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Longe de Mim, Encontrei o Amor – Part II

Leia a primeira parte do conto clicando aqui

Talvez, você não saiba, talvez não tenha decifrado em meus olhos, talvez você não tenha certeza do que estou sentido, mas sei bem o que você deve estar pensando: “Por que ela fugiu dos meus braços naquela noite?” Agora estou aqui, em meu quarto, triste por uma atitude tão tola.

Fiquei nervosa, eu sei. Todos aqueles flashes e olhares para a minha pessoa. Ah, como eu fiquei tímida, como fiquei nervosa. Meu pensamento quis dizer “sim”, meu coração quis dizer “sim”, minha boca estava quase dizendo “sim”, mas meus pés foram mais rápidos e me fizeram fugir dali.

Devo ter partido seu coração. Não me leve a mal. Quando vejo seu rostinho tão fofo, sorrindo pra mim com o olhar mais inocente do mundo, percebo o quanto ganhei na minha vida.

Já procurei tanto, mas quando estava quase desistindo de lutar, veio meu cúpido e me flechou de tal forma que não pude controlar.

Estou pronta para entregar meu coração a você, pois sei que é digno de cuidar bem dele como cuida tão bem do seu e sei como está disposto a enfrentar tantas barreiras que te aflige para lutar pelo nosso amor. E você não lutará só, pois lutarei sempre ao seu lado.

E era exatamente assim que eu escreveria nossa história. Parece ser tão simples quando rascunhamos lindos desenhos deste maravilhoso conto, apenas desenhando nós dois sentados à beira do mar, vendo o sol se pôr, de mãos dadas, com tantos corações voando, enquanto tocamos os lábios do outro.

Mas eu falhei. E com apenas um tropeçar, deixei que essa folha caísse no mar e se molhasse e ao tentar pegá-la, ela se rasgou, deixando-nos uma lágrima.

Desculpe-me por ter fugido. Agora estou aqui no quarto, desejando que você me dê uma nova chance para que eu possa ver você novamente, com esse seu olhar puro e encantador que me faz apaixonar. Sinto tanto sua falta. Será que não há um meio fácil de dizer tudo isso? Eu me sinto tão mal de estar aqui sozinha, esperando por você…

Quando estava prestes a perder minhas esperanças, eis que uma luz surge e penetra em meu ser.

*

  • Ei, psiu, gatinha…

Escuto alguém me chamar. Olho pela janela e vejo aquele velho amigo seu.

  • Acho melhor você vir aqui agora. Seu namorado está partindo, não podemos perder tempo!

Sem ao menos ter tido tempo de pensar, troco de roupa e corro para seu carro. Ele me explica tudo pelo caminho:

  • Você deu mancada, o rapaz está pensando que você não o quer.
  • Eu não tive culpa, fiquei muito nervosa! Se ao menos pudesse voltar no tempo.
  • Não há com o que se lamentar. Ele ficou muito mal e pegou o carro com a intenção de voltar para sua terra. Pedi que fosse te ver antes para ouvir uma explicação sua, mas ele disse que não acreditava mais no amor.
  • Preciso reconquistá-lo, mas como? Ele deve estar longe agora!
  • Se eu perguntasse a alguns dos meus amigos policiais, talvez saberíamos por onde ele já tenha passado.
  • Você tem amigos policias?
  • Sim, tenho alguns!
  • Tive uma ideia! Por favor, deixe-me no hotel que ele se hospedou. Eu explico tudo pelo caminho.
  • Tem certeza de que isso pode dar certo?
  • Acredite em mim! É minha última chance de ser feliz ao lado dele.

Bartender

Oito horas da noite e eu ainda estou em casa, deitada, pensando no quão triste a vida é. Estou em calmos prantos, onde a lágrima escorre timidamente por meu rosto.

O telefone não para de tocar. Minhas amigas. Por um bom tempo, tentam me tirar dessa fossa. Meu sofrimento tem nome e sobrenome. Agora estou deitada, preenchendo de bad feelings aquelas lacunas de um pensamento à beira da depressão.

  • Hey, garota! Levante-se! – Atendi o telefone, enfim.

Era Hillary, a amiga que eu mais odiava e a que eu mais amava. Presente em cada momento meu. Conhece todos os meus segredos e briga comigo por tudo, mas nunca me deixa na mão, mesmo que ela saiba o quanto esbravejo quando sou obrigada por ela a fazer certas coisas, como essa.

  • Saia agora dessa cama, sua vaca! Arrume-se e venha ao Night Club. As garotas e eu estamos te esperando em duas horas. Não me faça ir até aí e arrastar esse seu cabelo oxigenado pelas ruas movimentadas de São Paulo. E nem me venha com desculpas.

