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Mais ou Menos Salinas (2)

Capítulo 2: Próxima parada, Salinas

  • Alô, Álisson?
  • Oi, Larissa, o que você me conta?
  • Que horas você vai chegar aqui?
  • Acho que por volta de umas dez horas.
  • Dez horas? Tão cedo assim? Onde você está?
  • Já peguei o ônibus para Salinas, estou na estrada.
  • Mas, ainda são 6h30! Você disse que chegaria depois das sete, por isso que eu nem reservei táxi para você!
  • Pois, é! Pelos meus cálculos eu chegaria depois das sete mesmo. Tomei por base a última viagem. Mas, acho que o ônibus chegou um pouco mais cedo.
  • Ah, sim! Tudo bem! Quando você chegar aqui, me dê um toque que vou pra rodoviária te buscar. Vou pro instituto, beijos.
  • Beijos.

E foi assim a nossa primeira conversa do dia, a poucas horas de nos encontrarmos. Como já não conseguia mais dormir, levando em consideração o transporte, as estradas e o sol em minha cara, voltei a jogar meu DS. A mulher ao meu lado também tentava tirar um cochilo, visivelmente em vão.

  • Você é de Salinas? – A mulher me perguntou, após perceber que não pegaria tão rápido num sono.

Fechei o videogame e o guardei no bolso. Em outras ocasiões, continuaria jogando.

  • Não! Moro em uma cidade próxima a Uberlândia. Vou pra Salinas passar as férias.
  • Ah! Você tem parentes por lá?

“Parentes por lá”? Por que todo mundo me pergunta isso? Será que você só viaja se tiver parentes morando onde deseja ir?

  • Não, não! Tenho uma amiga que mora lá e eu vou passar as férias com ela. E você? – continuei, após ouvir dela um sonoro “Ah!” – É de Salinas?
  • Não! Sou de Belo Horizonte. Passei em um concurso federal e estou trabalhando num instituto, na parte administrativa.
  • Ah, você trabalha no “I-Efe-ne-me-gê”? – Falei cada sílaba pausadamente.
  • Sim e você? – dizia ela sorrindo.
  • Não, eu não! – retribui o sorriso e depois fechei a cara.

A conversa parou por aí mesmo. Duas horas depois, recebo uma mensagem de Larissa: “Se você chegar e eu não estiver na rodoviária, espera um pouco porque acabei de achar um cachorro e estou na luta para levá-lo para casa”.

Larissa e alguns de seus amigos de faculdade encontraram um labrador preto em frente à companhia de água, no centro da cidade, e resolveram levá-lo. Como eles não estavam próximos de casa, Hiago, um dos que a acompanhava, pediu a um carroceiro, próximo a eles, que o ajudassem.

Enquanto eles lutavam para levar o cachorro, que também era cego, a minha viagem chegava ao fim. Os morros de Salinas já eram visíveis, assim como os prédios, o mato e a terra. Também era bem notável que a cidade carregava divulgação de suas cachaças para todos os lados.

  • Salinas? – perguntei à mulher.
  • Sim! Chegamos!

Entramos na rodoviária. O ônibus desligara os motores. Finalmente, aquele tedioso caminho chegara ao fim. Desembarquei. Agora, eu poderia pegar outro ônibus e voltar à minha terra. Pelo menos foi o que eu tentei, até descobrir que os guichês estavam fechados…

Desci do ônibus, peguei minhas malas, sentei-me nas cadeiras velhas e quebradas e esperei. Esperei, esperei e esperei. E como esperei. Já não estava mais aguentando, então resolvi tomar uma atitude: resolvi esperar mais algum tempo. Após quase uma hora de espera, ligo para a garota de um metro e meio de altura (ou pouco menos que isso):

  • Larissa, você já está chegando?
  • Você está vendo um posto verde?

Andei um pouco pela rodoviária. Não encontrei o tal ponto de referência de forma alguma.

  • Não, onde?
  • Dá uma olhada pelo rumo da autoestrada que você encontra.

Olhei e avistei o posto. Próximo, uma bela garota ruiva, de sorriso estonteante, trajada de camisa preta e uma calça jeans, vinha à minha direção. Logo atrás, vinha Larissa.

Larissa começou a reparar na mulher, não olhou por onde andava, tropeçou em uma pedra e caiu num buraco. Na verdade, nada disso acontecera, então, apaguem o que vocês leram, inclusive sobre a ruiva.

De longe, respondi à Larissa com um sorriso. Ela correspondeu. Após longos três meses de espera, finalmente nos reencontrávamos. Depois de nos abraçarmos, fiz o que todo bom amigo faz nessas horas: entreguei uma das malas para ela carregar.

Há mais de cinco anos, eu e Larissa nos conhecemos em um fórum de RPG. A partir daí, nossa amizade foi crescendo, passando por boas histórias, mesmo que virtuais. No início deste ano, ela veio à minha formatura, onde nos encontramos pela primeira vez. Depois dessa, tivemos mais dois encontros: um em Montes Claros e outro em Belo Horizonte que, indo embora desse último, ela pediu para que fosse à terra da cachaça para conhecer a cidade e seus (completamente normais) coleguinhas de faculdade. E lá estava eu.

  • Conseguiu dormir durante a viagem? – Perguntou-me, sabendo que isso era quase impossível para mim.
  • Apenas de Pirapora a Montes Claros. Havia uma mulher sentada ao meu lado com um chulé insuportável.
  • Pirapora a Montes Claros? – perguntou ela, ignorando o resto da frase – Não dormiu quase nada!
  • Cerca de duas horas.
  • Olha só! Vívian pediu desculpas. Ela queria muito vir te receber na rodoviária, mas ela precisava fazer almoço. Sabe como é! Ninguém vive se não comer.
  • Pois é! Ô vida triste!

E ficamos lá parados por cinco minutos tentando imaginar o quão ruim seriam nossas vidas sem o tal almoço.

  • Da próxima vez que você vier, vá para minha casa de táxi. Não tenho obrigação de te buscar na rodoviária!
  • Gracinha você! – dizia eu, enquanto apertava suas bochechas.

E foi assim o passeio. Descida, rotatória, subida. Paramos na Rua Belo Horizonte. Sim! Larissa não largava Belo Horizonte nem quando estava a 600 km de distância.

Próximos ao nosso destino, Larissa apontou para um prédio, onde havia uma instalação da Previdência Social.

  • Quando você precisar de um ponto de referência para minha casa, é só se lembrar da “Previdência Social”.

Essa informação me foi muito útil mais tarde. Logo saberão o motivo.

  • E aquela ali, – dizia, apontando para um apartamento – é a casa de Hiago.
  • What? – perguntei assustado, parando repentinamente, derrubando a única mala que eu carregava em punho – ele mora tão perto assim?
  • Pra você ver! Mas, nem tem tanta diferença, ele vem direto aqui em casa. Vou chamá-lo. HIAGO!
  • NÃO!

Era tarde demais. Larissa já proferira aquele nome em vão. E eu pensei que conseguiria me esconder dele naquelas duas semanas que me acomodaria por lá. Pois é! Meu plano infalível estava completamente desmoronado, graças àquela ruiva maligna, que agora ria maleficamente em seus pensamentos.

Foi nesse momento que ele apareceu, ali na sacada. Só não o descrevo aqui para não apanhar depois. Então, tentem usar a imaginação de vocês.

  • Olha só quem chegou! – gritava Larissa, apontando para mim.

Acenei de longe, para não parecer mal-educado. Ele retribuiu e logo disse:

  • Agora mesmo eu desço.
  • Desce depois, pra vocês darem uns beijinhos.

