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Trago a batida

Vindo de tão distante,
Com paisagem tão estranha,
Onde todo mundo dança,
Mas ninguém encontra no mapa.

O costume aqui é tão louco,
Mesmo com luzes tão brilhantes e coloridas
Ouço uma canção ao fundo,
Mas aqui no centro ninguém dança.

Nem um passinho curto
E a pista ali largada
O terno preto e a gravata estão intactos
A baia do vestido não está amarrotada
Tem sapato limpo pra todo canto
E eu não vejo nenhuma mesa arrastada.

Que festa é essa que me convidaram,
Ninguém nessa terra comum dança
Eu não vim de tão longe, de uma terra estranha
Pra ficar aqui parado.

Trago a batida
O corpo não pode ficar parado
Trago meus passos
E meu par de pés há, pela manhã, de ficar cansado
Trago o movimento
Não me olhe como se eu estivesse errado
Trago a batida
Quero pegadas por todo os lados deste salão lotado.

É fácil continuar se regrando
Só pra não ser zoado
Por que você fica aí dosando
Entre ser feliz e ser criticado?

Estou entrando numa terra em que ninguém faz nada diferente
Como se o diferente fosse um crime hediondo
Calma aí, meu bom ser humano
Seu desejo está brilhando em seus olhos
Então, venha, vamos cair na dança.

Trago a batida
Danço como se fosse a última vez
Trago a batida
E o baile me acompanha
Trago a batida
O sol pode nascer, a hora não termina
Trago a batida
Felicidade define, felicidade contagia
Trago a batida
Até o DJ se anima
Trago a batida
Ou é a batida quem me traz?
Trago a batida
Para meu novo lar
Trago a batida
E aqui vou ficar

Pois, qualquer lugar que me deixe por minha felicidade em primeiro lugar
Tem um lugar especial reservado dentro de mim.

Imagem de Pexels por Pixabay

Bartender

Oito horas da noite e eu ainda estou em casa, deitada, pensando no quão triste a vida é. Estou em calmos prantos, onde a lágrima escorre timidamente por meu rosto.

O telefone não para de tocar. Minhas amigas. Por um bom tempo, tentam me tirar dessa fossa. Meu sofrimento tem nome e sobrenome. Agora estou deitada, preenchendo de bad feelings aquelas lacunas de um pensamento à beira da depressão.

  • Hey, garota! Levante-se! – Atendi o telefone, enfim.

Era Hillary, a amiga que eu mais odiava e a que eu mais amava. Presente em cada momento meu. Conhece todos os meus segredos e briga comigo por tudo, mas nunca me deixa na mão, mesmo que ela saiba o quanto esbravejo quando sou obrigada por ela a fazer certas coisas, como essa.

  • Saia agora dessa cama, sua vaca! Arrume-se e venha ao Night Club. As garotas e eu estamos te esperando em duas horas. Não me faça ir até aí e arrastar esse seu cabelo oxigenado pelas ruas movimentadas de São Paulo. E nem me venha com desculpas.

Ela sabia que eu a odiaria nos próximos anos, mas levantei-me da cama, troquei aquele velho pijama rasgado, pus aquela maquiagem discreta, tomei um bom banho daquele perfume importado que ela me dera em meu último aniversário, fiz uma demorada escova e dei uma última olhada no espelho. Parecia outra pessoa. Aquela imagem vista em seu reflexo era deslumbrante. Estava na hora de matar meus leões.

Quinze para meia-noite. Entro no bar. Todas as garotas estavam ali, radiantes por me verem. E como estavam lindas. E eu não fiquei para trás, estava tão deslumbrante quanto elas. Éramos as musas daquela noite. Todos os olhares se direcionavam a nós.

  • Nesta noite, algumas tarefas lhe foram destinadas: esqueça-se do nome de seu sofrimento, dê um beijo de adeus no seu passado e divirta-se como nunca.
  • E aí, meninas? Prontas para curtir?

O quinteto estava pronto para detonar.

Hey, bartender. Traga uma dose dupla de whisky. Veja todas essas garotas. Estamos aqui para dominar a pista, portanto sem essa de nos limitar. Não temos hora para terminar.

Duas, cinco, oito, doze. Já perdi a conta de quantas doses já foram tragadas. A pista está bombando e a música, envolvente. Estou me divertindo com minhas amigas. Está tudo perfeito. Que essa noite nunca termine.

O DJ acertou em suas escolhas. A pick-up ferve como um vulcão. Meu canto se expulsa de tal forma que todos podem ouvir. Tenho toda aquela noite há muito tão desejada por mim e me sinto tão bem por isso.

Lágrimas? Não mais! Foram todas transformadas em suor. Danço, pulo, canto, beijo. A pista é meu novo amor e serei sua até o amanhecer. A luz me toca e faz transparecer toda minha feminilidade. Estou me saindo bem? Mal? A quem importa? A alegria me dominou e por toda a noite, se fará presente. Por essa, pela próxima e por todas as outras, o espaço será destinado a ela.

Poderia estar em minha cama chorando, mas decidi estar aqui. Não há escolha melhor. Agora, dê-me sua licença, que a pista me chama para um abraço e de lá não sairei tão cedo. Nem eu, nem minhas amigas. Essa é a nossa noite. A noite das garotas solteiras, porém nunca solitárias.

Hey, bartender. Traga mais uma dose dupla de whisky.