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O pôr-do-sol estava lindo de se ver. Estávamos os seis sentados naquela areia frente ao mar. Com alguns instrumentos, tocávamos algumas canções que mais gostávamos. Entre uma música e outra, elevávamos o que dizíamos ser uma forte amizade que nasceu só pouco depois de nascermos. E, assim, nascemos. 

Éramos muitos ali, mas meu coração insistia em ouvir apenas a você. Meio a tantos timbres descompassados era o seu silêncio que me fazia sorrir. Sentados em volta da fogueira, sobre aquela areia, a conversa me vinha falha e as respostas me saíam trôpegas, só para não parecer distraído por você. Eu sorria, meio por descuido e olhava ao redor para saber se algum olhar havia percebido. Um sorriso discreto respondia que sim. Enrubesci. 

A noite ia caindo, as estrelas surgindo e o papo ia ficando, aos poucos, mais escasso. Ficamos só nós, dois bobos, sentados sob aquele céu brilhante e generoso. O sono ia me pesando, e meu corpo pedia leito em seus braços, mas você não me deixava dormir. Nem te culpo por querer esse tempo nosso, porque sua companhia era meu carinho e o único desejo que jamais faria era querer te ver aqui sozinho. 

E não me importa quanto tempo nos resta, importa agora só o que é nosso, esse momento que partilho com você. Pois amanhã, quando o dia acabe e for a hora de partir, meu pensamento ainda será você. E não importa se ficarmos distantes, se estivermos mais longe do que Rio e São Paulo ou se pudermos apenas nos falar por áudio, ainda quero estar com você. 

Quando tocar nossa canção, dance, mesmo que desajeitado. Quando tocar nossa canção, cante, mesmo que desafinado. Há lembranças que nos fazem bem, há saudades que valem a pena. Há histórias que ainda há muito que escrever. Porque, se algum dia for pra ser, mesmo que demore alguns anos, a nós a luz haverá de ascender. 

A novela de meus sonhos

Com a cara toda coberta de protetor, usando um chapéu estranhamente grande pra me proteger do sol, sujando meus pés naquela areia quente, despreocupando minha mente com aquele cenário maravilhoso de imenso azul onde avisto aquele belo corpo bronzeado se banhando naquelas águas salgadas.

Silenciosamente, vou te amando em minha mente, imaginando nosso casamento e pensando em vários nomes para nossos três filhos, enquanto você passa caminhando com sua prancha. E você nem me olha, como das outras vezes.

O corpo quente e a cabeça mais ainda, vendo a mesma imagem de hoje cedo. Na TV, passa uma comédia romântica em que estamos eu e você. Eu ainda nem sei seu nome, nem se você é herói ou vilão, mas já tenho toda uma imagem perfeita construída, num drama muito bem detalhado com o velho final clichê.

Mas só depois que consigo pegar num sono é que te vejo em meus sonhos. Você me envolve em seus braços e meu mundo fica de cabeça pra baixo. Sinto sua respiração forte em meus pescoços antes de seus lábios poderem tocá-lo, pois não é a primeira vez que te vejo por aqui, nem a primeira vez que te desejo.

E quando acordo, só eu consigo sentir seu cheiro, só eu posso ver sua sombra se movendo pela janela ou seu reflexo me abraçando no espelho, só eu posso sentir sua pele tocando a minha, quando na verdade nem aqui algum dia você pudesse imaginar estar, pois só em meus sonhos que podemos estar juntos, enquanto acordado vivo num sonho eterno.

Hoje  estou novamente no mesmo pedaço de areia quente, esperando você aparecer no imenso azul com sua prancha prestes a surfar. Já ligo meus pensamentos no final do último capítulo para dar seguimento próximo. A trilha sonora começa a tocar enquanto me perco em nossa vida, mas você simplesmente não aparece e uma tela sem sinal fica vagando. Essa telenovela precisou ser interrompida para sempre, pois não poderia continuá-la sabendo que nunca mais te veria.