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Lições sobre como voar

Introdução
O Guia do Mochileiro das Galáxias diz o seguinte a respeito de voar:
Há toda uma arte, ele diz, ou melhor, um jeitinho para voar. O jeitinho consiste em aprender como se jogar no chão e errar. Encontre um belo dia e experimente.

Primeiros passos: Se jogue!
A primeira parte é fácil.
Ela requer apenas a habilidade de se jogar para a frente, com todo seu peso, e o desprendimento para não se preocupar com o fato de que vai doer. Ou melhor, vai doer se você deixar de errar o chão.

Erre o chão!
Muitas pessoas deixam de errar o chão e, se estiverem praticando da forma correta, o mais provável é que vão deixar de errar com muita força. Claramente é o segundo ponto, que diz respeito a errar, que representa a maior dificuldade.

Problemas de quem não erra o chão
Um dos problemas é que você precisa errar o chão acidentalmente. Não adianta tentar errar o chão de forma deliberada, porque você não irá conseguir. É preciso que sua atenção seja subitamente desviada por outra coisa quando você está a meio caminho, de forma que você não pense mais a respeito de estar caindo, ou a respeito do chão, ou sobre o quanto isso tudo irá doer se você deixar de errar. É reconhecidamente difícil remover sua atenção dessas três coisas durante a fração de segundo que você tem à sua disposição. O que explica por que muitas pessoas fracassam, bem como a eventual desilusão com esse esporte divertido e espetacular.

A dica de ouro é: Distraia-se!
Contudo, se você tiver a sorte de ficar completamente distraído no momento crucial por, digamos, lindas pernas (tentáculos, pseudópodos, de acordo com o filo e/ou inclinação pessoal) ou por uma bomba explodindo por perto, ou por notar subitamente uma espécie muito rara de besouro subindo num galho próximo, então, em sua perplexidade, você irá errar o chão completamente e ficará flutuando a poucos centímetros dele, de uma forma que irá parecer ligeiramente tola.

Balance e flutue, flutue e balance!
Esse é o momento para uma sublime e delicada concentração. Balance e flutue, flutue e balance. Ignore todas as considerações a respeito de seu próprio peso e simplesmente deixe-se flutuar mais alto.

Foco!
Não ouça nada que possam dizer nesse momento porque dificilmente seria algo de útil. Provavelmente dirão algo como: “Meu Deus, você não pode estar voando!” É de vital importância que você não acredite nisso: do contrário, subitamente estará certo.

Aperfeiçoe seu voo
Flutue cada vez mais alto. Tente alguns mergulhos, bem devagar no início, depois deixe-se levar para cima das árvores, sempre respirando pausadamente.

NÃO ACENE PARA NINGUÉM.
Quando você já tiver repetido isso algumas vezes, perceberá que o momento da distração logo se torna cada vez mais fácil de atingir. Você pode, então, aprender diversas coisas sobre como controlar seu voo, sua velocidade, como manobrar, etc. O truque está sempre em não pensar muito a fundo naquilo que você quer fazer. Apenas deixe que aconteça, como se fosse algo perfeitamente natural.

A parte final: O pouso!
Você também irá aprender como pousar suavemente, coisa com a qual, com quase toda certeza, você irá se atrapalhar ― e se atrapalhar feio ― em sua primeira tentativa.

Clubes privados de voo – faça amizade com quem também está neste ramo.
Há clubes privados de voo aos quais você pode se juntar e que irão ajudá-lo a atingir esse momento fundamental de distração. Eles contratam pessoas com um físico inacreditável ― ou com opiniões inacreditáveis ―, e essas pessoas pulam de trás de arbustos para exibir seus corpos ― ou suas opiniões ― nos momentos cruciais. Poucos mochileiros de verdade terão dinheiro para se juntar a esses clubes, mas é possível conseguir um emprego temporário em um deles.

Texto retirado de “A vida, o universo e tudo mais”, componente da saga “O mochileiro das galáxias”, de Douglas Adams

Obs.: Nunca, jamais, em hipótese alguma, tente voar.

Lições sobre como voar

Introdução
O Guia do Mochileiro das Galáxias diz o seguinte a respeito de voar:
Há toda uma arte, ele diz, ou melhor, um jeitinho para voar. O jeitinho consiste em aprender como se jogar no chão e errar. Encontre um belo dia e experimente.

Primeiros passos: Se jogue!
A primeira parte é fácil.
Ela requer apenas a habilidade de se jogar para a frente, com todo seu peso, e o desprendimento para não se preocupar com o fato de que vai doer. Ou melhor, vai doer se você deixar de errar o chão.

Erre o chão!
Muitas pessoas deixam de errar o chão e, se estiverem praticando da forma correta, o mais provável é que vão deixar de errar com muita força. Claramente é o segundo ponto, que diz respeito a errar, que representa a maior dificuldade.

