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Laranja passada

Estava eu almoçando tranquilamente (olhando o relógio para voltar a trabalhar) quando o garçom me pergunta o que eu gostaria de beber.

Com a comida ainda toda na boca, mastiguei rápido e a engoli (com toda a delicadeza do mundo) para não engasgar.

Corta pra cena em que fiquei quinze minutos tossindo desesperado tentando fazer a comida voltar pro buraco certo.

Pedi meu já habitual suco de laranja (já que era o único, pois o de limão estava impossibilitado de ser feito, pois o liquidificador deles já estava quebrando havia mais de semana) e voltei a comer (enquanto o garçom ficou lá do lado da mesa uns bons minutos aguardando minha comanda para fazer a anotação).

Tendo chegado o suco, continuei a comer, pois normalmente o tomo depois de terminada minha deliciosa refeição (no dia em questão, a carne estava bastante salgada). Dei uma bicadinha (tomei um gole, caso não tenha entendido) só para provar e voltei à comida.

Sabe quando você toma algo tão ruim, mas demora a processar e só se dá conta quando já coloca o copo na mesa? Pois foi essa minha reação.

Ainda estava processando o sabor daquele suco, mas deixei para tomar o resto no final mesmo (como disse acima). Depois, tomei mais um pouco e percebi que o suco tinha sido feito com laranjas colhidas e escolhidas a mão nos verdes campos das laranjeiras podres, pois não era possível que aquilo estava tão ruim. Então, fiz aquilo que toda pessoa normal faz numa situação dessa: tomei mais um pouco.

Resolvi ir à pesonista (a mulher que pesa o prato) e falei educadamente que a laranja estava “passada”.

Corta pra cena em que a moça está toda encharcada de suco de laranja por algum motivo inexplicável.

A moça entregou o suco de laranja ao garçom e me perguntou se eu gostaria de outro ou se eu deveria tirá-lo da comanda.

É ruim que eu ia tomar outro com as mesmas laranjas, né? Ela que tomasse!

No final, tudo certo. Estava indo pra fila do caixa pagar minha refeição, quando me deparo com a cena: o garçom estava na cozinha tomando o meu suco de laranja no meu copo (sim, a cozinha tem vista pro restaurante inteiro).

Percebendo ser uma cena um pouco estranha, decidi virar o rosto por exatos três segundos, mas a curiosidade era grande e eu voltei a olhá-lo, quando me deparo com a cena em que ele estava fazendo careta pro suco.

Foi difícil, mas aguentei a risada. Por pouco tempo. Foi apenas o prazo de ele passar por mim e soltar um “realmente, o suco está uma porcaria”.

E foi assim que fiz amizade com o garçom.

Bom, pelo menos ele provou (literalmente) que eu não estava mentindo.


Referências
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