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O pôr-do-sol estava lindo de se ver. Estávamos os seis sentados naquela areia frente ao mar. Com alguns instrumentos, tocávamos algumas canções que mais gostávamos. Entre uma música e outra, elevávamos o que dizíamos ser uma forte amizade que nasceu só pouco depois de nascermos. E, assim, nascemos. 

Éramos muitos ali, mas meu coração insistia em ouvir apenas a você. Meio a tantos timbres descompassados era o seu silêncio que me fazia sorrir. Sentados em volta da fogueira, sobre aquela areia, a conversa me vinha falha e as respostas me saíam trôpegas, só para não parecer distraído por você. Eu sorria, meio por descuido e olhava ao redor para saber se algum olhar havia percebido. Um sorriso discreto respondia que sim. Enrubesci. 

A noite ia caindo, as estrelas surgindo e o papo ia ficando, aos poucos, mais escasso. Ficamos só nós, dois bobos, sentados sob aquele céu brilhante e generoso. O sono ia me pesando, e meu corpo pedia leito em seus braços, mas você não me deixava dormir. Nem te culpo por querer esse tempo nosso, porque sua companhia era meu carinho e o único desejo que jamais faria era querer te ver aqui sozinho. 

E não me importa quanto tempo nos resta, importa agora só o que é nosso, esse momento que partilho com você. Pois amanhã, quando o dia acabe e for a hora de partir, meu pensamento ainda será você. E não importa se ficarmos distantes, se estivermos mais longe do que Rio e São Paulo ou se pudermos apenas nos falar por áudio, ainda quero estar com você. 

Quando tocar nossa canção, dance, mesmo que desajeitado. Quando tocar nossa canção, cante, mesmo que desafinado. Há lembranças que nos fazem bem, há saudades que valem a pena. Há histórias que ainda há muito que escrever. Porque, se algum dia for pra ser, mesmo que demore alguns anos, a nós a luz haverá de ascender. 

Ideias que moldam como você

Sinceramente não. Você me vem com um papo de tentar me convencer de suas ideias e fala que devo escutar pois é a sua a visão mais certa. Você diz, sem pestanejar, que tenho muito o que escutar, por tantos anos de experiência e sabedoria, mas há algo novo que você não consegue ou não quer enxergar. Tento humilde dizer umas palavras simples, mas você me corta rápido com duas espadas, pois minha pouca idade não é o bastante.

No início, me sentava para lhe escutar. Eram palavras fortes e imponentes que eu acreditava que me levaria a algum lugar. Aos poucos, algo foi me chamando a atenção. Seu discurso muitas vezes se repetia, mas algumas ações falhavam. Ok, tudo estava certo, afinal somos humanos e o erro já é esperado.

Então, fui crescendo e me tornei um bom observador e um bom ouvinte. Extraía certas notas em sua voz que antes não percebia. Notas em tom de um convencimento que não me agradava. Aquilo se misturou com atitudes suas que para mim não combinava. Aos poucos, aquele herói se desmanchava.

Para piorar sua situação, fui percebendo que eu só era útil quando lhe agradava. Recebi inúmeros nãos sempre que almejei crescer com sua permissão. Foi duro de princípio saber que você só fingia estar ao meu lado, saber que toda luta era em vão, pois todas as minhas vitórias, por você, eram abortadas.

E em mim, criei resistências à falsa índole que você me projetou. Tornei-me difícil, mas você seguia tentando me comprar de alguma forma. Até para meus amigos destilava suas ideias venenosas, pois sabia que seria um caminho fácil a me ganhar, mas eu não sou tolo, aprendi a seguir minhas próprias ideias. Meus princípios são fortes, meu caminho é virtude, não vai ser fácil, eu sei, mas hei de lograr meus méritos.

Agora uma coisa lhe peço, por favor. Pare de atacar meu íntimo com sorrisos disfarçados de terror, não fica bem para alguém em seu nível de poder. Você pode ter visto um monte de castelos destruídos que jamais imaginei. Mas, eu sigo construindo os meus, pois sei o que é melhor pra mim ou, pelo menos, vou aprendendo, devagar, em meu tempo, pretendendo ser muito melhor do que você.