Problemas de quem não erra o chão
Um dos problemas é que você precisa errar o chão acidentalmente. Não adianta tentar errar o chão de forma deliberada, porque você não irá conseguir. É preciso que sua atenção seja subitamente desviada por outra coisa quando você está a meio caminho, de forma que você não pense mais a respeito de estar caindo, ou a respeito do chão, ou sobre o quanto isso tudo irá doer se você deixar de errar.
É reconhecidamente difícil remover sua atenção dessas três coisas durante a fração de segundo que você tem à sua disposição. O que explica por que muitas pessoas fracassam, bem como a eventual desilusão com esse esporte divertido e espetacular.

A dica de ouro é: Distraia-se!
Contudo, se você tiver a sorte de ficar completamente distraído no momento crucial por, digamos, lindas pernas (tentáculos, pseudópodos, de acordo com o filo e/ou inclinação pessoal) ou por uma bomba explodindo por perto, ou por notar subitamente uma espécie
muito rara de besouro subindo num galho próximo, então, em sua perplexidade, você irá errar o chão completamente e ficará flutuando a poucos centímetros dele, de uma forma que irá parecer ligeiramente tola.

Balance e flutue, flutue e balance!
Esse é o momento para uma sublime e delicada concentração.
Balance e flutue, flutue e balance. Ignore todas as considerações a respeito de seu próprio peso e simplesmente deixe-se flutuar mais alto.

Foco!
Não ouça nada que possam dizer nesse momento porque dificilmente seria algo de útil.
Provavelmente dirão algo como: “Meu Deus, você não pode estar voando!”
É de vital importância que você não acredite nisso: do contrário, subitamente estará certo.

Aperfeiçoe seu voo
Flutue cada vez mais alto.
Tente alguns mergulhos, bem devagar no início, depois deixe-se levar para cima das árvores, sempre respirando pausadamente.

NÃO ACENE PARA NINGUÉM.
Quando você já tiver repetido isso algumas vezes, perceberá que o momento da distração logo se torna cada vez mais fácil de atingir. Você pode, então, aprender diversas coisas sobre como controlar seu vôo, sua velocidade, como manobrar, etc. O truque está sempre em não pensar muito a fundo naquilo que você quer fazer. Apenas deixe que aconteça, como se fosse algo perfeitamente natural.

A parte final: O pouso!
Você também irá aprender como pousar suavemente, coisa com a qual, com quase toda certeza, você irá se atrapalhar ― e se atrapalhar feio ― em sua primeira tentativa.

Clubes privados de voo – faça amizade com quem também está neste ramo.
Há clubes privados de voo aos quais você pode se juntar e que irão ajudá-lo a atingir esse momento fundamental de distração. Eles contratam pessoas com um físico inacreditável ― ou com opiniões inacreditáveis ―, e essas pessoas pulam de trás de arbustos para exibir seus corpos ― ou suas opiniões ― nos momentos cruciais. Poucos mochileiros de verdade terão dinheiro para se juntar a esses clubes, mas é possível conseguir um emprego temporário em um deles.

Texto retirado de “A vida, o universo e tudo mais”, componente da saga “O mochileiro das galáxias”, de Douglas Adams

A vida é um drink, o amor, uma droga

Oh, Anjo! Leia minha mente lotada de preces. Eu preciso de você, pois me sinto tão pesado. Esta correnteza me leva tão depressa e o fôlego parece tão distante de meu alcance.

Olho pra cima em direção a um céu claro, porém turvo. As pálpebras pesam e minha cabeça se descontrola. Parece que estou levemente mais quebrado que ontem ou serão as dores de minhas costas arranhadas? Não há como me livrar disso.

A vida é uma bebida, mas o amor é uma droga. Ele nos joga em mundo perfeito e relaxante. Nossas defesas se abaixam e nos entregamos. E nos deitamos. Sentindo a calma de um tapete de veludo, em que podemos nos esfregar como se fosse a melhor sensação do mundo. E o amor nos deixa ali, por um breve instante.

Oh, Anjo! Você já me levantou outras vezes, mas estou novamente nadando contra essa correnteza em vão. O amor me jogou de novo e eu não estou gostando disso. Mesmo acostumado, essa droga em demasia não é meu desejo. Faça-o parar antes que me leve daqui. Quero dizer adeus a esse vício, que me consome e bebe um pouco por dia de minha alegria, rasgando-me aos poucos até meu gélido descarte. E depois procura sua próxima vítima – quando esta não sou eu novamente.

E ele nem se importa com o estrago que faz.

Agora só preciso de um pouco mais dessa dose, mas não tenho ânimo de tomá-la. Tome um drink por mim e tente me fazer voar com outras asas, aquelas já estão velhas. Eu não sei nadar, então me ensine a voar pra bem longe e seguir para qualquer outro rumo melhor, antes que o sangue verde em minhas veias escape pelos meus dedos. A vida é um drink, mas o amor é uma droga. O vício não é uma escolha.