Enquanto Larissa dizia a última frase com um sorriso sacana no rosto, eu fazia um sinal de negativo com as mãos, esperando que ele ficasse ali por 15 dias, trancado em casa. Quem sabe uma simpatia resolvesse.

Há três meses, enquanto eu estava em Belo Horizonte, Larissa conversava com Hiago via internet. Sabendo de algumas histórias que Larissa havia me contado sobre ele, resolvi pegar em seu pé e incomodá-lo de tal forma que ele se irritasse comigo. E o plano deu certo. Tanto que, na época de festa junina em Salinas, quando conversamos mais uma vez, ele confirmou o quanto eu era insuportável. Tanto que, ao me ver, ele desejava meu retorno. Algo recíproco.

Entramos na república, lar de Larissa, Vívian, Tchely, Brunna e Paula, três caninos, incluindo o novo labrador, e uma galera que sempre estava por lá. Hoje, reuniam-se para fazer mais um daqueles trabalhos tediosos e estudar para a prova do dia seguinte.

Como me sentia nervoso com apresentações, ainda mais com tanta gente, respirei fundo, larguei minhas malas no chão, caminhei à pessoa mais próxima de mim e esperei as apresentações de Larissa.

  • Pessoal! Este é o Álisson, Álisson este é o pessoal. Alguém quer chá?  Não? Ok! Estarei na cozinha quando precisarem de mim. Álisson, meu quarto é aqui, você pode deixar suas malas jogadas em qualquer lugar, mas não as deixe bagunçada. Obrigada e tenha um bom dia.

E fui eu lá cumprimentar as tantas pessoas que estavam ali presente. Era incrível como todos ali sabiam quem eu era e como eu sabia quem eram todos por ali, graças à própria garota que me recebera na rodoviária.

  • Álisson, Vívian está aqui na cozinha. Ela quer muito te conhecer.

E lá fui, para a cozinha, após deixar minhas malas no quarto para conhecer Vívian.

A minha história com essa mulher começou também não há muito tempo. A primeira vez que Larissa a mencionou, estávamos em Belo Horizonte, andando com sua prima Amanda e seu irmão Daniel, depois de ter tomado um delicioso milk shake. Larissa mencionara que uma de suas amigas fazia depilações.

Num belo dia, enquanto seu marido estava folgadão, deitado no sofá, sem quaisquer vestes e roncando alto, Vívian se aproveitara do momento para desenhar um nobre elefantinho em um lugar impróprio, que não posso mencionar, por haver tantas crianças inocentes que podem estar lendo agora. Ainda não contente, ela pegou seu celular, em cima de suas roupas ainda não passadas, ativou a câmera e… Click!

No dia seguinte, enquanto estavam todos falando sobre a aula prática de castração de porcos, Vívian aparece, alegre e sorridente, pulando num pé só e com seu celular na mão, anunciando para todos:

  • Gente! Olha a mensagem bonita que eu recebi!

E lá estavam todos, admirados pelo elefantinho de estimação de Vívian, segundos antes de o aparelho aparecer caído na lama, misteriosamente.

Agora, estava eu, abraçado àquela mulher, que, dias antes, me prometera fazer o mesmo.

  • Ah! Que felicidade! Finalmente estou te conhecendo! Nossa! Pensei que fosse mais alto!

Não aguentei aquela frase e a soltei. “Mais alto?”, pensava eu. Por que todo mundo pensa que sou mais alto? Larissa me falara o mesmo quando me viu pela primeira vez. Que absurdo!

  • Eu estava louquinha pra você chegar, para fazermos sexo grupal. Vamos fazer muito sexo, eu só quero sexo, nada mais que sexo.

Eu sabia que não deveria levar a sério. Mesmo assim, fiquei vermelho, ainda não habituado àquele tipo de conversa. Apenas retribuí com um sorriso. Para quebrar o gelo, ela continuou:

  • Fez boa viagem? Conseguiu dormir? – perguntou-me Vívian.
  • Não! Não consigo dormir. Há dois dias não durmo direito. Ontem estava em Uberlândia.
  • Se quiser, temos camas, temos chuveiro, pode ficar a vontade.
  • Não, obrigado! Vou deixar pra mais tarde.
  • Ah, sim! Pois, agora eu sei que você prefere fazer sexo. Também podemos fazer isso agora!

Que loucura! Sério mesmo que eu estava ouvindo aquilo?

Larissa me levou para a varanda para me mostrar o cachorro cego. Lulu, ou tio Lu, homenagem ao professor deficiente de um olho só, era seu nome. O cachorro era preto, magrinho, com quase um ano de idade e fazia muita merda, literalmente.

  • Ah, Álisson! Acabei de me lembrar! Tem umas bolachinhas aqui em cima da geladeira, da semana passada. Eu acho que você está com fome, então, toma!

Vívian me entregara um pote de bolachinhas amanhecidas. Estava feliz comendo, quando a campainha tocou. Era Letícia. Após ter entrado, ela se dirigiu à cozinha, onde me viu e me abraçou. Vívian avisara a ela que eu estava comendo suas bolachas.

  • Vai embora logo, Álisson. Pois, com você aqui eu não sou mais visita e vou acabar ficando sem minhas bolachinhas da semana passada! – dizia Letícia que, como todo mundo, parecia ter criado intimidade comigo antes mesmo de eu ter pisado a terra da cachaça.

Em relação à Letícia, natural daquela cidade mesmo, diferente da maioria da turma, a única vez que tenho conhecimento de algo sobre ela, foi quando Larissa me mostrara uma foto da turma e seu rosto alegre me chamara atenção. Era o rosto de uma garota meiga que parecia ser bastante brincalhona. Mas, não foi essa impressão que tive mais tarde.

E lá foi ela, se dirigir ao resto da turma que continuava a fazer trabalhos. Entre esse pessoal, estava Paula. Ela era a única perdida por ali, antes da minha chegada, pois, em meio a tantos veterinários, Paulinha, para os íntimos e folgados, como eu, estudava Matemática. Paula era da mesma cidade de Brunna, Francisco Sá, situada entre Salinas e Montes Claros. Ela adorava dizer que um dia ficaria louca, como o resto do pessoal. E, pelo visto, já surtia efeito.

Enquanto isso, na cozinha, Larissa e Vívian colocavam num pratinho velho, alguma comida da noite passada. Eles estavam alimentando uma cadelinha que vivia por ali, carinhosamente apelidada de Sol. Tenho pensado se esse nome foi dado devido à cor meio amarelada de seus pelos.

  • Venha, Álisson! Vamos alimentar Sol.

E para lá fomos, com um prato de comida. Lá fora, Hiago, olhava para a cadela. Para não parecer mal-educado, cumprimentei-o, sendo retribuído. Enquanto isso, Larissa alimentava o pobre animal.

  • Não, Larissa! O animal que você deve alimentar é o outro. Hiago já deve ter almoçado!
  • Ah, desculpe! – Larissa parou bem na hora que estava quase colocando uma colher na boca de Hiago, sem graça.

Enquanto a cadela aguardava por sua refeição, fui tentando puxar assunto com o garoto:

  • O cachorro é seu?
  • Não é bem meu, nem de Larissa. Achamos na rua. Estamos cuidando dela.

Algo que não entendi até hoje. Se eles estavam cuidando dela, por que não levavam para a casa de ninguém? Por que o pobre animal ainda dormia na rua? E, novamente, eu não estava falando de Hiago!

  • Você vai lá pra casa? – perguntou Larissa a Hiago.
  • Não, eu não vou! Ficarei duas semanas preso em casa. Não me visite, não me incomode, não ligue para mim neste período. – disse eu, tentando imitar a voz dele.
  • Sim, vou! Só vou terminar de preparar meu feijão e já estou indo para lá! – Respondeu Hiago, olhando-me com fervor nos olhos.

