dia, sob os gritos, aplausos e assovios de toda a plateia, o jovem casal tornou-se um só.

Primeira parte

Segunda parte

Foto de MART PRODUCTION no Pexels

Longe de mim, encontrei o amor

Só mais esse nó na gravata e tudo pronto. O reflexo do espelho agora mostra um novo homem, seguro, forte, feliz e apaixonado. O espelho me apresentava aquele cara tão bem arrumado, tão bem vestido e tão bem penteado.

O frio na barriga me faz companhia, desde que de minha terra parti. Tantos quilômetros rodados só para ver aqueles olhos que me encantaram. Olhos que se fecham quando sorri, que se abrem quando se espanta, que se abaixam quando está triste, que se enrugam quando está brava. Decifro cada sentimento apenas com seu olhar.

Alguns só me fazem criticar. “Tantas mulheres lindas por aqui e você procurando tão longe?”. Eles não entendem que meu coração está lá, que partiu e me deixou pra trás. O que me resta é ir atrás dele, certo? “Você está se arriscando demais, pode partir seu coração e sofrer uma grande desilusão”. Sim, eu sei, estou me arriscando demais, mas, dane-se! Dane-se tudo! Eu vim aqui pra me arriscar mesmo, pra me arriscar por ela!

Pego meu carro, coloco uma música romântica no som e vou cantando com meus pensamentos nela. “Eu quero ser teu sol / Eu quero ser teu ar / Sua respiração” é a nossa canção, aquela que toca em meu coração.

Estaciono próximo ao seu portão. A campainha toca. Aquele velho frio aumenta. “Como você está tão linda”, é o primeiro pensamento ao te encontrar. Seus cabelos encaracolados, aquele vestido comprido e aqueles olhos, ah! aqueles olhos claros que me fazem pirar.

Eu a abraço, sinto seu perfume. Por um instante, fecho meus olhos e aprecio aquele aroma delicioso. Seu toque me faz perder em pensamentos tão profundos que se parasse o tempo naquele instante eu não me importaria. E novamente me pego admirando seu lindo rosto, tão mais belo quanto imaginava ser.

Abro a porta do carro, seguro suas mãos e a espero entrar. Vamos a um restaurante para um romântico jantar. À luz de velas e um violão, me ponho a cantar: “A fonte desse amor veio do seu olhar / Direto pro coração”, ela me fez apaixonar.

E da música no violão se teve um fim, ao contrário do meu coração que continuava a soar:

“Meu carinho, meu ar, meu desejo,
Sei que é um pouco cedo,
Mas algo aqui dentro,
Por ti me faz suspirar.

De terras tão frias
Parti e vivi
Nas estradas por dias
Até poder te encontrar

E Não há palavras que expresse
O que sinto sem medo
Ditas em bom tom
A quem queira escutar.

Me Bate um anseio,
É difícil, mas supero
Esse medo pequeno
Pois algo me faz acreditar.

Que o nosso destino
Você, eu e o carinho
Pra sempre juntinhos
Sei que vamos estar”

Então, segurando uma rosa, o salão se põe em silêncio, todos, na expectativa me vêem ajoelhar, olhar em seus olhos, até que finalmente me ponho a dizer:
“Quer ser minha namorada?”

Música citada no conto:

Conto de inspiração para Daniela e Ariston.

Das mais belas rimas nasceu você

Quando eu era garoto, um vazio sentimento de nome solidão se apossou de mim. Sentia, de longe, um vento gelado batendo em meu peito assim. Meu coração me apertava e aos poucos matava o que me restava enfim.

Parecia um sentimento inacabado, algo que já me fazia acostumado. Meus domingos, em minha cama deitado, apenas me faziam refletir sobre a vida a qual estava destinado.

Mas algo aconteceu naquele domingo tão diferente, tão empolgante. De longe, eu avistava uma bela dama com olhar distante. E com um brilho de esperança, meu coração confiante,  que seria o seu destino, a partir daquele instante.

Tímido e um pouco inseguro, admirei sua beleza até me dar conta de um olhar correspondido e penetrante. Um pouco vermelho, disfarcei com receio, algo nada preocupante. Segurando meus dedos, voamos sem medo por um desconhecido destino vibrante.

E, desde então florescia, o sentimento mais puro, mais belo, mais vívido, com tanta maestria. Tão próximo do meu amor, discreto e ofegante, a minha alma tão triste a sua invadia. Eu não imaginava, mas enfim acreditava: “Sem você nada seria”. O que era esse calafrio que, então, eu sentia?

Foi com você que vi tudo isso acontecer. Da mais triste solidão, eu vi o amor nascer, quando encontrei você. Foi do meu coração que essa rima se fez transcrever. Olho em seus olhos e te pergunto, com minhas mais sinceras palavras: “Pra sempre juntos, iremos viver?”

Quando eu era garoto, um vazio sentimento de nome solidão se apossou de mim. Com o passar do tempo pude perceber que o que me faltava era seu coração para nele por um fim.

Na Real

Escrever é um de meus hobbies favoritos. Todo aquele movimento de passar para um papel ou para outro lugar algum pensamento que carrego comigo me deixa animado. É o que se pode ver por aqui, neste blog. Tão bom quanto escrever, me dá prazer conhecer pessoas que escrevem, como Larissa, uma amiga, que sempre me pede opiniões sobre seus livros.

Nesse domingo, conheci um cara que também adora. Trocamos ideias a respeito, e percebemos as diferenças na escrita que temos. O estilo que mais gosto de escrever é o cômico. Sempre que posso, incluo algumas passagens de humor nos textos que escrevo. Um livro que me inspira bastante quanto a isso se chama “O guia do mochileiro das galáxias” que tem um humor parecido ao meu (tento procurar uma descrição legal a respeito, mas não encontro). Entretanto, aqui nesse blog não cheguei a escrever qualquer texto neste gênero (a maioria dos meus são de reflexões, outro tipo de texto que também gosto de escrever).

Na última sexta-feira, um amigo disse ter escrito um poema. O texto é bom, e, na minha opinião, funcionaria bem como uma letra de música. Ela fala sobre um homem que resolve abrir o jogo com sua parceira, que nunca esteve com ela por amor. Vale a pena conferir e deixar a crítica. Só falando, esse tipo de texto (amores e desamores) não é muito meu gênero para escrever, não tenho dom para tal tema. Ao Karlos, os meus cumprimentos pelo texto (e, por favor, não me bata por postá-lo aqui, rs).

Na real

Na real, nada é verdade
Tudo o que te disse era ilusão
Dor, … era o sentimento
que eu queria despertar em ti

Na real, a vontade era obrigação
A alegria, era o tédio disfarçado
E você, para, mim só servia como diversão
Calma baby, não mereço o seu choro

Na real, de você eu mereço o desprezo
Mas você é tão “pura”
Que me presenteia com o amor
Chega de dor, baby

Na real, nunca senti o amor
Nem seu jeito meigo foi capaz
De a mim despertar
Uma simples paixão

Na real, segue sua vida, baby
Aproveite este meu momento lúcido
Em que te digo
Que não sou aquele que você pensava que um dia fui

Porque do contrário
Na real, você jamais sairá
deste seu vício
que sou eu…

Eder Karlos

Crédito da Imagem: Image by Tú Anh from Pixabay