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Desejo Obscuro

Sozinho. Silêncio. Escuridão.

Me deixe. Em paz. Não quero. Te ver. Envolto. Você. Sombra negativa. Calafrios. Estou perto. Você vem. Sorrisinho maligno. Vejo essa dor. Que traz. Pra mim. Estou louco. É o que dizem. Pois você. Nada de mais. É o que dizem.

Sofrendo. Devagar. Pare. De se aproximar.

Você me corrói. Por dentro. Me diz. Não. Você diminui. Minha luz. Fagulha. Quase apaga. Escuridão. Você. Vira as costas. Vai embora. Mas, volta. Me olha. Sorri. Me desespero. Me paraliso. Fico quieto. Seu olhar. Penetrante. Grito em minha mente. Vai embora. Fique.

Fique. Volte. Imploro. Vá. Não sei. Dentro de mim. Desespero. Quero estar vivo. Imploro. Vá embora. Você vai embora.

Solidão. Silêncio. Escuridão. Loucura.

Por favor. Vá! Estou confuso. Estou em migalhas. Quero sair daqui. Me leva. Me leva! Minha solidão entra em conflito. Minha solidão se confunde. Confunde com meu desespero. Quero sair. Sair daqui. Sair dali. Sair de mim. Me leva. Me leva de mim. Me leva de mim, me tira daqui. Você sempre volta. Você sempre vem. Me ver. Já estou em pedaços. Você sabe. É o que você deseja. Você quer. Já sabe. Já tem o que quer. E você sempre. Sempre volta pra vir me ver.

Sozinho. Não mais. Passo. Passo. Outro passo. Sua risada. Em silêncio.

Me leva. Estamos os dois. Na escuridão. Estamos no mesmo lugar. Você volta. Pra me ver em pedaços. Mas é você. É você quem está. Você não vai embora. Você não quer me levar embora. Mas você sempre volta. Você quer estar onde estou? Você quer estar em pedaços como eu? Eu sei. Você deseja. É o que você deseja. Você deseja. Deseja o escuro.

Deseja o obscuro. Assim. Como. Eu.

Photo by Nastya Dulhiier on Unsplash

Parte de mim luz

Ele vem em minha direção, naquela noite chuvosa, onde poucos postes iluminam minha visão. Veste uma jaqueta de couro preta, uma camiseta preta, uma calça preta e tênis preto. Seu cabelo está levemente bagunçado, mas seu olhar é fixo ao meu corpo escorado em uma parede. Na rua, não há passageiros ou carros, não há vozes, não há barulhos, não há músicas.

Lembro-me de um tempo em que tentava ser feliz de todas as formas, mas tudo me frustrava. Meu primeiro relacionamento foi um desastre. Fui enganado de tantas formas que já nem me lembro como era o amor. Meus amigos apenas fingiam estar do meu lado, quando tampouco pensavam em mim. Minha família sempre desunida onde cada um só agia em benefício próprio. No trabalho, então, só decepção.

Entrei em minha fase de isolamento, fechando-me para o mundo em busca de autoconhecimento. Estava tão cansado que meus próprios pensamentos me sabotavam. Tornei-me o escuro de mim mesmo, com frases negativas e desespero. Era só tristeza e lamento.

Então, algo nasceu de mim. Correu para longe. Despareceu. Por fim, estava livre. Retomei o que havia perdido, com novos rostos, novos lugares. Tentei me adaptar à minha nova vida, respirando fundo, com novos sabores, com novas atividades. Tentei expulsar o pouco da tristeza que me restava, com poesia, com arte, com risada. Encontrei em novos amigos o que nos velhos me faltava. Parecia renascer em mim a velha felicidade.

Tentei, de diversas formas. Mas algo vazio ainda me habitava. De alguma forma, aquilo não era eu, mas nada me dava respostas. Tentei me reencontrar, mas não deu.

Foi então, naquela noite escura que vi aquele ser todo vestido de preto se aproximando de mim. Aos poucos, fui reconhecendo. Eu estava olhando para mim mesmo, com um semblante triste. Aquele meu eu-obscuro se aproximava e eu não conseguia fugir. Nem parecia ter vontade, na verdade. Ele me abraçou forte e meu peito se pôs em desespero. Ofegava forte, com o coração em ritmo acelerado. Meus olhos espantados, minha boca amarga. Tentei empurrá-lo para forte, mas ele era resistente. Então, percebi que não havia me livrado do passado.

Quando as lembranças me vieram, tudo ficou claro. No auge do meu desespero, não tentei me livrar do mal que havia me assolado. Passei por cima da tristeza, sem resolvê-la por completo. Ela se foi por um bom tempo, até acreditei estar curado.

Então, quando minha pior noite voltou, ele retornou. Quieto, calmo e forte com um abraço apertado.

Parte 1 de 2 deste conto