Fomos embora. Para minha infelicidade, ele estaria ali dentro de poucos minutos. Entramos, quando Vívian anunciara para todos que o almoço já estava pronto. Com isso, o pessoal que não morava ali desapareceu rapidamente. Os outros olhavam-na com cara de terror. Vívian, com um sorriso malvado, esfregava as mãos. Eu ainda não estava entendendo a situação, quando Vívian olhou bem nos meus olhos e anunciou:

  • Hoje, você provará da minha comida! – e soltou uma risada maléfica, fazendo os cachorros saíram correndo.

Vívian foi até o quarto de Brunna e depois de Tchely, chamá-las, pois ambas dormiam sossegadamente. Tchely, uma mulher ruiva e já casada, era de Belo Horizonte e adorava um soninho. Não importava se fosse de manhã, a tarde, depois do banho ou quando todos estivessem se divertindo em algum lugar, se pudesse tirar uma soneca, estaria perfeito para ela.

Minutos depois, estavam todos comendo, na cozinha, ladeado por Alice, um poodle, e Champignon, sabe-se lá qual sua raça.

Era a vez de tio Lú. Ele recebeu uma pasta amarela, com algo preto encrustado, como se fossem percevejos. Após seu almoço, Vívian começou a preparar o banho do canino. Nesse momento, a campainha soava. Era Hiago.

E lá foram os dois banhar o animal. Aproveitei para tirar algumas fotos, inclusive uma em que Vívian subia as calças de Hiago, que não paravam de cair em momento algum, mostrando a todos uma cena bastante desagradável. Quando fui reclamar, ele ainda me soltou algo do tipo:

  • Se não quiser ver estrelas, não olhe para o céu!

À tarde, o pessoal retornara. Alguns entravam com medo, perguntando se todos já haviam almoçado.

Enquanto as oito pessoas se acomodavam em uma pequena mesa branca de plástico para apenas quatro, Vivian, inconformada, vai até mim, após ouvir o toque de celular de Larissa:

  • Você já ouviu o toquinho de celular da Larissa? Umas músicas malucas que ninguém entende nada, coisa de gente louca.
  • Rá! Sei bem do que você está falando, quer ver? Larissa – virei-me a ela – dá um toque no meu celular.

E a música Best Wishes, abertura japonesa de Pokémon da 14ª temporada, começou a soar de meu celular. Comecei a dançar ali mesmo.

  • Ah, você também? – Indignou-se Vívian – tenho medo de que essa loucura seja contagiosa.
  • Eu te falei, Vívian! Isso é completamente normal! – dizia Larissa, com um sorrisinho no rosto.

E lá foi o pessoal estudar. Como eu ainda não estava enturmado, deitei-me na cama de Larissa e fui ler um pouco. O livro que estava lendo era o último da saga Harry Potter, pois o filme já estava com dias contados para a estreia e eu não queria ir vê-lo antes de terminar a leitura.

Quando o sol já estava próximo de se deitar, pedi a Larissa e Vívian que me mostrassem a cidade. E lá fomos nós conhecer alguma coisa. Vívian nos prometera uma casquinha de sorvete no final do trajeto, o que deixou as duas crianças que a acompanhavam felizes. Sim, eram Larissa e esse que vos escreve.

Andamos um pouco e já estávamos bem no centro da cidade. Em frente a uma escola, onde a rua era dividia por um canteiro, lá estava uma mina de ouro para Vívian: Escondida entre algumas pedras, um daqueles remédios novos em folha para o ouvido. Animada, ela grita:

  • Ah! Era isso mesmo que eu estava precisando! Vou levar para casa!
  • Vívian, você é maluca! Não sabe o que isso pode ter. – disse-lhe.
  • Vou olhar mais. Talvez encontre outra coisa. – e ela procurou, sem me dar ouvidos.
  • Ela é sempre louca desse jeito, Larissa? – perguntei.
  • Às vezes ela age pior.

Sim! Essa é Vívian. Muitos de vocês devem estar assustados, como eu, mas não se preocupem. No fundo, no fundo, no fundo, bem lá no fundo, talvez, deva existir uma pessoa sã. Ou não.

Para confirmar o que eu acabei de dizer, quando estávamos em frente à Policlínica Salinense, Vívian fez questão de parar e dizer:

  • Ah! Eu amo tanto esse lugar. Eu amo tanto as pessoas que estão aqui. Elas são tão legais, gosto muito deles. E eles gostam muito de mim. Sou tão feliz com todos eles.

E ficou lá sonhando acordada. Fiquei tentando imaginar se aquilo era realmente uma policlínica, ou um sanatório camuflado, depois de tais palavras. Tive vontade de entrar e conhecer. Como meu cérebro já estava a ponto de “fritar”, parei de pensar.

Continuamos a andar. Se estivéssemos no mar, continuaríamos a nadar. Um fato curioso da cidade é a quantidade de funerárias. Vívian chegou a chamar minha atenção devido a esse fato:

  • Tá vendo aquela funerária, moço? Ajudei a levantar! Foi um tempo de aflição, eram quatro condução, duas pra ir, duas pra voltar…
  • Mas, Salinas nem tem condução, moça! – falei sem entender a piadinha.
  • Não, burro! Idiota! Retardado! Estou cantando uma música de Zé Ramalho.
  • Ok! Já entendi, Zé Ramalho! Mas, agora pode me dizer o que tem aquela funerária? – dizia eu à Vívian, depois de ter ouvido seu cover.

Vívian parou por um momento, foi até mim, diminuindo o tom de voz e me disse, com uma cara muito séria e de olhos bem arregalados:

  • Olhe bem para o banner. Raciocina comigo: Funerária, pessoas mortas. No banner, uma família feliz, que deve representar os donos da funerária. Logo, eles ficam felizes quando alguém morre!
  • Muito bom, Vívian! Estou admirado com sua linha de raciocínio!
  • Ah, obrigada! – disse ela muito sorridente – Isso é o resultado dos testes de CSI!
  • Deve ter tomado bomba! – sussurrei.

Depois, fomos à praça da igreja. Lá foi o local das tendas de festas juninas, realizadas há um mês. Lamentei-me por não ter ido.

  • Enquanto estávamos aqui nos divertindo, você preferiu ficar em casa. E por quê? Agora fica aí arrependido de não ter vindo! – Esbravejava Larissa.

Depois, fomos até a Praça do Banco do Brasil. Em volta, uma das agências do Sicoob Credinor. Fiquei feliz, pois era a cooperativa que eu trabalhava e exclamei algo a respeito. Larissa já foi logo soltando:

  • Isso que é amor pelo serviço.

Quando estávamos dando uma volta pela praça, Vívian pediu que parássemos em frente a uma árvore:

  • Aqui estamos, Vívian. O que você pretende agora?
  • Vou dar uma amostra pole dance para vocês.

E lá foi ela. Perna esquerda no chão, perna direita no galho da esquerda, braço direito no topo da árvore, braço esquerdo na placa do lado, cabeça entre dois galhos estreitos, barriga virada para o chão…

  • Que contorcionismo! – exclamei.
  • Vamos embora daqui de fininho. Dá tempo de nos salvarmos. – sussurrou Larissa.

E lá fomos nós, voltando para casa, enquanto Vívian continuava sua dança, até que:

  • Ué? Cadê todo mundo? Ah! Deve ter ido comprar sorvete! – e lá foi ela continuar seu espetáculo.