Ela sabia que eu a odiaria nos próximos anos, mas levantei-me da cama, troquei aquele velho pijama rasgado, pus aquela maquiagem discreta, tomei um bom banho daquele perfume importado que ela me dera em meu último aniversário, fiz uma demorada escova e dei uma última olhada no espelho. Parecia outra pessoa. Aquela imagem vista em seu reflexo era deslumbrante. Estava na hora de matar meus leões.

Quinze para meia-noite. Entro no bar. Todas as garotas estavam ali, radiantes por me verem. E como estavam lindas. E eu não fiquei para trás, estava tão deslumbrante quanto elas. Éramos as musas daquela noite. Todos os olhares se direcionavam a nós.

  • Nesta noite, algumas tarefas lhe foram destinadas: esqueça-se do nome de seu sofrimento, dê um beijo de adeus no seu passado e divirta-se como nunca.
  • E aí, meninas? Prontas para curtir?

O quinteto estava pronto para detonar.

Hey, bartender. Traga uma dose dupla de whisky. Veja todas essas garotas. Estamos aqui para dominar a pista, portanto sem essa de nos limitar. Não temos hora para terminar.

Duas, cinco, oito, doze. Já perdi a conta de quantas doses já foram tragadas. A pista está bombando e a música, envolvente. Estou me divertindo com minhas amigas. Está tudo perfeito. Que essa noite nunca termine.

O DJ acertou em suas escolhas. A pick-up ferve como um vulcão. Meu canto se expulsa de tal forma que todos podem ouvir. Tenho toda aquela noite há muito tão desejada por mim e me sinto tão bem por isso.

Lágrimas? Não mais! Foram todas transformadas em suor. Danço, pulo, canto, beijo. A pista é meu novo amor e serei sua até o amanhecer. A luz me toca e faz transparecer toda minha feminilidade. Estou me saindo bem? Mal? A quem importa? A alegria me dominou e por toda a noite, se fará presente. Por essa, pela próxima e por todas as outras, o espaço será destinado a ela.

Poderia estar em minha cama chorando, mas decidi estar aqui. Não há escolha melhor. Agora, dê-me sua licença, que a pista me chama para um abraço e de lá não sairei tão cedo. Nem eu, nem minhas amigas. Essa é a nossa noite. A noite das garotas solteiras, porém nunca solitárias.

Hey, bartender. Traga mais uma dose dupla de whisky.

Mercy

  • Herois, ataquem-no! Ele é um traidor. Não pode fugir! Sabe de todos os nosso segredos.

(…)

Dor. Sofrimento. Sou inimigo de todos. Ou será que são todos meus inimigos?

Poder. O poder me subiu à cabeça. Tentei libertar a todos e o que fiz foi exatamente o contrário. Matei aqueles que não me obedeciam. Causei sofrimento. Trouxe a todos aquele sentimento de revolta. Agora, sou o culpado. Sou o responsável. Fui controlado para controlar todos. Fui vítima do sistema e me tornei o opressor.

Minha alma. Será que ainda está viva ou será que já a vendi? Liberdade, opressão. Duas ações opostas. Meu pensamento era outro antes do poder. Por que foi transformado? O que eu fiz de verdade? Sinto-me tão culpado.

Eles precisam saber. Será que me escutam? Fui só uma vítima. Uma vítima que fez vítimas.

Poder. Controle ou seja controlado. Eu não soube usá-lo. “Com grandes poderes vêm grandes responsabilidades”. Eu sabia disso, eu estava sofrendo, eu via aquela sofrimento. Eu só quis acabar com tudo aquilo. E o que fiz? Causei mais sofrimento.

Agora sou culpado por tudo. Sou o cabeça de todos os males. Ninguém percebe isso. Todos estão revoltados. Não deveria ir contra quem eles tanto veneravam. Eles matam, batem, oprimem aquele que for contra. E eu fui.

E o que mais me dói não é a dor física. Não é estar coberto de sangue neste chão frio. O que mais me faz sangrar é a dor emocional. É saber que fui culpado. Saber que me deixei controlar. Saber que sou tão mau e perverso. Saber que me deixei levar por essa situação.

E isso me machuca. Estou chorando. Estou ferido. Estou abatido. Causei tudo isso. Causei toda essa tormenta. Não há mais ninguém do meu lado. Estão todos contra mim. Estou só. Estou sujo. “Alguém pode me ouvir?”

Por favor, tenham misericórdia de mim. Sou só mais uma vítima desse sistema perfeito.