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Castelo de recordações

Era perigoso andar por esses lados afastados da cidade, numa madrugada sombria, com um céu ameaçando chover enquanto clarões de raios iluminavam o céu, mas algo me levava até lá sob alguma proposta. Não precisei vir de carro, mas a caminhada foi longa. Não possuía qualquer mapa, mas algo me dizia ser aquele o caminho. Não tinha medo.  

No fim da estrada, havia uma casa gigante, que mais se parecia um castelo. Por ali, os raios eram mais agressivos e as trovoadas me ensurdeciam. Uma parte de mim me dizia para afastar, mas outra me encorajava pra ver o que mais tinha. Um terceiro sussurro, distante, tentava me contar que aquela não era a primeira vez que estava ali. Então, me aproximei de uma porta gigante de madeira, toquei o interfone e entrei assim que a porta se abriu sozinha, rangendo. 

A sala era pouco iluminada e os outros cômodos aparentavam ser da mesma forma. No cômodo seguinte havia janelas grandes, pareciam portas flutuantes, que deixavam a luz natural dos raios entrar, revelando alguns quadros presos na parede. Com uma visão um pouco turva e com um clarão que durava menos de dois segundos, via-os rapidamente. Pareciam monstros atacando suas vítimas, visão nada agradável. 

Entrei no terceiro cômodo. Uma cadeira de madeira num pequeno cubículo, a porta pesada de ferro e nenhuma outra saída. Próximo à cadeira, uma corda e algo que lembrava uma corrente. Vi algo pequeno e estranho se mexendo no chão. Talvez, minha imaginação. 

Saí de lá, havia outro cômodo. Correntes novamente, mas presas no teto. Peguei algo no chão que parecia ter sido confeccionado em couro. Era pesado, grosso e parecia ter um metro de comprimento. E em uma última sala, água em um reservatório gigante. 

Mais alguns passos e entro na cozinha. Lá já era melhor iluminado. Vejo uma mesa grande, sozinha, cheia de comida. Como adivinharam, eu estava com fome! Sento na ponta da mesa, arranco a coxa de um frango assado e começo a comer. Bebo um pouco de vinho, engulo uma uva, como um pouco de milho. A fome era tanta que quase não percebo algo gelado tocar meu ombro. Não dá tempo de virar, estou no chão, tossindo forte, sentindo a traqueia se fechar. Aos poucos vou perdendo o ar. Sou levantado bruscamente e levado contra a parede. Minhas costas sentem a dureza dos blocos de pedra e são empurradas contra ela, cada vez mais forte. Mal consigo ver o rosto do indivíduo. Minha condição física quase não permite, mas sou capaz de jurar que vi uma máscara escondendo sua identidade. 

Ele me solta e vai em direção oposta. Parece que vai em busca de algum objeto, disposto a arrancar minha própria vida. Tento me mover engatinhando, mas é difícil se arrastar naquele estado. A respiração cada vez mais difícil. Vomito, era o único jeito. Aos poucos, vou recuperando meu ar e saio atropelando meus próprios passos. Ele percebe e vem correndo em minha direção, segurando seu facão que ainda não estava totalmente afiado. Consigo energia de onde nem sei e vou correndo, até chegar ao salão principal do que se parecia um castelo. A porta estava fechada. Ele adentra o cômodo por outro lado e me olha pacientemente. Estou assustado, suando frio, imaginando o que poderá acontecer e por que tudo aquilo comigo. Ele continuava parado, observando meu arrepio. 

Mas, talvez, a cena mais assustadora que vi naquele dia, foi a que surgiu diante de mim quando uma festa de raios iluminou o céu naquela noite. Deixando totalmente clara aquela sala, finalmente pude observar melhor os quadros decorados naquele lugar. Aquelas salas que antes visitei, eram todas de tortura. Uma pessoa estava amarrada na cadeira com aquela corda, pernas presas pelas correntes e ratos próximos. Era uma pessoa de corpo esquelético e uma cara sempre assustada. Na outra, ela era açoitada por um chicote, de pé, mãos amarradas por correntes. Na última, afogada naquele tanque de água da outra sala. 

Era perceptível que aquela era uma casa de torturas, era perceptível que havia anos que aquela pessoa era torturada. Era provável que aquela tivesse sido a última vítima do monstro que me perseguia, e que seria eu o próximo. Olhei as fotos mais uma vez e vi o torturador e logo olhei para meu perseguidor, procurando certas semelhanças. Então, reparei seus braços marcados por correntes, reparei seus pés marcados por correntes. Reparei sua fisionomia esquelética. Quando dei por mim, estava olhando as fotos na parede mais uma vez. O monstro não se parecia nem um pouco com o meu perseguidor. O monstro, na verdade, era totalmente fiel à minha semelhança. 

É fato

Você acendeu em mim uma chama tão ardente que não posso apagá-la. Tento esquecê-la, manter-me distraído e entender que tudo acabou, mas meu coração não aceita.

Tento te procurar, mas sei que não vou mais te encontrar. Aquele sentimento que aqui ficou não quer se apagar. Olho para os lados e não sei onde está. Por que tem que ser assim? Por que partiu de mim e deixou uma marca que não quer se apagar?

O amor foi tão forte que fica difícil compreender que ele se foi. Não faz sentido minha vida sem você. Tento me manter distraído, então me lembro que quem me mantinha distraído era você.

É tão difícil dizer adeus a esse sentimento que não desencana. Ei, sai de mim! Sai de mim, sentimento que me machuca. Eu sei que esse amor eu não posso mais ter, então, porque ele insiste em habitar dentro de meu ser?

Eu sei, é fato que tudo se acabou. Eu olho as notícias na TV, no jornal e nas páginas da internet e vejo que você se foi para sempre. Não, você não se foi. Você estará para sempre em mim, estará para sempre em meu coração.

A canção que você compôs para mim, eu jamais a esquecerei. Pois, onde quer que esteja, sua luz caminhará junto a meus passos, mesmo que você não mais regresse para me dar um pouco de felicidade. Porque sei que essa chama jamais se apagará. É fato!

Ei, por que tem que ser assim?

Homenagem a Cristiano Araújo.

What happened here?

Ainda vou entender o que aconteceu aqui, nessa entrevista.