Mais tarde, quando já estávamos em casa e depois de Vívian ter brigado por não termos esperado, a campainha tocava. Letícia, Erick e João eram alguns nomes que me recordo agora. Erick morava em Ouro Preto. João era de Salinas mesmo. Já conhecia muito bem o instituto, lugar onde estudara desde que era pequeno. Hoje, com 19 anos, João continuava pequeno. E ficou assim pelo resto de sua vida. Mas, a história não acabava por aqui.

O trabalho a ser desenvolvido naquela noite exigia que se fizesse a representação das glândulas mamárias bovinas de uma vaca. Quero deixar bem claro que vou deixar a frase escrita dessa maneira para que pessoas leigas como eu possa entender, então, por favor, não me corrijam. A representação poderia ser feito em cartolina, papel A4, massa de pão ou hieróglifos. Um grupo escolheu o papel e o outro a massa de pão. E o pão nos lembrou de que estávamos com fome. Eis então que um deles grita:

  • Vamos ao Farley!

Em Salinas, não havia muitos lugares de reuniões juvenis. Farley era um dos que o pessoal conhecia. Lá, eram servidos sanduíches de vários recheios e sucos de apenas três sabores. Como eu estava louco para conhecer, fui. Éramos cinco: Paula, Erick, Vívian, Larissa e eu. Chegamos, sentamo-nos à única mesa que havia do lado de fora e esperamos pelo garçom. Ao chegar, Vívian foi logo dizendo:

  • Estou sem dinheiro, estou com fome, estou devendo. Vou propor sexo com Farley.

Neste momento, o garçom aparecera para nós. Um garoto de quase dez anos de idade, que já chegou perguntando:

  • Quem vai pedir primeiro?

No mesmo momento em que ele fizera essa pergunta, Vívian continuou sua fala:

  • Quem mais vai querer fazer sexo comigo e com Farley?
  • Eu! – Respondi levantando o dedo, referindo-me ao garçom. – Quais sucos vocês têm?

Vívian começava a rir, acompanhada de Larissa, Erick e Paula. Eu nem prestava atenção no que eles estavam fazendo.

  • Temos suco de maracujá, maracujá com leite, maracujá com maracujá, maracujá com polpa, maracujá de ontem, maracujá nativo e chá de maracujá.
  • Quero maracujá com polpa – dizia Paulinha.
  • Maracujá de ontem – gritava Erick.
  • Maracujá com Maracujá – disse Vívian, passando a língua nos lábios.
  • Quero chá de maracujá – falou Larissa, tão baixo que ninguém escutara.
  • Desculpem! Acabaram todos. Só temos maracujá e maracujá nativo.
  • Eu vou querer um suco de laranja, por favor. E coloquem aquelas sombrinhas que vocês baianos adoram! – disse, empurrando os óculos contra a face. Como sabia que não usava óculos, peguei os de Larissa emprestados, só para fazer esse gesto.

O resto da turma pedira maracujá nativo. Não pedi exatamente por não conhecer o suco, já que aquilo não era natural na minha terra. Quando chegou, fiz questão de roubar o copo de Paulinha para provar um pouco.

Pedimos então os sanduíches. Examinei um a um para não desperdiçar o dinheiro. Ali, cada sanduíche custava, em média, R$ 5,00. O suco era apenas R$ 1,00. Algo raro em minha terra, já que os sucos naturais ultrapassavam a casa dos três reais. No cardápio, os sanduíches possuíam nomes estranhos. Não eram como os daqui que tinham nomes de carro.

Para não fazer feio, resolvi pedir um frambúrguer, que era um sanduíche como outro qualquer, alterando apenas a carne bovina por carne de frango, caso alguém não tenha compreendido o nome. O garçom em miniatura anotou os pedidos e se foi. Enquanto esperávamos, tiramos algumas fotos. Depois, Vívian apanhou um de seus cigarros e foi fumar ao meu lado:

  • Vívian, qual a graça que você vê em fumar? – perguntei-lhe.
  • Eu não fumo para rir! – disse-me, com cara de desaprovação, soltando uma boa quantidade de fumaça em meu rosto.

Por fim, começamos a cantar uma música que Larissa já estava cantando há alguns dias: Não aprendi dizer adeus, de Leandro & Leonardo. Quem a ouvia, não estava bem. Quem estava bem, ficava depressivo. Quem estava depressivo, ficava na fossa. E quem estava na fossa, estava a ponto de cometer suicídio. Larissa já estava no penúltimo estágio. Por isso, cantamos todos juntos para ver se ela resolvia se enterrar de uma vez por todas. Quando já estávamos no auge da música, uma garçonete, provavelmente mãe ou tia do menino, aparecera anunciando:

  • Quero avisar que o frango acabou – disse ela, sorrindo, enquanto dois ou três frangos saíam de fininho atrás dela.
  • Sim, e isso quer dizer o quê? – Perguntei, ainda não ligando que frambúrguer era feito de carne de frango.
  • Vocês não pediram frambúrguer? – perguntou a garçonete.
  • Sim! Mas, o que isso tem a ver? – insisti.

Um a um, os que me acompanhavam na mesa batiam suas mãos, abertas, na testa. A garçonete começou a bater sua cabeça contra a parede rebocada.

  • Alguém pode me dizer o que está acontecendo? – Elevei o tom de voz.
  • Álisson! – dizia Paulinha, calma, colocando a mão em meu ombro – não tem Frambúrguer.
  • E por que vocês não me disseram isso antes? Tudo bem, então. Pode ser um hambúrguer tradicional. Mas, ao invés de carne de boi, ponha de frango.
  • Senhor, o frango acabou! – disse a garçonete, um pouco nervosa.
  • E por que vocês não matam outro frango? – falei no mesmo tom.
  • Porque não temos frango. O frango acabou, temos que ir comprar!- disse-me ela, já aos berros.
  • E por que vocês não vão comprar a porcaria desse frango? – berrei também.
  • Álisson, relaxa e pede um hambúrguer. – disse Vívian, calma.
  • Ok, um hambúrguer por favor! – pedi.

E lá foi ela, dando-se por satisfeita ao sair de lá, depois de tanta discussão. Para acalmar os nervos, voltamos a cantar.

♪ Não aprendi dizer adeus, mas tenho que aceitar, que amores vêm e vão, são aves de verão. Se tens que me deixar.. ♪

 

Depois de tanta espera, os lanches chegavam. Do outro lado da rua, um homem, de cabelos cumpridos e barba por fazer, passava. Larissa, Vívian e Erick gritavam, em coro:

  • Ou, Felipe!

Felipe, professor de ecologia da turma da veterinária, passeava com seu cachorro. Ele foi até onde estávamos e nos cumprimentou:

  • E aí, pessoal, tudo tranquilo? Já corrigi a prova de vocês e quero dizer que todos se deram mal, inclusive vocês dois – disse, apontando para mim e Paulinha. – o que vocês estão comendo? Ah! Hambúrguer! Vou querer um de frango.
  • NÃO TEMOS MAIS FRANGO! – Berrava a mulher lá dentro.

Todos se entreolharam. O professor, sem graça, resolve se despedir, mesmo não dando tempo de ninguém ter falado nada.

  • Até amanhã, pessoal.

E lá se foi o homem. Na hora de pagar a conta, foi um conta-moedas para todos os lados, dinheiro jogado ali, dinheiro jogado aqui. O menino, que representava muito bem um garçom, ficava desorientado.

Saímos do local, chutando, empurrando e derrubando cadeiras e mesas. E fomos embora felizes da vida. Larissa aproveitou o momento para informar-me de algo que ainda não tínhamos acertado:

  • Álisson, quinta-feira iremos para Montes Claros. Vamos ver o show da Paulinha.
  • Sério que vamos ver o show de Paulinha?

