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Confuso em caminhos incertos

Olha eu aqui mais de uma centena de vezes girando em meu próprio eixo, parado no mesmo lugar, olhando pra tudo que deixei pra trás. Mais um dia em que se repetem as mesmas perguntas para o ser que habita dentro de mim. Pra onde devo ir? Qual é o meu real propósito? É para o meu destino que estou a seguir?

Sei que a estática não é real. Tenho aperfeiçoado os meus muitos ‘eus’. Só que não é o que parece, pois o que está ao meu redor não parece mudar com o que tenho a contribuir. Um olhar em terceira pessoa me mostra que não há qualquer diferença perceptível em mim.

Talvez, só talvez.

Talvez seja só eu contra mim mesmo, com algumas rugas que há muito eu não tinha. Talvez seja só eu lutando pelos mesmos propósitos de dez anos atrás, mas com menos energia e disposição do que um jovem eu. Talvez, mas só talvez, ainda sejamos as mesmas pessoas.

Será mesmo que estou evoluindo? Não é o que sinto, pois quando evoluímos sentimos um brilho diferente em nós. Contudo, o que sinto é estar parado em uma pista de corrida onde tantos corredores passam por mim. Todos eles correndo em direção a mais uma realização de seus sonhos, enquanto me pego preso por uma força que não sei explicar. Eu só não queria estar aqui, queria estar lá, com eles, comemorando cada desafio que eu possa superar e não aqui parado no mesmo lugar.

Será que não estou reagindo?

A balança da incerteza não me revela nada. Todos os meus feitos são aprendizados que me acompanharão ao longo dos trilhos da vida, positivos e negativos. Mas a balança de ferro afirma sua incerteza pendendo de um lado para o outro sem se imobilizar. Às vezes me pego refletindo nas coisas que já fiz e fico medindo nessa balança de ferro qual lado está maior, mas a balança não é justa, tampouco certa. Ela parece não entender que precisa pender apenas para um lugar, ao contrário de se mover a cada vez que me pego pensando em mim. Ela parece se alimentar das mesmas incertezas que alimentam minha ansiedade de vencer.

Parece que tô gastando energia em tudo, menos no que realmente importa. Sigo tão exausto que às vezes só quero me deitar um pouco em meu quarto e gastar meu tempo em meu entretenimento virtual. Não sei se estou perdido. Não sei se estou no caminho certo.

Mas eu não estou parado. Sei que há um crescimento genuíno em mim. Sei das minhas habilidades e do meu potencial, em tantos caminhos que sou capaz de seguir. Pode não ser um acerto, pode ou não ser uma escolha ruim.

Talvez eu só esteja confuso. Com tantos caminhos que abri, fico confuso em saber qual o correto a seguir. Mas parece que isso está me prendendo em tantas dúvidas de como devo reagir. Pode ser que eu não saiba, pode ser que você se sinta assim também. Pode ser só loucura, ou pode ser que eu só não queira abrir mão do que eu tenho conquistado até aqui.

Guardo Nossa História em Silêncio

Frente ao mar, sozinho, sigo sentado num banco já deteriorado pelo tempo, enquanto as ondas batem na areia, por conta do vento. Nem o céu nublado pode afastar as pessoas de caminharem de mãos dadas, enquanto as crianças correm, pulam e se divertem na areia, cavando buracos, se enterrando e construindo castelos. 

Com um pouco de atenção, vejo os seus sorrisos. Eles seguem felizes aproveitando aquele clima gostoso. Eu poderia estar ali, curtindo como sempre, mas algo em mim me travou hoje. Só o que eu quero é sentir o vento bater em meu silêncio, enquanto tento criar outro final de uma história presa em minhas lembranças. 

As risadas me dispersam. A menininha com a cara cheia de protetor solar e boias nos braços corre para o mar. Ela para, olha, coloca seu pezinho e volta correndo dizendo para sua mamãe que a água estava gelada. A mãe sorri e diz que está tudo bem. Seu pai a carrega nos ombros e a leva para o mar, com aquele jeito de herói, para mostrar a ela que não deve temer nada. E, então, joga um pouquinho de água em seus cabelos, fazendo-a gargalhar. 

A onda se acalmava, mas não em meu coração. Sei lá, não sou de ficar assim, mas por alguma razão, hoje essa tristeza gritou dentro de mim. Olhar para aquelas pessoas aumentou meu sentimento de querer estar ali, no lugar deles, sentindo sua felicidade. Poderíamos ser apenas nós, com nossas crianças, para que eu não estivesse aqui desejando o que não pude ter. 

Olho para trás quando alguém me chama. Era você, me perguntando o que eu estava fazendo. “Nada”, eu respondia. “Estava apenas em meus pensamentos”. Você sorri e nos encontramos com nossos amigos, para zoarmos um pouco pela cidade. Desde que decidimos sermos apenas amigos, contra nossa vontade, nunca mais tocamos no assunto. 

Vejo o sorriso que você carrega, mas não me esqueço da lágrima daquela noite. Mesmo após meses num namoro escondido, éramos felizes, mas não livres. E por não poder amar alguém como eu e com receio de confrontar a quem dizia te amar, você me pediu pra te esquecer e eu, respeitando o que sentia por você, apenas te dei um “sim”. 

E no último beijo, abraçados no mesmo banco, nos despedimos em silêncio. 

Após nosso luto, decidimos cultivar nossa amizade. Nossos corações seguiram por outros rumos, mas ainda não encontramos ninguém que possa refazer nosso mundo. Hoje, seguimos em silêncio, sem saber o que o outro carrega, mas o que eu queria mesmo era gritar que, não importa quanto tempo passe, você será sempre a pessoa especial que meu coração guardará. 

Já se passaram seis longos anos de nosso adeus e mesmo que eu não chore mais, é difícil esquecer. Talvez eu ainda não me permita abrir mão do final feliz que um dia, nesta praia, eu não pude ter. 

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