Meus olhos brilhavam. Ir para o show daquela mulher para olhar suas belas pernas era tudo o que eu queria. Neste momento, um palco brotou do chão, no meio da rua, fazendo um monte de carros se congestionarem (eram três, no total). Paulinha, a aluna da matemática, pega um microfone, sobe no palco e começa a cantar.

Vai se entregar pra mim… ♪

 

            – Uhul! Paulinha! Nós te amamos! – berrávamos todos, enquanto levantávamos uma bandeira com os mesmos dizeres.

  • Como a primeira vez… – continuava Paulinha, empolgando-se cada vez mais.
  • OK! Chega de se entregar e vamos embora pra casa – disse Vívian, impaciente, puxando Paulinha dos palcos pelos cabelos, enquanto a garota dava um de seus gritinhos histéricos.

Enquanto caminhávamos, Larissa e eu cantávamos outras canções antigas de sertanejo, o que deixava Vívian mais furiosa ainda. O problema era que a maioria das músicas eu conhecia. Sucessos como “tira essa roupa molhada”, eram cantadas em alto volume para que todos ali, naquela cidade, pudessem escutar. Algo triste de se ver em uma juventude que caminhava para a perdição.

Quando chegamos à república, o pessoal ainda trabalhava arduamente. Letícia e João já bocejavam, reclamando por termos demorado tanto. Como já estava tarde, todos se despediram. Decidiram terminar no dia seguinte. Arrumamos as camas e fomos dormir. Larissa e eu dividíamos o quarto, com as duas cadelas, enquanto Tchely, Brunna e Paula dividiam a mesma cama de solteiro. E a noite prosseguia com uma sinfonia de roncos, uivos e latidos.

Enquanto isso, naquela madrugada, Sol partia em busca de sua felicidade.

Mais ou menos Salinas (1)

Capítulo 1: E esse ônibus que não chega nunca

O relógio já marcava 21h quando cruzava os limites de Uberlândia. Ao meu lado, uma mulher, de sotaque baiano, já anunciava enquanto tiravas suas enormes botas pretas do pé:

  • Não se preocupe, não tem chulé!

Eu precisava disfarçar meu desconforto ao perceber que aquele cheiro subia rapidamente ao meu nariz e virei o rosto. “Que alívio!”, pensei por estar do lado do corredor, até ver que outra mulher, uma senhora de, mais ou menos 60 anos, também tirava seus sapatos. Neste momento, ouvi um celular tocando ao meu lado. Era o da mulher de sotaque baiano.

  • Oi, meu bem, como você está?
  • Ah, oi amor! Estou muito bem e você? – Respondi, fazendo biquinho.

Nisso, a mulher me olhou com cara de desprezo e apontou para o celular Motorola, modelo PT-550.

  • Ah, não é nada! É só um idiota aqui do meu lado, falando com a namorada ao celular que, por sinal, deve ser uma baranga por namorar um cara feio desses! – Novamente ela me deu uma olhada com sua cara de desprezo.

Tudo bem em me chamar de feio ou dizer que minha namorada poderia ser uma baranga, mas dizer que eu estava ao celular quando neste momento ele estava dormindo em meu bolso? É muita covardia pra uma pessoa só! Aquilo precisava de medidas drásticas! Então, fechei meus olhos e vi uma linda cena em que eu puxava os cabelos da moça e fazia sua testa “beijar” a janela de sua poltrona. Reabri os olhos e lá estava eu com um sorriso sacana no rosto.

  • Devo chegar aí por volta de três horas da manhã. Então…

Neste momento, todos os passageiros se viraram para nós, ao ouvirem a mulher gritando com seu marido:

  • TRATE DE LEVANTAR CEDO E ME BUSCAR NA RODOVIÁRIA, PORQUE, A ÚLTIMA VEZ, VOCÊ ME DEIXOU PLANTADA ESPERANDO POR 1 HORA! 1 HORA! QUE DROGA DE MARIDO É VOCÊ?

Todos ali presentes, inclusive o cobrador (o motorista não escutara) estavam assustados. Quem era aquela mulher? O que ela estava fazendo ali? Quais eram seus planos malignos? E por que o lagarto se transforma em borboleta, depois de virar um casulo? Essas eram questões que eu precisava responder. Então, levantei-me e procurei minha lupa de detetive. Aí, lembrei-me de que não me dispunha de uma e voltei a me sentar.

  • Tá bem, amor. Estou ansiosa para revê-lo. Eu também te amo. Beijos!

A mulher desligava o celular e o guardava em sua bolsa. Ela também demonstrava um belo sorriso. Pelo visto, e como todos também perceberam, ela era muito apaixonada pelo homem que deixara em sua cidade. Resolvi arriscar um assunto, enquanto ela, cuidadosamente, colocava seus pés descalços nas costas da poltrona em frente:

  • Então, você é da caravana de onde?
  • Eu sou de Pirapora!
  • Cadê a torcida de Pirapora? – levantei-me e falei alto para a turma inteira do ônibus ouvir.
  • Cala a boca, eu quero dormir! – gritava um irritadinho, ao fundo.

Então, sentei-me, muito sem graça, a espera de alguém vir ao meu encontro para me consolar. Como ninguém veio, continuei a conversa com aquela simpática mulher:

  • E, então…
  • Então… – disse ela sorrindo.
  • Está quente, não? – Perguntei meio sem assunto, sabendo que a temperatura interna era de 16ºC.
  • Muito! – disse ela, fechando sua blusa de frio.
  • Pois, é!

Eu estava me sentindo muito ridículo quanto àquela situação. Não conseguia puxar um assunto sequer. Pelo visto, como todas as minhas outras viagens, não iria conseguir fazer uma nova amizade. Mentira! Pois, da última vez, consegui fazer amizade com o cobrador.

Aconcheguei-me na poltrona. Puxei a alavanca que estava do meu lado direito para deitá-la, mas, para minha infelicidade, a poltrona estava quebrada. Descobri isso segundos depois, quando já estava em uma posição de 180º e eu estava com olhos mirando bem dentro do vestido da garota que se sentava atrás de mim.

Alguns minutos depois de eu ter arrumado a poltrona e ter ganhado um belo roxo de cinco dedos em meu rosto, lá estava eu tentando pegar num sono novamente. Como não consegui, resolvi novamente puxar assunto com a mulher ao meu lado que, neste momento, olhava com solidão para a paisagem noturna pintada pelas mãos divinas:

  • E, então, você tem parentes aqui em Uberlândia?

Assustada, ela virou seu rosto para mim, deu um sorriso e começou a responder:

  • Sim, sim! Mainha mora aqui. Passei um fim de semana inteiro com ela. Muito bom! Não tinha conhecido uma cidade tão bonita quanto essa. Espero que volte logo.

Ela me contou que passeou pelo Parque do Sabiá, um zoológico que havia na cidade. Também passeou no shopping, viu alguns filmes, comeu no Habib’s e ainda dançou ao som de Lady Gaga em alguma boate GLS por aí.

  • Essa última é mentira! – disse a mulher para o narrador da história.

Com isso, acabei me lembrando do que fiz com meu amigo André nesse domingo. Aproveitamos para andar pelas lojas de brinquedos, lojas de cds e dvds, olhamos os livros mais interessantes (a livraria, inclusive, possuía o nome de tantos escritores, que fiquei imaginando se algum dia poderia ver o meu ali), ainda vimos alguns jogos e fomos brincar com um tal de iPad.

Mais tarde, ainda fomos ao cinema para ver em 3D o filme Transformers. Reclamei com ele ainda, já que eu detestava o filme, mas não nego que tive arrancadas boas gargalhadas de mim.

Ao final do dia, ainda fomos à igreja e jantamos em uma pizzaria. O garoto estava encantado, pois era a primeira vez que ele ia a um rodízio de pizza, além de comer uma deliciosa fatia de pizza de chocolate (lá, conhecida como ‘sensação’). Depois, pegamos um táxi e ali, na rodoviária, nos despedimos. Ele voltando para casa e eu rumando para a longínqua cidade da cachaça.

Adormeci. Neste momento, o ônibus já estava saindo de Pirapora. A mulher ao meu lado já desembarcara. Será que seu marido a buscara? Caso contrário, ele apanharia.

Amanhecera. Já eram 6h quando entrávamos em outra cidade. Percebi que havia adormecido devido à baba fresca no canto da boca. Limpei-a. Olhei para o lado do corredor e perguntei a uma mulher do meu lado onde estávamos. Entramos em Montes Claros.

“Montes Claros?”, pensei. Como chegamos tão rápido se pelos meus cálculos chegaríamos depois das sete? Ainda havia mandado algumas mensagens à Larissa sobre tal fato para que ela pudesse arrumar um táxi para mim e isso só seria possível se eu chegasse na hora que eu realmente estava chegando. Mas, agora era tarde. Eu já não podia mais pedir que a garota nascida em Belo Horizonte, que já morou em Montes Claros e agora estudava em Salinas, remarcasse para mim.

Olhei para o relógio. 6 horas e 7 minutos. Comecei a me desesperar. Em uma das mensagens dela estava escrito que o ônibus com destino a Salinas desembarcaria em oito minutos. O próximo seria apenas às dez. E nem sinal da rodoviária. Ficar sozinho numa cidade daquelas por tanto tempo me dava um frio na espinha. O que eu faria até lá? E que mal seria chegar depois das 13! Mas, um pouco de esperança ainda havia em mim.

6h10. O ônibus finalmente estacionara em seu destino. Tentei sair o mais depressa possível para conseguir pegar minhas malas e embarcar. Salinas começava a ficar mais perto do que eu imaginava. O coração batia forte, mais acelerado. A emoção tomava conta de mim.

Fui o primeiro a chegar ao bagageiro, depois do cobrador, claro! Ele já abria uma das portas e começava a tirar as malas.

  • Moço, por favor, o senhor poderia pegar minhas malas? Eu preciso viajar e o ônibus está a ponto de sair.
  • Muito bem! – dizia o cobrador – qual é a sua mala?
  • Ela não está nesse compartimento, está no outro.
  • Sinto muito! Eu não estou autorizado a abrir o outro bagageiro enquanto não esvaziar este.
  • Mas, eu preciso delas agora, senão vou perder o ônibus.
  • Lamento, não há nada que eu possa fazer.

“Não há nada que eu possa fazer?” Como não? Era só abrir a droga do outro bagageiro e entregar o que eu precisava! Isso é o que eu chamo de má vontade! Deveria era ter fechado a porta de onde ele estava e deixá-lo trancado até que alguém sentisse falta. Assim, ele aprenderia! E apodreceria!

Sim, eu estava revoltado. Mas, não tinha muito tempo para me preocupar com isso. Saí correndo até o outro ônibus e lá estava o motorista, recebendo as passagens de outras pessoas.

Respirei fundo. Não era algo tão grave, se olhasse por outro ângulo. Fiquei do lado do homem de uniforme e supliquei:

  • Com licença, moço. Eu preciso viajar neste instante pra Salinas, mas ainda preciso pegar minhas malas. Você pode esperar pelo menos uns cinco minutos só para eu pegá-las?
  • Olha, rapaz, é o seguinte. – começou o motorista, em um tom mais agressivo – Eu não posso me atrasar pra viajar, então não vai achando que eu vou poder esperar você voltar ao hotel pra buscar suas benditas malas. Vai lá correndo. Se der tempo, você embarca, senão você pega o próximo ônibus.
  • Minhas malas estão no outro ônibus! – já estava exasperado – eu só estou esperando o outro cobrador descarregar as outras malas para eu poder embarcar!
  • Já disse que não posso atrasar aqui. Se quando você voltar o ônibus tiver partido, pegue um táxi e peça para o taxista te deixar na Rua Pimentel que nós fazemos embarque por lá. Você tem quinze minutos. Boa sorte! – disse ele, sumindo nas sombras.

E, neste momento, eu via Salinas afundar. A vontade que eu tinha, depois de trancar um e enforcar o outro, era de desistir de tudo aquilo e voltar para a minha terrinha, mas eu já estava longe e não podia desistir. Ainda havia esperança, pois havia uma luz e era aquela luz que… como era mesmo o resto da música?

Aproveitei a adrenalina que pulsava forte em meu sangue e voltei para o primeiro ônibus. Finalmente o outro bagageiro estava aberto. Passei na frente de todos e já fui falando alto para o motorista:

  • Senhor, minhas malas! Eu preciso delas para viajar! O ônibus já está saindo!
  • Muito bem, quais são suas malas? – disse ele, atendendo prontamente, talvez para compensar o que fizera.
  • São aquelas duas ali no fundo. – eu apontava para as malas, próximas a ele.
  • Lamento senhor, mas não posso tirar as malas do fundo antes de retirar essas que se encontram à minha frente.

Era inacreditável. Sentia o chão abrir sob meus pés. Aquele dia, recém-nascido, acabara de morrer para mim. Salinas virava pó neste momento. Era triste pensar que naquele início de férias nada mais daria certo. Eu já nem sabia o que fazer. Todos os meus sentimentos brigavam entre si para ver quem comandaria minhas próximas reações.

Tudo sumira. As pessoas, as rodoviárias, os montes. Eu teria que ficar mais quatro horas naquela cidade, esperando e esperando. E sabe-se lá o que…

  • Para de drama, Álisson! – dizia uma voz antes de dar um tapa na minha cabeça, fazendo-me acordar de meu transe.

Finalmente, as malas estavam acabando. Depois de tanto sofrimento, recebi-as. Fui correndo para o outro ônibus e, num salto, capotei. O ônibus já saíra da plataforma e já estava virando para sair da rodoviária.

Eu poderia ter me ajoelhado naquele instante e começado a chorar, mas nem todas as minhas esperanças se esgotaram. Parti para o último recurso que me restara: Dirigir-me à Rua Pimentel por meio de um táxi. E, se isso tudo isso falhasse, aí sim, ajoelhar-me e chorar como uma criança que perde seus doces no meio da rua.

Corri para a ala dos táxis e já parei o primeiro que vi:

  • O senhor pode me levar até a Rua Pimentel? Preciso pegar o ônibus que vai para Salinas e ele para lá para embarcar as pessoas.
  • Claro, entra aí!

Apressadamente, joguei as malas no banco de trás, fui para o banco da frente, sentei-me, fechei a porta e esperei o taxista acelerar. E ele acelerou. Apontei para o ônibus que estava na nossa frente e disse:

  • Siga aquele ônibus!

Rá! Eu sempre quis dizer isso. Mas, para minha infelicidade, ele disse:

  • Tenho outro plano. Consigo chegar ao ponto antes que você possa imaginar.

E lá fomos nós rumar para outra estrada. Aquela velocidade, somada à emoção de chegar antes do horário, sem saber quanto tempo levaríamos, dava uma sensação de estarmos em um daqueles filmes de ‘Velozes e Furiosos’. Até pegaria minha máquina fotográfica para registrar esse momento único, mas estava tão preso àquela emoção que deixei para lá.

E o táxi não corria, mas voava. Cada lombada era uma sensação de frio no estômago e adrenalina pura. E quanto mais ele corria, menos eu tinha a sensação de que chegaria a tempo. Sim, estava numa sensação completamente reversa. Eu já nem sabia de mais nada, só sabia que queria chegar vivo ao meu destino.

O ponto já estava à vista. De longe, eu via aquele ônibus azul se aproximando. Não haveria tempo de embarcar. Era tenso poder imaginar que não acabaria bem. Mas, neste instante, o taxista saltou de sua poltrona e logo ficou de frente para o ônibus. Destino: Januária.

  • Fique tranquilo! Não é este.

E aí ele perguntou aos outros futuros passageiros sobre o ônibus que eu aguardava.

  • O ônibus para Salinas já foi?
  • Não, ainda estamos esperando! – Respondia uma mulher loira, já grávida de quatro meses.

Respirei mais aliviado. Era muito bom saber que nem tudo estava perdido. Agora era só esperar pelo ônibus. Estava quase pulando nos braços do taxista de tanta felicidade, quando ele anunciou em alto e bom som:

  • Quinze reais.

Ele anunciara o preço da corrida. Do voo, melhor dizendo. Olhei para o taxímetro e, novamente, olhei para ele, com cara de desconfiado. Estava marcando R$ 11,40.

Percebendo que não deveria ter dito isso, ele tentou consertar:

  • Mas, tudo bem! Vou cobrar só R$ 13,00.

Resolvi relevar. Motivos? Eu já estava impaciente com toda aquela história. Queria apenas repousar meu ‘assento’ e viajar em paz. Fora que ele também conseguiu me deixar ao destino antes que o ônibus pudesse aparecer. Por último, mas não menos importante, eu sou rico! Muito rico! Logo, aquele dinheiro não me faria falta alguma.

Tirei as malas do banco e me juntei ao povo. O taxista partira. Agora, era hora de esperar. E esperamos. Após dez minutos, lá estava o ônibus que tanta raiva me fizera passar. O ônibus parou. O cobrador desceu. As malas foram postas no bagageiro. Quando fui subir, o motorista me abordou:

  • Deu tempo, né?

Ele me disse isso com um singelo sorriso sacana. Como não queria briga nem nada, apenas disse:

  • Graças a Deus, né?

“Não graças a você, que fez questão de me fazer sofrer e gastar dinheiro” – pensei.

Mesmo tão revoltado, embarquei, procurei uma poltrona livre, deixei minha mochila no chão e me aconcheguei. Abri um dos zíperes da mochila e peguei meu videogame portátil, um DS. Ao meu lado, uma jovem mulher, muito bonitinha, de cabelo Chanel que tentava dormir.

Comecei a jogar para passar o tempo. Pelos meus cálculos, chegaria ao meu tão demorado destino às dez da manhã, agora mais tranquilo por não haver mais paradas.

De tantos jogos, escolhi Pokémon. Meu Piplup já estava quase evoluindo, quando sinto um leve movimento proveniente de meu bolso. Puxei meu celular, olhei o visor e fiquei feliz com o nome que li.

Era Larissa, que agora me ligava pra saber exatamente onde eu estava e combinarmos minha chegada.

Pisar

É mais fácil pisar em alguém…

Para quê se importar com os outros?
Posso ter quem eu quiser aos meus pés
Posso dizer o quanto eles devem gostar de mim
Posso brincar com os sentimentos de cada um.

É tão mau e tão bom sentir esse gostinho de poder
Tomar o poder das pessoas em nossas mãos
Fingir que se gosta delas
Dar a elas, apenas às vezes, o que elas querem
Para que elas possam nos dar tudo o que queremos.

E não é preciso ser bonzinho
Quem é bonzinho não consegue o que quer
É sempre passado pra trás
É sempre o idiota da história.

Então, pra quê ser o bonzinho
Se é mais fácil pisar nos outros?

Flutuar

Era apenas uma leve brisa que tocava minha pele
Algo que poderia me fazer desligar de um mundo tão movimentado
Viajar para um lugar mais calmo, onde flutuar fosse lei
Onde eu pudesse viver mais tranquilo, em paz.

Como é o pensamento de quando se troca o surreal pelo real
E o real pelo surreal?
Quando tudo que você viveu poderia ter sido apenas fantasia
E sua fantasia pudesse brotar, não apenas em você.

Sentar-se sobre campos altos, sentir aquele vento gelado
Fechar os olhos e não poder pensar em mais nada
Não se descaracterizar para viver em grupo
Apenas sentir-se flutuar.

Flutuar e viajar por um mundo distante
Abrir as asas e não querer voltar
Encontrar-se livre da vida
E viver a liberdade a seu favor.

Cansei

Fica difícil tentar assim,
Às vezes tento fazer diferente, mostrar como me sinto,
Mas você apenas ignora.

Parece que não correspondo a nada do que você queira
Parece que só os maus corações são capazes de conquistar o seu
E eu sempre tentando te mostrar que tudo pode ser diferente
Pra, ao fim, não ter nenhum reconhecimento.

Agora eu cansei.
Se você acha que eu não sei viver sem você,
Nem pense que você está certo.
Eu aprendi a viver com minha própria solidão
E aprendi que ninguém pode me tirar dela.

Você sempre me diz que não posso ser assim
Sempre me diz que estou exagerando,
Mas, você já parou para perceber que você também me trata assim
Que você é mais um que contribui para essa situação?

Desisto.
Melhor continuar assim.
Pelo menos eu sou mais feliz.
E você, é só mais um pra contar história.

Basta um sorriso

Se você se sente só

Se nada tem ido como você desejou

Se a sorte não vem a você

Se você já não tiver mais chão.

Abra um sorriso!

Apenas isso basta

Para que seu dia fique melhor.

Pense bem!

Sorria pra si mesmo

Seja diante de um espelho

Seja no reflexo de algum lugar

Seja apenas em pensamento.

Antes que possa continuar qualquer coisa que esteja fazendo,

Lembre-se: basta um sorriso e tudo ficará bem.

Deixe-me

Amor,

Traga-me o café na cama

Hoje não estou afim de levantar

Quero ver o dia passar

Sentir o vento soprar

O sol nascer

Depois se esconder

Pra lua brotar.

 

Amor,

Está tão frio lá fora

Deixe-me aqui, agora

Deixe-me curtir a vida aqui, deitado

Deixe-me esquecer do agitado.

 

Só hoje,

Hoje, domingo

Não merece que eu saia da cama

Não merece que eu dispa meu pijama

Deixe-me por aqui, só por hoje

Pois, amanhã

Ah, amanhã

Eu não posso ficar.

Um pouco pra mim também

Dois grandes amigos se vêem numa situação tensa: Leonardo havia pego um pouco de coca-cola e não pensava em dividir com Ricardo. Então, Ricardo faz uma coisa terrível: Pega o copo de Leonardo e começa a bebê-lo.

Ao ver seu amigo se enfurecer, sai correndo para fugir dele, mas não adianta. Leo é mais rápido que o amigo, toma o violentamente de sua mão e o empurra, fazendo-o cair.

Ricardo, caído, dá uma rasteira e consegue, como um ninja, pegar o copo no ar,  sem derrubar uma única gota, mas, novamente, Leonardo é mais rápido e toma da mão dele, bebendo todo o conteúdo.

Como indignação com tal cena, Ricardo pega uma garrafa cheia de coca e joga contra seu amigo, fazendo-o bater contra a parede. Mas, mais uma vez, Leo joga com a cabeça e a segura firme para que seu amigo não possa tomá-la.

– Não adianta segurar, eu vou pegar essa sua garrafa! – Diz Ricardo, com um olhar malvado.

– Ah, se você quer tanto! – Leonardo entrega, despreocupado, a garrafa para o amigo.

E Ricardo a toma, ficando satisfeito.

– Deveríamos tomar uma pepsi amanhã, o que você acha, Leo?

– Pra mim, fechou!

Créditos ao Luis que me ajudou numa história meio dopada como essa.

Ele e ela, juntos?

Ele já não tinha mais esperanças de nada. Ela também não.

Duas pessoas, dois mundos distintos, duas cabeças distantes, um mesmo motivo. Parece que ambos agora se ladeavam por um mesmo passado obscuro e sombrio.

Ele, tão sozinho que ninguém o pudesse notar. Ele sem entender porque nunca recebera um belo sorriso, um sorriso tão singelo e puro que apenas uma pessoa pudesse lhe dar. Ela, tão triste porque nunca fora compreendida pelas pessoas que mais a amam, nunca tivera alguém que lhe pudesse ouvir o coração.

Agora, ali se encontravam como duas almas perdidas que faziam brotar uma lágrima do coração, visível nos olhos. Tão triste, pois nunca pudera dizer o quanto valia seu sentimento para ninguém, por nunca conseguir fazer florescer um sentimento em alguém tão importante, mesmo sabendo que semente estava ali, brotar. Ela, por nunca ter alguém que lhe regasse os sentimentos mais belos que nela já morria. Por só alimentar o que nada valia a um ser humano tão puro e tão gentil quanto àquela garota que agora estava ali, ao lado de um garoto que sofria tão igual.

Sentados, tão quietos, vendo seus pés tão distantes do chão. “Não pule” – pensava o garoto ao olhar bem para os olhos da garota, tão tímido. “Você, tão bela, tão gentil, não deve terminar assim”. Ela, mais sofrida, pensava “por que você não me impede e mostra que ainda não deveria perder todas as minhas esperanças?”.

Por um minuto, seus pensamentos se calaram. Seus olhares se fixaram. Suas mãos se encontraram. Talvez tenha sido o bastante para que essa história tivesse um início.

Voltaremos àqueles tempos?

Foi bom para você?
Aquele tempo que tivemos juntos
Os bons e os maus
Aqueles que deixamos passar
E os que nunca aconteceram

Foi tão bom para você?
Lembra daquele domingo de sol
Daquelas tardes de futebol
Dos passeios a cavalo
E das viagens aos sábados.

Grandes amigos nós éramos
Compartilhando sorrisos e tristezas
Ajudando quando mais precisávamos
E tudo, de repente, se foi
Tudo partiu sem qualquer aviso.

E fico aqui pensando
Se esses dias valeram a pena
Se era melhor nunca ter acontecido
Ou se essa lembrança não é problema.
Algum dia voltaremos a ser amigos?

Voltaremos àquelas velhas lembranças
Quando tudo parecia tão normal
Quando o fim não parecia tão próximo
Quando a distância sequer existia
Quando eu sabia que poderia contar com alguém
Que também poderia contar comigo.

Se é o tempo que resolve
Se é o tempo quem faz tudo isso
Se eu não posso confiar no tempo
Se é o tempo quem me faz perder o juízo
Não é o tempo quem vai resolver tudo isso.

O que o lápis escreveu em 2009

Este ano, me arrisquei a escrever algumas coisas de próprio punho, porém, muitas vezes me faltou criatividade.

Por essa razão, acabei usando meu “lápis de escrever” (e, muitas vezes, a minha borracha), para escrever um ponto de contos. Fazendo uma análise do meu blog, foram 5 (cinco) nesta categoria, a maioria postada numa segunda-feira. Vemos ver o que veio aí?

Tem dias que a mente buga

O dia que eu percebi que, em certos momentos, a gente quer fazer algo, mas muitas vezes ou a gente não sabe como ou acaba perdendo o jeito em como fazê-lo. Pois é, virou quase uma poesia.

Roteiro do próprio fracasso

O primeiro conto que escrevo aqui no blog (e espero que seja o primeiro de muitos). Ah, o conto é um pouco triste, com um final não muito animador, mas foi um bom conto.

Escrevendo para si mesmo

De onde pode vir minha inspiração.

Criatividade no zero

Aqui é o contrário, quando não vem inspiração de lugar algum.

Apenas um oi

Só um oi mesmo.

Apenas um oi

Basta um oi, já temos um sorriso. Ou um oi estranho, e um olhar estranho. E se o oi nos falta, perdeu-se a educação. Oi até pra quem a gente não gosta e já evita o clima ruim.

Criatividade no zero

Quando a dúvida paira no ar, o que fazer? O que escrever? O que dizer? Que sentimentos descrever? É tão difícil assim escrever o que pensamos ou o que sentimos? É tão difícil assim?

Queria eu que a criatividade ligasse apenas com um botão. Seria tão mais fácil.

Escrevendo para si mesmo

Com um papel na mão e uma borracha para seus equívocos, ele pode escrever seu próprio mundo, sua própria história e seus próprios dilemas. Talvez, não tivesse medo de o amanhã lhe pregar alguma peça.

Roteiro do próprio fracasso

O mundo resolve dar toda a atenção, é hora de mostrar todo seu talento. Depois de ter ensaiado, preparado a voz e repetir, inúmeras vezes, o discurso, ele está pronto para declamá-lo em público. As cortinas se abrem, a plateia aplaude, ele dá pequenos passos, o auditório se cala e é a sua vez. 

Ele olha para todos os outros, nervoso, começa a suar frio, a voz não sai, o desespero aumenta. Seria melhor recuar ou nem ter subido no palco? A plateia ainda espera e ele não sabe o que vai acontecer se falhar. Imagina que todos vão desconstruir toda sua imagem naquele momento, pois este não é o seu lugar. 

Simplesmente, não é o seu lugar. 

Desesperado, foge dali, com seus medos e seus pensamentos negativos. Ele não consegue aceitar que falhou mais uma vez, mesmo ensaiando tanto. As risadas ecoam por sua mente, enquanto corre, aos prantos, sem destino a rumar. Não consegue ser mais um na multidão, é alguém que está aquém dos padrões da sociedade. 

Não consegue se lembrar de tudo de bom que já foi capaz de realizar, do que já fez pelos outros. Nunca parou para pensar nos êxitos que logrou, ou quase. Só pensa naquele momento, em todo seu fracasso, nas falhas que sempre teve. Não percebe que todos são assim, porque só se lembra do êxito deles. 

Não quer mais erguer a cabeça, não pensa em lugar, não pensa em gritar. Não quer saber mais de ninguém, por acreditar que não tem mais ninguém. Ninguém é capaz de tirá-lo daquele buraco que ele mesmo havia se jogado. A vida nunca te dá as mãos, só lhe dá as costas, só pensa em derrubá-lo. 

Não consegue contar seus problemas a ninguém, porque sabe que será motivo de piada. Mas, não permite que outras pessoas se afundem em seus próprios problemas, porque ele não quer ninguém como ele. Não permite que outros chorem, mesmo que lhe custe a própria felicidade. Sente-se sozinho por não conhecer quem o compreenda profundamente. 

Afasta-se dos mais próximos e os transforma em seus piores inimigos. Nada mais lhe importa, não quer mais saber de seguir assim. Continua a atuar pelos palcos da vida, sem ânimo, sem vontade, apenas com a ideia de que nada mais importa. 

Até que um dia, foge do roteiro para rascunhar o que, talvez seja, o fim de sua própria peça. 

Créditos da imagem: Light vector created by upklyak – www.freepik.com

Tem dias que a mente buga

Sabe aqueles dias
Que a mente buga?

Sabe quando você faz uma coisa automática todas as vezes
E aí, quando algo está errado, você não sabe o que fazer?
Você até sabe que está errado
Mas não sabe como resolver?

Aí a gente precisa achar algo que esteja certo
Pra poder consertar

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